domingo, 31 de julho de 2011

DEVERES, SONHOS E PAIXÕES - Capitulo 2

Capitulo 2

O gingado daqueles quadris povoou os seus sonhos durante toda a madrugada e quando ele abriu os olhos a primeira imagem que veio a sua mente foi àquela boca larga com lábios carnudos e um sorriso discreto e contido que fazia uma covinha se desenhar no canto esquerdo da face. Ele ganhara o direito de beijá-la e estava ansioso por cobrar sua dívida, queria sentir a textura daqueles lábios e a maciez de sua língua. Estendeu a mão para o criado ao lado da cama e pegou o guardanapo onde ela rabiscara o número do telefone, sabia que ela o fizera por impulso, percebera pelo seu comportamento que ela era tímida, não era uma atitude habitual, mas também não passou despercebido que ela se sentia atraída por ele tanto quanto ele ficara por ela. Aquele pensamento foi suficiente para dissipar qualquer dúvida. Sim, ele iria ligar.
Enquanto sentia a água fria molhar a sua pele ele recordou o contato que tivera na noite anterior. Ela lhe chamou a atenção tão logo adentrou no salão do pub, os olhos assustados correram todos os lados procurando aceitação e tentando afastar qualquer sinal de reprovação, então ela caminhou tentando parecer descontraída diretamente para o balcão e se sentou. Ficou pensando que embora tivessem conversado a noite toda não sabia seu nome. Começou a imaginar qual seria, e perdeu-se neste devaneio. Ao final da tarde de Domingo pegou o número rabiscado no papel e discou.
'-Oi!'
Não foi difícil para Julia reconhecer aquela voz, ela ressoara em sua mente desde que saíra do pub e povoara sua noite de sonhos. Mesmo assim ela se assustou e uma estranha náusea se formou no seu estomago, não pudera acreditar que aquilo estava acontecendo. Tinha esperança de ele fosse deixar pra lá, fora apenas uma bobagem, um flerte descontraído com uma cliente tímida e solitária... Mas, uma voz bem lá no fundo informou-a de que ela estava esperando ansiosamente por aquele telefonema e mais uma vez ela se assustou com a euforia que lutava contra o medo em sua mente.
'-Oi, você esta ai?' Ele voltou a perguntar.
'-Ah! Desculpe, eu... Eu... Não... '
'-Não acreditou que eu ligaria? Eu disse que cobraria minha dívida'.
'-É eu não esperava... ' Mas o tom de sua voz lhe dizia o contrario
'-Não mesmo? Você me pareceu interessada ontem... ' Ele deixou a frase no ar.
Mais uma vez ele estava flertando com ela e novamente ela percebeu o turbilhão em sua mente, medo e desejo... A distância fez a ousadia vencer a guerra.
'-Como posso querer algo, sem mesmo saber como se chama?'
'-Fácil resolver muito prazer Matheus e você?'
'-Julia'.
'-Um lindo nome e combina com você'.
'-Eu também gosto'.
'-Agora que já sabe meu nome eu quero o meu pagamento'.
'-Beijos'. Ele escutou o som estalado de um beijo do outro lado da linha.
'-Pronto, está pago, eu não disse que costumava pagar minhas dívidas?'
'-Não, não, não. Assim não vale, não foi este o trato'. Ele estava se divertindo com a força que ela estava fazendo para conter o desejo evidente em sua voz.
'-É claro que vale. Qual foi o trato? Um beijo, não especificamos como seria. Está pago!' Agora era ela que estava se divertindo com o desapontamento dele.
'-Não é justo, não por telefone... Você e uma má pagadora vou ter que recorrer a defesa do consumidor'.
'-Porque não tenta um acordo, primeiro?' No instante em que ela terminou a frase, se deu conta do que havia dito. E agora? Não havia mais volta, estava flertando abertamente com ele.
'-Que tal um sorvete? Está tão quente!...'
'-Um sorvete... ' Ela hesitava
'-Te espero na praia em uma hora, Fruit ok!'
Ele não demorou a se sentar na mesinha colocada no calçadão em frente ao agradável e elegante café. O ambiente propositadamente lembrava Viena ou a Riviera Francesa, as mesas redondas e as cadeiras confortáveis, a brisa suave e o cheiro de maresia, este ambiente agradável ficava completo com o brilho do sol no fim de tarde. Era sempre prazeroso tomar um expresso ou saborear o inigualável sorvete de frutas observando o mar. O deque era um local propositadamente estruturado para receber casais apaixonados e tudo ali girava em torno desta clientela especial, crianças não circulavam por ali e a noite o ambiente enchia-se de uma penumbra somente quebrada pela luz da lua e pelas velas que iluminavam o jantar ao som de violinos.
Julia sentiu-se amedrontada tão logo desligou o telefone e se deu conta do que tinha feito. Iria se encontrar com um homem que mal conhecia e ele iria querer beijá-la. Não podia fazer aquilo! É claro que fora coagida! Ele a envolvera em seu jogo de sedução, primeiro deixando-a tonta com todo aquele wisk irlandês, depois com aquela voz sedutora ao telefone... E ela caíra na armadilha... Caíra? Quem disse que ela tinha que ir? Podia simplesmente não aparecer... Isto parecia sensato... Mas, e se fosse? Qual seria o problema? Estava sozinha, havia rompido com Rodrigo há um mês... Um mês, não seria cedo? E qual seria o tempo certo? Perguntou-se. Uma vozinha tímida bem lá no fundo respondeu 'o tempo exigido por seu coração para recomeçar'.
Imediatamente o som daquela voz sensual, o brilho daqueles olhos e o sorriso encantador vieram a sua mente fazendo um fogo se acender em seu ventre. Ela girou a torneira do chuveiro até o final e se enfiou embaixo da água fria na esperança de que aquela ducha gelada diminuísse o calor que sentia na mente e no corpo com aquela lembrança. Mas foi em vão... E quando terminou a ducha e se enfiou no closet escutou aquela vozinha no fundo da sua mente, 'você já esta pronta para tentar'... E embora ainda estivesse insegura sabia que iria se encontrar com ele...
Ele estava tomando um Gim-Tônica e começou a pensar se ela viria já se passara mais de uma hora... Lembrou-se que ela parecera tímida e insegura, será que tinha sido muito arrojado? E se a tivesse amedrontado? Ela era uma mulher que exigia tato... Mas ainda assim recordou-se que ela havia flertado com ele e parecera estar atraída, e também se insinuara ao telefone... Começou a se sentir desconfortável, estava realmente querendo conhecê-la, ficara encantado desde o primeiro minuto... Mas também estava se sentindo ferido em seu orgulho, nunca antes uma mulher resistira ao seu flerte...
Enquanto ele sorvia o último gole do seu Gim-Tônica sentiu um alivio imenso e uma euforia até então desconhecida invadi-lo quando percebeu a chegada de Julia. Instintivamente aquele sorriso sedutor se espalhou em seu rosto e um brilho há muito apagado reacendeu-se em seu olhar enquanto observava ela caminhar em sua direção, linda! Realmente linda em seu vestido de verão de um degrade vermelho que realçava a pele clara e os belos olhos azuis. Ela caminhou em sua direção e também abriu um sorriso, no entanto o sorriso dela era tímido e envergonhado. Quando ele se levantou para recebê-la e se aproximou pode sentir o agradável perfume de seus cabelos recém lavados e o cheiro da fragrância em seu corpo...
'-Oi, esta uma linda tarde não?'
'-Agora que você chegou esta maravilhosa!'
Ele tomou-a pela mão e a conduziu para a mesa em que estivera sentado, e como era seu costume, ela se deixou levar.

