sexta-feira, 7 de maio de 2010

"CAMINHOS CRUZADOS" CAP. 5

CAP. 5

O RESIDENTE ESTAVA TERMINANDO DE FAZER AS SUTURAS NO ABDOME DO PACIENTE. PAULO JÁ ESTAVA RETIRANDO AS LUVAS, O GORRO E O RESTANTE DO UNIFORME CIRURGICO AUXILIADO PELA ENFERMEIRA.
ELE ERA UM HOMEM MORENO, COM CABELOS CRESPOS E NEGROS E UMA BARBA SEMPRE MUITA BEM APARADA. SEU PORTE O FAZIA PARECER MUITO MAIS ALTO DO QUE REALMENTE ERA. NA VERDADE ELE NÃO CHEGAVA A SER BONITO, MAS EXALAVA UM CHARME QUE O FAZIA ESTAR SEMPRE RODEADO DE MULHERES. TALVES FOSSE O SEU PODER. AOS TRINTA E CINCO ANOS ELE ERA UM CIRURGIÃO BASTANTE EXPERIENTE E NINGUEM TINHA DUVIDAS DE QUE NO FUTURO ELE OCUPARIA O CARGO DE CHEFE DO SERVIÇO DE CIRURGIA.

‘-E ENTÃO!?’ O QUE VOCE ACHOU?' PERGUNTOU O CIRURGIÃO.
'-MUITO INTERESSANTE. NÃO PARECE SER DIFÍCIL, MAS É PRESCISO HAVER UM DOMINIO DA TECNICA.'
'-EXATAMENTE. O PROCEDIMENTO NA VERDADE É BASTANTE SIMPLES. MAS SE VOCE NÃO FOR PRECISO PODE CAUSAR UM ESTRAGO.'

OS DOIS MÉDICOS FORAM PARA O VESTIÁRIO. PAULO TROCOU DE ROUPA SE DESPEDIU DO RESIDENTE E ESTROU NO REPOUSO MÉDICO. TRES OUTROS CIRURGIÕES CONVERSAVAM ANIMADAMENTE QUANDO ELE ENTROU.