***

Quando acordou no meio da noite, ela levou algum tempo para perceber onde estava. Somente quando seus olhos se acostumaram a penumbra reconheceu o quarto. Sentou-se na cama, completamente nua e abraçou os joelhos com as mãos. Por mais que tentasse negar uma alegria imensa e uma sensação de prazer, jamais, experimentada antes inundavam o seu corpo. Aquele pensamento voltou a pairar na sua mente 'o que havia feito? Mal o conhecia?'... Mas a sensação de prazer era mais forte e aquela onda de alegria novamente a inundou enquanto ela contemplava o homem adormecido ao seu lado.
Ele havia lhe mostrado a liberdade, definitivamente ele a libertara, sabia agora que estava pronta para realizar a mudança, sentia-se ainda insegura, mas estava fortalecida, sabia depois do que acontecera esta noite que era capaz! Havia vencido este obstáculo, dera um passo a frente, não era uma mudança de atitude, não iria sair por ai dormindo com todos os homens interessantes que cruzassem seu caminho, mas estava mais corajosa, valorizando mais as palavras do seu coração, aprendera a escutá-lo e a colocá-lo no centro da sua vida.
Ele era o seu herói. Observou fascinada, o belo homem adormecido ao seu lado. As costas largas e a pele morena contrastavam com a sua que era muito clara. E enquanto este pensamento invadia sua mente como uma tempestade, sentiu uma imensa onda de ternura inundar todo o seu pensamento como a bonança depois do turbilhão... Fez um tremendo esforço para conter as lágrimas que ameaçavam aflorar e foi só com muita dificuldade que conseguiu contê-las.
Levantou-se sorrateiramente esgueirando-se da cama para não despertá-lo, sabia que tinha que dar o fora dali antes que Matheus despertasse ou não conseguiria resistir ao seu charme... Não conseguiria? Ou será que não queria? Não conseguia pensar racionalmente sua cabeça girava confusa... Vestiu-se e deixou o apartamento. Os sapatos na mão, os cabelos desalinhados e as faces coradas de uma fêmea satisfeita no seu instinto mais primitivo. Enquanto caminhava pela praia sentindo a brisa suave e molhada acariciar o seu rosto esbarrou em alguns casais adormecidos nos braços um do outro após o sexo, como ela estivera até poucos minutos atrás.
Quando ela apreciava deslumbrada o nascer do sol, saboreando um delicioso café da varanda de seu apartamento, percebeu o que a intrigava... Como poderia ter sentido como familiares as sensações que ele lhe despertara? Não se conheciam? Eram estranhos? Agora sabia, tinha sonhado com isto, era o seu sonho erótico, mas desta vez fora real... Sentira na carne todas aquelas sensações, todo aquele prazer, sentira-se como uma deusa da luxúria, descobrira em si mesmo uma sensualidade que desconhecia... Era algo glorioso, podia ser uma loba na cama... E... Espantoso!? Aquilo não a deixava envergonhada ou constrangida, sentia-se poderosa, podia dominar o mundo, tudo por causa de uma transa fenomenal!

***

Matheus foi acordado pelo vazio na sua cama. Quando ele se moveu sonolento e estendeu a mão para tocá-la só pode sentir o vazio do lençol de cetim. Abriu os olhos lentamente tentando se proteger da luminosidade que insistia em penetrar pela fresta da varanda e murmurou o nome que era como um doce maná em seus lábios.
'-Julia. '
Como não recebeu resposta resolveu se levantar, o aroma suave de café indicava que ela estava na cozinha. Era maravilhoso, dormir com uma mulher fantástica, ela era um furacão na cama, completamente surpreendente... No inicio tímida, recatada até que ele conseguiu tocá-la, acertou aquele ponto, despertou a sensualidade que ela insistia em esconder e eles haviam feito sexo como ele nunca experimentara antes, nunca sentira tanto prazer em toda sua vida, e ele já estivera com muitas mulheres... Era um amante habilidoso e sabia dar e receber prazer, mas nunca antes sentira aquilo. Era como ser tragado para o meio de um furacão, enlouquecedor. Tinha a sensação de que seu corpo fora feito somente para aquele ato de amor, tinha sido feito para possuí-la. E ele o fizera de maneira frenética, selvagem, havia perdido todo o controle sobre seus movimentos. Quando gozaram pela primeira vez, ele ficou atordoado, a violência do que haviam feito deixou-o apreensivo ele sondou-a com medo de tê-la machucado no ato.
A resposta de Julia o surpreendeu. Puxou-o para si e envolveu-o num abraço apertado, buscou a sua boca como se aquilo fosse o ar necessário para sobreviver, sentiu as unhas da mulher embaixo de seu corpo cravarem-se em suas costas e o chamado frenético como se ela fosse uma cadela no cio. Era como ser sugado para um sonho erótico, e foi impossível não oferecer o que ela queria, mais uma vez mergulhou dentro dela e deixou toda a razão desaparecer da sua mente, era instinto puro, desejo incontrolável. Achou que poderia enlouquecer, queria prolongar a delicia de sentir aquele corpo estremecer sob o seu, de acariciar a pele daquela mulher e de beijá-la, queria olhar dentro dos seus olhos, mas ela tinha fome, urgência, febre de ser possuída por ele e não lhe permitiu hesitar. Penetrou-a bem fundo e ela o recebeu novamente como se esperasse por ele toda a eternidade. E quando estavam se aproximando do êxtase, ele se afastou um pouco e segurou-a pelos cabelos, queria olhar bem dentro dos seus olhos, queria surpreender o brilho do prazer que ele lhe proporcionava, aquilo o fazia sentir poderoso como um garanhão. E ela não o decepcionou, seus olhos irradiaram um brilho único e ela gemeu alto enquanto elevava os quadris para recebê-lo e aumentar o prazer mútuo.
Resvalaram lentamente para o sono, ofegantes, inundados de suor e de prazer. Julia exibia um sorriso satisfeito no rosto quando adormeceu. Ele permaneceu acordado por alguns momentos, admirando a bela mulher em seus braços. Não se cansava de mapear cada detalhe do seu rosto, cada curva do seu corpo, queria gravar em sua mente, em sua alma. Aspirou o perfume suave dos cabelos desgrenhados, e sentiu as pálpebras pesarem e o esforço do ato de amor se abater sob os músculos fortes. Adormeceu. E agora ela estava ali, na sua cozinha, terna fazendo café...
‘-Júlia’. Ele voltou a chamá-la
A sensação de prazer e de ternura se transformou em desapontamento amargo quando ele verificou que estava sozinho. O aroma que o iludira vinha do apartamento vizinho. Correu até o banheiro, ela devia estar tomando banho... Mais uma vez sentiu uma náusea revirar suas entranhas. Sentiu-se fraco, precisou segurar-se na parede do banheiro, e escorregou lentamente para o chão. Percebeu a ira, misturando-se com a sensação do orgulho ferido. Mas no meio destes sentimentos um enorme vazio, uma tristeza inigualável e uma sensação de desamparo. Como? Por quê? Ela havia sentido prazer também? Ele sabia, pelos gemidos na hora do gozo, pelo sorriso de felicidade em seus lábios quando ela adormeceu em seus braços... Fez um esforço gigantesco, para conter a náusea que subia pelas suas entranhas e para afastar as garras que apertavam o seu peito como um torno poderoso. Vasculhou a casa, procurou em todos os cantos, nada. Nem um bilhete, um recado rabiscado com batom no espelho... Nem um muito obrigada!