'-ENTÃO!? HEIM!? NÃO VÃO ME CUMPRIMENTAR? A PROPÓSITO EU GANHEI A APOSTA.' FALOU PAULO EXULTANTE.
'-O QUE? NÃO ME DIGA QUE VOCE...' PERGUNTOU EXCITADO O MEDICO RUIVO SE LEVANTANDO.
'-É ISTO AÍ, AMIGÃO. COMI A ENFERMEIRA.'
'-SEU SACANA. COMO É QUE VOCE CONSEGUIU?' PERGUNTOU O CIRURGIÃO BARRIGUDO E DE CABELOS GRISALHOS.
'-É O MEU CHARME! É O MEU CHARME!'
'-QUANDO? COMO? CONTE OS DETALHES.!' PERGUNTOU O MEDICO NEGRO SENTADO NO SOFÁ.
'-FOI ONTEM A TARDE NO FIM DO PLANTÃO. NA VERDADE EU SABIA QUE ELA ESTAVA A FIM, DESDE O COMEÇO...'
'-E COMO É QUE FOI?'
'-PUXA, ELA É MUITO BOA! FOI FANTASTICO....'
PAULO IRIA COMEÇAR A CONTAR OS DETALHES QUANDO FOI INTERROMPIDO.
'-VOCES SÃO UNS PORCOS!' EXCLAMOU INDIGNADO O MEDICO LOURO QUE ESTIVERA SENTADO NUM CANTO TENTANDO SE CONCENTRAR NA LEITURA DE UM ARTIGO SOBRE APENDICECTOMIA EM CRIANÇAS.
JEAN CARTER ERA CIRURGIÃO PEDIATRICO E HOMOSSEXUAL ASSUMIDO. ELE SEMPRE SE INDIGNAVA COM A CONVERSA DE SEUS COLEGAS. COMO PODIAM SER TÃO CRETINOS. E ELE CONHECIA REBECA, POBRE MULHER. APAIXONADA POR UM CANALHA.
'-ORA, ORA. "ELE" FICOU SENSIBILIZADO. MEU QUERIDO SE VOCE TIVESSE A CHANCE DE CONHECER ESTA ENFERMEIRA, APOSTO QUE MUDARIA SUAS PREFERANCIAS SEXUAIS. ELA É UM VULCÃO.' IRONIZOU PAULO, E OS DEMAIS FIZERAM CORO COM UMA GARGALHADA SONORA.
'-VOCE ME ENOJA. EU TENHO PENA DA SUA MULHER, QUE É UMA PESSOA MARAVILHOSA E MERECIA ALGO MELHOR.'
'-NÃO SE ATREVA A FALAR NA MINHA MULHER, SEU VIADO. O MEU RELACIONAMENTO COM REBECA ESTA MUITO ACIMA DISTO TUDO!' ESBRAVEJOU IRRITADO O CIRURGIÃO.
'-CALMA. CALMA. NÓS ESTAMOS EM UM HOSPITAL. PAULO DEIXE ISTO DE LADO. VAMOS TOMAR UM CAFÉ QUE DAQUI A POUCO TEREMOS UMA CIRUGIA GRANDE PELA FRENTE,' INTERVEIO O MÉDICO RUIVO PUXANDO O BRAÇO DE PAULO E SAINDO DO REPOUSO MÉDICO. OS OUTROS O ACOMPANHARAM.
APENAS O CIRURGIÃO PEDIATRICO PERMANECEU NA SALA. SENTOU-SE E TENTOU SE CONCENTRAR NO SEU ARTIGO. MAS A LEMBRANÇA DA DISCUSSÃO QUE ACABARA DE ACONTECER AINDA PAIRAVA EM SUA MENTE. QUE DROGA! ELE ERA A MAIS INFELIZ DAS CRIATURAS. NASCERA HOMEM, NATURALMENTE DEVERIA SE SENTIR ATRAIDO POR MULHERES. MAS... TINHA QUE SE INTERESSAR POR ESTES ANIMAIS. PORQUE? SERIA MUITO MAIS FÁCIL SE APAIXONAR POR ALGUÉM DO SEXO FEMININO. AS MULHERES ERAM MUITO MAIS SENSIVEIS, SINCERAS, AMIGAS. PORQUE ELE TINHA QUE SEGUIR O CAMINHO MAIS DIFICIL? SEM FALAR NO PRECONCEITO QUE TINHA QUE ENFRENTAR. OS OLHARES DE REPROVAÇÃO. OS COCHICHOS QUANDO ELE PASSAVA. ERA UM CAMINHO DOLOROSO, MAS ELE NÃO TINHA ESCOLHA. ELE SABIA QUE NÃO ERA O ÚNICO MEDICO HOMOSSEXUAL NO CORPO CLÍNICO. MAS FORA O PRIMEIRO E QUASE QUE O ÚNICO A ASSUMIR ABERTAMENTE ESTA OPÇÃO.
NÃO FORA FÁCIL TOMAR ESTA ATITUDE. MAS ESTAVA AINDA MAIS DIFICIL MANTER AS APARENCIAS DE UM HETEROSSEXUAL. PRINCIPALMENTE NESTE AMBIENTE ONDE OS CIRURGIÕES PARECIAM BARBAROS DO SECULO PASSADO QUE USAVAM AS MULHERES COMO UM OBJETO QUALQUER. ELE HAVIA SE SENTIDO ALIVIADO QUANDO PODE DEIXAR DE LADO AQUELA MÁSCARA. NÃO TINHA ILUSÕES SABIA QUE POUCAS PESSOAS NO HOSPITAL GOSTAVAM DELE, REBECA ERA UMA DELAS. A MAIORIA DOS MEDICOS E ENFERMEIROS SUPORTAVA-O POR SUA COMPETENCIA. ISTO NINGUEM PODIA NEGAR ELE ERA UM PROFISSIONAL EXTREMAMENTE COMPETENTE.