Entrou embaixo do chuveiro e abriu a torneira até o final, o jato de água gelado, pareceu aliviar um pouco a dor que estava sentindo. Sentia-se humilhado. Estava ferido no orgulho, sempre se acostumara a ter as mulheres rastejando aos seus pés. Era ele que sumia sorrateiramente no meio da noite quando o interesse era puramente sexual. Jamais uma mulher havia abandonado a sua cama, não se ele não a tivesse gentilmente convidado a sair. Praguejou contra a sua imagem refletida no espelho, colocando para fora nas palavras o caldo que era como uma mistura amarga de dor e raiva que fervilhava no seu íntimo.
Caíra na sua armadilha, ela tinha armado direitinho, e ele caíra como um patinho. Quantos homens ela havia enganado com aquele disfarce, timidez! Recato! Uma mulher com aquela performance na cama, só podia ser experiente, com toda certeza já tivera inúmeros amantes. Aquele pensamento fez a sua cabeça doer, ao mesmo tempo em que o seu peito era trespassado por uma pontada aguda. Sentia-se humilhado, fora um idiota! E estava sentindo ciúmes!
'-Ridículo ciúmes! Eles nem mesmo se conheciam, fora somente sexo. Desde o inicio a atração entre eles fora puramente erótica'. Bem lá no fundo uma vozinha abafada quis gritar, 'encantamento', e ele tratou de afastá-la rapidamente.
Fora somente sexo, e que sexo! Nunca tinha experimentado uma trepada tão gloriosa como aquela! Se este era o preço a pagar ponderou que valia a pena, ele fora habilmente atraído para sua teia de sedução.
'-Julia, Julia. Você é uma mulher excepcionalmente deliciosa'.
Sua cabeça estava doendo, uma sensação desconfortável que era agravada por todos aqueles pensamentos. Ele estendeu a mão para fora do boxe e pegou uma aspirina, enfiou-a na boca, mastigou e engoliu um bocado da água do chuveiro. Sentou-se no chão do boxe e deixou o líquido gelado cair como uma cachoeira sobre sua cabeça e escorrer pelo seu corpo, ele poderia lavar a angústia e a amargura que estava sentindo.
Algum tempo depois enquanto aguardava distraído o café que sairia da sua máquina de expresso e vigiando o ponto das torradas, ele não pode conter a manifestação daquele pensamento. Ela se mostrara tímida, reservada, percebera uma inconfundível insegurança pairando em seus olhos quando eles flertaram no pub e depois na praia sentados no aconchegante café. Também não podia negar que desde o primeiro instante uma energia muito forte os havia atraído, um fluxo de energia erótica que tinha a força de um furacão... É claro! Que estúpido! O tempo todo na minha frente e eu não conseguia enxergar... Ela ficara assustada com a fúria do desejo que experimentaram, é claro que acordara apavorada! Fugira! Teria que ser cauteloso, hábil, precisava planejar com calma... O melhor agora seria tomar um farto desjejum e ir pra faculdade. Quando ele girou a chave do seu Fiesta dourado sentia-se bem. Tinha a sensação de que nunca se sentira tão bem em toda vida.
'-Nada como uma boa trepada!' Ele gritou a plenos pulmões através da janela aberta.
Ele ainda tentou encontrá-la nas semanas que se sucederam aquela noite de sexo selvagem, mas foi em vão. O único contato que ele tinha o telefone, fora desligado e os dias que se seguiram àquela noite de prazer alucinante foram amargos. Ela povoava seus pensamentos, tanto a sensação erótica que a lembrança do sexo despertava quanto à ternura da tarde passada em sua companhia enquanto tomavam um sorvete, o assaltavam nos momentos mais inoportunos. Pare com isto seu idiota! Acabou! Foi uma boa trepada, mas só isto! Você pode conseguir outras, até melhores. E quando ele conheceu Fabíola, durante uma festa da faculdade não teve dúvidas. Arquivou os últimos resquícios daquela noite no porão da sua mente e se forçou a seguir em frente.

***

sábado, 9 de julho de 2011

Deveres, Sonhos e Paixões - Capitulo 1

DEVERES, SONHOS E PAIXÕES

Erika Maria Gonçalves Campana

Capitulo 1

A recepcionista quis saber para quantas pessoas era a mesa, Julia informou que queria sentar-se no balcão e que estava sozinha, então a atendente se afastou e lhe deu passagem. Ela avançou pelo salão apinhado de mesas em direção ao amplo balcão situado no fundo do pub e sentou-se no único banco que estava disponível.
Tivera sorte, situava-se em uma das pontas e iria permitir apreciar o movimento nas mesas e quem sabe flertar com alguém interessante.
'-Boa noite?'
Ela foi pega de surpresa por aquela voz quente e sensual e quando se virou para responder teve alguns minutos de hesitação ao visualizar o seu dono. Era um homem alto e moreno com belos olhos castanhos que a olhava exibindo um sorriso discreto e confiante.
'-Oi.'
'-Posso ajudá-la? O que vai querer?'
'-Hum! O que você sugere?' Ela devolveu-lhe o sorriso e empinou o nariz de uma forma afetada que o deixou fascinado.
'-Recomendo Irlanda Unida, uísque, creme de menta e sorvete de baunilha’.
'-Parece tentador, vou aceitar a oferta. Mas, isto não vai me deixar tonta, não é? Estou sozinha!'
'-Se você não estiver com pressa eu posso acompanhá-la, caso você passe dos limites'. Ele era insinuante.
'-Não pretendo passar dos limites, mas tenho todo tempo do mundo'.
Ele preparou o drink de forma habilidosa e ágil manejando os ingredientes com desenvoltura e enquanto ele manipulava a coqueteleira ela pode visualizar a curva dos seus músculos nos braços fortes e sentir um calor estranho inundar seu corpo
'-Aqui está'.
Julia sorveu lentamente um gole da bebida. Deixou o líquido demorar-se na sua boca e descer lentamente pela garganta aquecendo-a por inteiro enquanto mantinha os olhos fixos naquele homem a sua frente.
'-E então?' Ele perguntou mais uma vez com aquela voz sensual próxima ao seu ouvido.
'-É quente... E... Delicioso... Aquece a alma'.
'-Como você... A propósito, o que faz uma mulher fabulosa como você sozinha neste balcão?'
Ela se surpreendeu mais uma vez, ele estava flertando descaradamente com ela. E... Ela estava gostando do jogo. Ele se afastou para atender a um pedido de outro cliente e ela achou providencial para poder respirar.
'-Então?...' Ele insistiu
'-São as vantagens da modernidade. Uma mulher pode se sentar sozinha no balcão de um pub e conversar com o barman sem se sentir envergonhada'. Ela havia recuperado a calma e a confiança ao responder.
'-E você é uma mulher moderna?'
'-Uma exemplar legítima'.
Mais uma vez ele se afastou para servir uma caneca de cerveja
'-E você? O que faz um homem tão bonito atrás deste balcão? É um emprego temporário ou esta é sua vocação?'
O tom de voz era divertido, não exibia ironia, apenas sincera curiosidade e uma tímida malicia.
'-Acho que tenho pelo menos um pouquinho de vocação... Mas é o custeio do curso que me colocou aqui'.
'-Ah! Faculdade? Faz o que?'
'-Direito. Último ano'.
'-Hum! Deixe-me ver?' E ela se afastou e apertou os olhos tentando visualizar.
Ele ficou curioso e sentiu-se discretamente desconfortável em estar sendo avaliado por aquela mulher.
'-Você dará um belo advogado, realmente terno e gravata cairão bem em você.'
Ele sorriu aquele sorriso discreto e confiante e ela retribuiu.
'-E você? O que faz?'
Quando ele se afastou mais uma vez para atender a um cliente ela considerou que queria flertar um pouquinho mais e que um jogo de adivinha seria ideal. Quando ele retornou, ela emendou.
'-O que você acha? De que eu tenho cara?
Ele não esperava por aquilo, estava sendo envolvido num jogo de sedução por aquela mulher. Achou gostoso, estava se divertindo ela era realmente interessante.
'-Qual vai ser o meu prêmio, se eu acertar?'
'-Prêmio?'
'-É claro! Isto é um jogo, tem que haver um prêmio'.
'-É justo. Hum... Não sei...'
Como ela hesitava, ele não demorou a estabelecer o seu preço, já estava na sua cabeça e não foi difícil falar.
'-Um beijo! Se eu acertar você me da um beijo'
Ela não pode conter o espanto com a ousadia dele, mas sentiu o seu coração acelerar e imaginou como seria ser beijada por ele. Queria saber, mas não era certo! Ainda assim queria. Dane-se o certo!
'-Você esta trabalhando... Como vou poder pagar?' Ela estava hesitante, mas conseguiu dizer as palavras.
'-Você disse que tinha todo tempo do mundo... Podemos esperar o pub fechar... Ou... Se você ficar entediada pode me dar o seu telefone e eu me encarrego de cobrar'. Ele voltou a oferecer aquele sorriso encantador e olhou-a bem dento dos olhos
'-Você é um advogado nato, um negociador hábil, ok! Fechado’.
'-Hum... Publicitária?'