REBECA McGROUW ERA PEDIATRA NO HOSPITAL UNIVESITÁRIO E PROFESSORA ADJUNTA DE PEDIATRIA NA FACULDADE DE MEDICINA. ELA E AMANDA ERAM GRANDES AMIGAS SE CONHECIAM DESDE A FACULDADE. REBECA ESTAVA NO SEGUNDO ANO DE ENFERMAGEM QUANDO DESCOBRIU QUE NÃO ELA AQUILO QUE QUERIA. ELA QUERIA UM CONTATO MAIS DIRETO COM OS PACIENTES, E RESOLVEU PRESTAR VESTIBULAR PARA MEDICINA. QUANDO FOI APROVADA ESTAVA REALIZANDO UM SONHO.
ELA TINHA AGORA TRINTA E TRES ANOS. ERA UMA MULHER RUIVA COM CABELOS LONGOS E CACHEADOS. A PELE CLARA COM SARDAS LHE DAVA UM AR DE MENINA SAPECA E OS GRANDES OLHOS VERDES DESENHAVAM UM BONITO PERFIL. TINHA O CORPO BEM DEFINIDO QUE COSTUMAVA PROVOCAR SUSPIROS NOS HOMENS QUANDO PASSAVA. ASSIM COMO AMANDA ELA FAZIA PARTE DE UMA TURMA DE JOVENS MÉDICOS QUE HAVIAM SIDO ADMITIDOS NO HOSPITAL NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS. ERA UM GRUPO PROMISSOR QUE COM CERTEZA NO FUTURO ESTARIA OCUPANDO OS CARGOS DE DIREÇÃO.
REBECA E PAULO SE CONHECERAM NA FACULDADE. LOGO NO PRIMEIRO ANO. ELE ERA MONITOR DO CURSO DE ANATOMIA E ELA SE APAIXONOU. O CASO FOI UMA PAIXÃO TÓRRIDA NOS SEIS PRIMEIROS MESES, DEPOIS FOI CAINDO NA ROTINA ATÉ SE TORNAR UM RELACIONAMENTO HABITUAL. ESTAVAM JUNTOS HÁ QUASE DEZ ANOS. DURANTE ESTE PERIODO ELES HAVIAM SE SEPARADO E RECONCILIADO, INUMERAS VEZES. HÁ CINCO ANOS ELES MANTINHAM UM “CASAMENTO EM CASA SEPARADAS”. NÃO ERA O QUE REBECA HAVIA SONHADO, MAS PAULO A CONVENCERA DE QUE ERA O IDEAL. ELES MANTERIAM SUA INDIVIDUALIDADE, NÃO HAVERIA O RISCO DO RELACIONAMENTO CAIR NA ROTINA E SEMPRE QUE SE ENCONTRASSEM SERIA COMO SE AINDA FOSSEM NAMORADOS. PARA PAULO ERA UMA SITUAÇÃO BASTANTE COMODA. ELE PODIA SAIR COM TODAS AS MULHERES SEMPRE QUE QUISESSE E AINDA CONTAR COM O CARINHO E O AMOR DE REBECA.
ELA TINHA IDEÍA DAS ESCAPULIDAS DE PAULO, MAS APESAR DE SER UMA MULHER CIUMENTA ALIMENTAVA UMA PAIXÃO QUASE DOENTIA POR ELE E PREFERIA FINGIR QUE NADA ESTAVA ACONTECENDO A CORRER O RISCO DE PERDÊ-LO. AQUILO ERA MOTIVO DE MUITAS BRIGAS COM A AMIGA. AMANDA NÃO SUPORTAVA VÊ-LA IMPLORANDO AMOR. ELA SABIA QUE A AMIGA PODERIA TER QUALQUER HOMEM A SEUS PÉS. DESDE O ÍNICIO AMANDA NÃO HAVIA SIMPATIZADO COM PAULO. ELE TINHA CARA DE CAFAJESTE. ELA TINHA CERTEZA DE QUE ELE A FARIA SOFRER. MAS REBECA NÃO LHE DERA OUVIDOS. E SE ENTREGOU A AQUELE RELACIONAMENTO FADADO AO FRACASSO.
AQUILO A REVOLTAVA. DURANTE MUITO TEMPO AMANDA COMBATEU ARDUAMENTE O RELACIONAMENTO, TENTANDO CHAMAR A AMIGA À RAZÃO. CONTANDO-LHE DE CADA TRAIÇÃO DE QUE TOMAVA CONHECIMENTO. MAS PERCEBEU QUE ERA INÚTIL. REBECA SEMPRE TINHA UM DESCULPA PRONTA PARA TUDO. NÃO ERA VERDADE PORQUE NA MESMA HORA ELE ESTAVA EM CIRURGIA. SENDO VERDADE, ELA TINHA CERTEZA DE QUE A MULHER O HAVIA SEDUZIDO. ELE ERA HOMEM, E... INFIDELIDADE É COISA DE HOMEM OU ELA NÃO O ESTAVA SATISFAZENDO NA CAMA. ENFIM, TODAS AS SUAS INVESTIDAS SOMENTE CONTRIBUIAM PARA AUMENTAR O SOFRIMENTO DE SUA AMIGA. ENTÃO ELA TOMOU UMA RESOLUÇÃO. NÃO SE ENVOLVERIA MAIS COM ESTA SITUAÇÃO. SE REBECA ESTAVA SATISFEITA, MESMO SABENDO DE TUDO NÃO SERIA ELA A JULGAR. LIMITAVA-SE AGORA A ESTAR SEMPRE DISPOSTA A OUVIR A AMIGA E CONSOLÁ-LA NAS SUAS CRISES, E ALGUMAS VEZES A RECEBIA EM SEU APARTAMENTO QUANDO ELES BRIGAVAM. MAS PROMETEU A SI MESMA NUNCA MAIS CONTAR NADA A REBECA. TRATAVA PAULO COM UMA INDIFERENÇA CORTEZ EM CONSIDERAÇÃO A AMIGA, MAS EVITAVA ACOMPANHÁ-LOS EM QUALQUER PROGRAMA.

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