Ela soltou uma gargalhada divertida e sorveu mais um gole do drink.
'-Passou bem longe'.
‘-Três chances'. Ele falou.
Julia ponderou enquanto ele servia uma dose de wisk e entregava a uma das garçonetes.
- Tudo bem, três chances'. Ela concordou sentindo um frio na barriga por estar flertando abertamente com ele.
Matheus despachou cinco canecas de Guinnes antes de voltar até ela.
'-Empresária?'
Mais uma vez ela riu, fez um gesto negativo com a cabeça e sorveu um gole da bebida. O cliente que estava sentado a poucos centímetros de distancia e estivera observando o flerte dos dois chamou o barman.
'-Uma dose de Jommel's e... Conheço aquela belezinha. Ela é médica, e muito boa, salvou a vida do meu pai'.
Ele não se conteve e antes de entregar o pedido se aproximou de Julia com sorriso triunfante nos lábios.
'-Médica'.
Ela levou um susto. Não esperava que ele acertasse, ou esperava? O coração acelerou e a cabeça girou lentamente, ele permanecia a sua frente com o sorriso de triunfo nos lábios. Sem perceber ela retribuiu ao sorriso.
'-Como você descobriu?'
'-Sou muito observador, e... Um bom barman sempre tem bons contatos'.
Ele apontou com a cabeça para o homem sentado ao lado, e se dirigiu a ele com uma dose generosa de Jommel's que colocou no balcão e disse:
'-Este é por conta da casa'.
Ela ficou curiosa, fitou o homem que a cumprimentou com um aceno de cabeça, mas não pode reconhecê-lo. Não podia ser um paciente de outra forma ela o teria reconhecido.
'-Quem é? Eu não o conheço'.
'-Você salvou a vida do pai dele, e ele lhe e grato por isto'.
'-E retribui me entregando direitinho? É jogo sujo, trapaça!'
'-Nada disto. Eu acertei e agora vou querer o meu prêmio'. Ele tinha se aproximado muito dela por cima do balcão e Julia pode sentir o hálito quente em seu rosto, o perfume que ele estava usando era delicioso.
Mais uma vez ela sentiu um calor subindo pelo seu corpo. Estava louca? O que era aquilo? Nunca se sentira assim antes, aquilo era loucura! Ela nunca tinha visto aquele homem antes, como podia estar ali, em público flertando com ele sem qualquer timidez? Estava torcendo para não ruborizar. Não queria parecer uma adolescente tímida e inexperiente, era uma mulher de quase trinta anos!
'-E então? Como vamos fazer?' Ele retornou a carga após servir mais uma rodada de cerveja para uma das garçonetes que atendia as mesas.
'-Você esta trabalhando, deixa rolar... A gente decide mais tarde... '
'-Tudo bem, mas eu não vou abrir mão do que é meu'.
Embora estivesse se sentindo nervosa, a perspectiva de beijar o barman a deixava excitada e ela percebeu que estava ligeiramente alta. Não tinha certeza de quantas doses havia tomado seu copo fora mantido propositadamente cheio, a sensação de leveza que estava sentindo deixou-a repentinamente amedrontada. Não podia estar a sós com ele neste estado! Ou podia? O que iria acontecer se ele a beijasse agora? Ela iria se conter? Precisava, mas... Iria conseguir? Ele era tão bonito! Tão sexy! Percebeu que não estava em condições de manter um comportamento decente neste estado, não iria conseguir se controlar. Não podia ficar ali e esperar o pub fechar, seria impossível não cumprir o acordo, ele fora taxativo. Era melhor dar o fora logo.
'-Por favor, quer fechar a conta para mim?'
'-Você disse que tinha todo o tempo do mundo?!' Ele não escondeu o desapontamento ao pronuncias essas palavras.
'-Acho que isto é tempo demais... Estou cansada... E... Você se encarregou de manter o meu copo sempre cheio, acho melhor parar por aqui'.
'-Você ainda me deve uma aposta'. Ele segurou as mãos dela entre as suas e acariciou lentamente fazendo um arrepio gostoso subir pela sua espinha.
Ela engoliu em seco, tentou retirar as mãos, mas, ele aumentou a pressão.
‘-Eu não vou abrir mão, nós fizemos uma aposta e eu ganhei’. Aquele sorriso voltou a aparecer no rosto dele.
Ela não tinha escolha, ele não iria deixá-la partir sem pagar a aposta. E enquanto pensava nisto percebeu que queria paga-la, queria revê-lo, mas não assim fora do seu controle. Ela tomou a caneta que estava presa no bolso da camisa que ele usava, anotou o numero do seu telefone num guardanapo de papel e entregou-lhe.
‘-Eu costumo pagar as minhas dívidas. Tchau!
Ele ficou olhando aquela mulher se afastar e não pode deixar de prestar atenção ao gingado dos seus quadris. Ela era timidamente sensual. Quando chegou à porta Julia não se conteve e virou-se para dar de cara com o barman que estivera acompanhando seu desfile pelo salão, ele deixou aquele sorriso confiante se abrir e piscou discretamente para ela enquanto apontava para o número anotado no guardanapo fazendo sinal de que iria ligar.

***

Quando chegou a casa Julia estava completamente desperta. O trajeto pela auto-estrada com as janelas do Astra azul metálico arriadas sentindo o vento frio e úmido da noite bater em seu rosto foi suficiente para afastar o excesso de álcool que ela havia ingerido. Sabia que o cansaço alegado era uma desculpa. Estava com medo! Era estranho se sentir assim, atraída por um homem completamente desconhecido.
Ela não era assim, não costumava flertar com desconhecidos em bares noite adentro. Onde estava com a cabeça? E ainda por cima estava se sentindo excitada ao lembrar-se do sorriso que o barman lhe lançou e pensar na possibilidade de beijá-lo. Meu Deus! O que seus pais iriam pensar se soubessem daquilo? Não era uma atitude decente! Moças de família não saiam por aí dando o seu telefone e apostando beijos com barman’s! Estava mais assustada porque embora mantivesse uma guerra moral com a sua consciência sentia que estava perdendo a batalha. Todos aqueles argumentos que vinha evocando em voz alta ao longo do caminho estavam sendo ditos da boca pra fora. Não estava se sentindo culpada, nem com vergonha! Não era uma vadia! Era uma mulher livre! Independente e dona do seu próprio nariz!
Não fora sempre assim. Não, antes era tímida. Uma moça de família, que sabia como se comportar. Todos os namoros anteriores haviam sido completamente dentro do padrão pré-estabelecido de comportamento. Em casa, com o aval dos pais, almoço de domingo, e com rapazes de famílias renomadas, que ela havia conhecido no colégio ou na faculdade. Jamais imaginara sair a noite sozinha, sentar em um bar, beber um pouquinho além da conta e ficar louca de desejo de ir pra cama com o barman. Então era isto!? Agora havia acontecido! Ela permitiu que o pensamento se formasse em sua cabeça, e era verdade. Ela não queria apenas beijá-lo, experimentava um desejo enorme de fazer sexo com ele. Aquele pensamento deixou-a perturbada e ainda mais desperta.
Enquanto preparava um expresso na aconchegante cozinha do seu apartamento se esforçava para descobrir em que ponto do caminho havia dado esta guinada. O que há levara até este ponto? Quando ocorrera a mudança? Quanto mais se esforçava, mais difícil era. As idéias vinham de forma desconexa em sua mente. Acho que ainda estou tonta, pensou. Mas, uma voz bem lá no fundo a alertou: não está não! Você esta completamente sóbria. As coisas estão mesmo confusas. Seus sentimentos estavam emaranhados como um novelo de lã. Insatisfação, deveres, desejos, sonhos, medos, paixões, expectativas... Todos juntos como num grande balaio de gato.
Achava que tudo havia começado com a insatisfação progressiva que o exercício de sua profissão estava se tornando. Ainda assim quanto mais pensava nisto, sempre acabava chegando a conclusão de que não queria estar fazendo outra coisa. Como era possível? Ser médica era tudo o que queria e mesmo assim cada dia se tornava um fardo maior chegar ao hospital. Não fazia diferença se estava atendendo no ambulatório, no consultório ou se estava de plantão na emergência, era sempre desgastante.
Ficou curiosa ao perceber agora, que embora estivesse insatisfeita era sempre um grande prazer dar aula para os estudantes da graduação, seja em sala ou a beira do leito. Não estava enfadada da medicina e nem de seus pacientes, seu coração ainda palpitava e sua mente ainda ficava prontamente alerta com um caso clínico interessante. Sentia-se presa e amarrada com a burocracia de todo o processo. Mais da metade do trabalho de um médico consistia em preencher papeis, guias de convênio, prontuários, fichas e mais fichas... Sobrava pouco tempo para o que realmente interessava: o paciente! Se você não estava atolado em fichas e papéis, o volume desproporcional de pessoas que necessitavam do serviço público forçava a um atendimento apressado e muitas vezes superficial. Quando o paciente tinha seguro-saúde, ainda assim a situação não era muito diferente. Desta vez a baixa remuneração por cada consulta, obrigava o médico a inchar a sua agenda espremendo os horários e encurtando o tempo de cada consulta. Sentia-se num campo de batalha, onde o prêmio era exercer a sua profissão com alguma dignidade.
Onde estavam todos aqueles sonhos e ideais embutidos no juramento de Hipócrates? Toda ação humanitária e desprendida amplamente contada na longa história da medicina? Todas as expectativas criadas enquanto estava na graduação se dissolveram como um castelo de areia no seu primeiro ano como médica. Todos os seus sonhos de cuidar dos pacientes, dedicar-lhes tempo, afeto, foram sendo engolidos pela perversa engrenagem da residência medica, do serviço público e dos seguros-saúde...
Cada vez que tinha que brigar para que um exame ou procedimento fosse autorizado sentia-se esgotada. Ao final do dia estava completamente desanimada, deprimida e sentindo-se prostituída. Vendia seus sonhos por uma migalha de permissão para exercer a medicina. Mas as coisas eram assim há muito tempo e ela era somente mais uma peça em toda a engrenagem do sistema. Deixou-se levar neste curso sem contestar, aceitando as coisas com resignação. Fora ensinada a ser assim, não devia se rebelar, não era certo.
À medida que o tempo transcorria foi acumulando insatisfações e mágoas, e sentia-se cada vez mais distante. Atendia de forma mecânica. Era tecnicamente impecável, sempre fora uma excelente médica e não se descuidava da atualização, utilizava-se de todo o arsenal tecnológico que dispunha para manter-se atualizada, internet, congressos, videoconferências. Mas, a cada ano sua chama de paixão diminuía, já não tinha mais aquele brilho febril no olhar, se acomodara a situação.
O que acabou desencadeando todo o processo de mudança, agora estava claro! Fora o seu relacionamento com Rodrigo, eles estavam juntos há quase seis anos. Haviam se conhecido no inicio da residência, ele era filho de uma família ilustre da cidade, o pai era um famoso cirurgião e Rodrigo estava seguindo os seus passos. Quando completaram dois meses de namoro ela o apresentou aos seus pais, viajaram para sua cidade no fim de semana e estavam oficialmente comprometidos. Quando eles começaram a dormir juntos parecia certo que fosse uma questão de tempo para estarem casados e para que Julia iniciasse a descendência dos Degoule.
Mas ela resistira fora sua primeira rebeldia. Tímida, amparada na desculpa de que queria consolidar a sua carreira primeiro, e de que Rodrigo iria fazer um período de residência em Londres... E as coisas foram sendo levadas em “banho Maria”. Nem mesmo ela tinha consciência de que começava a sua mudança ali, que iria culminar nesta mudança completa de planos algum tempo depois. Fora há alguns meses atrás, eles haviam transado e Rodrigo adormecera em seu apartamento como algumas vezes acontecia. Ela acordou no meio da noite e sentou-se na cama envolvendo os joelhos e abraçando-os como fazia quando era criança e um pesadelo a despertava. Desta vez não fora um pesadelo, e sim um sonho erótico!?! A sensação de prazer que experimentara fora tão intensa, que ainda estava impregnada em sua pele...
Tentou se lembrar do sonho estava assustada! Era como se estivesse traindo o namorado que dormia ao seu lado, porque ele não estava presente... Disto ela estava plenamente certa. Não era Rodrigo o homem que lhe despertara todas aquelas sensações. Não conseguia visualizar a fisionomia do homem, por mais que se esforçasse não era capaz de ver o seu rosto. Mas, o seu corpo foi se tornando cada vez mais nítido em sua mente. Era mais forte que Rodrigo, a pele mais morena, e... Aquilo começou a deixá-la excitada.
Que loucura! Nunca se sentira assim antes! Rodrigo nunca lhe despertara todo aquele desejo, aquela urgência. Não que fosse ruim fazer amor com ele. É claro que não! Sentia prazer, ele era delicado, carinhoso, mas... Sentia agora que faltava aquele turbilhão, aquele arrebatamento. Era tudo calmo demais... Mas que droga! Estava ficando louca! Ela o amava e... E... Sentia prazer com ele, é claro que sim! Mas... Não aquilo, não aquela sensação tão intensa que queimava a sua pele mesmo quando havia apenas sonhado com tudo aquilo.
Procurou retroceder um pouco mais as suas lembranças e os outros namorados com quem havia transado vieram a sua mente. Com Pedro Henrique e Danilo durante a faculdade era mais divertido, faziam sexo com uma freqüência alucinante, eram jovens e queriam experimentar tudo, mesmo assim nunca experimentara aquela sensação tão intensa e completa de prazer. Antes houvera o Fernando, da época do colégio, fora o primeiro, mas eram ambos adolescentes, inexperientes...
Começou a pensar que talvez ela fosse o problema. Conhecera quatro homens diferentes em sua vida, e nunca conseguira obter o prazer pleno até aquele momento, mesmo com Rodrigo a quem ela amava. Amava? Quando aquele pensamento perturbador iria começar a se infiltrar em sua mente ele abriu os olhos e ofereceu-lhe aquele sorriso meigo que ela conhecia tão bem.
‘-O que foi querida? Em que esta pensando?’ Ele percebera a fisionomia tensa de sua namorada
‘-Hum! Nada!’ Ela não podia contar nada daquilo a ele.
‘-Não adianta fingir, o que esta te preocupando?’
Ela não podia contar a ele o que estivera pensando. Teria que sair pela tangente, fazer aquilo que mais detestava mentir, dissimular, mas era o certo. Não poderia magoá-lo
‘-Estou pensando na sua viagem... Está tão perto agora... ’
Ele voltou a abrir um sorriso no rosto. Ela estava triste por causa dele, já estava com saudades, que gracinha.
‘-Ah minha querida! Não fique assim. Vai ser rápido, dois meses e eu estou de volta. Então nós vamos nos casar’. Ele levantou-se e abraçou-a suavemente
Aquela palavra caiu como uma pedra no seu coração. Era como se ele estivesse cravando uma estaca bem no meio do seu peito. Casar! Sentiu um frio enorme por dentro, como se todos os seus ossos estivessem congelados, uma estranha náusea inundou o seu estomago, estava apavorada.
‘-Vamos tomar café?’ Ele levantou-se de um pulo e puxou-a para cozinha.

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Livro novo!!!

Vou começar a postar por aqui o novo livro... Divirtam-se tanto quanto eu me diverti brincando de escritora rsrs

"Deveres, sonhos e paixões"