sábado, 9 de julho de 2011

Deveres, Sonhos e Paixões - Capitulo 1

DEVERES, SONHOS E PAIXÕES

Erika Maria Gonçalves Campana

Capitulo 1

A recepcionista quis saber para quantas pessoas era a mesa, Julia informou que queria sentar-se no balcão e que estava sozinha, então a atendente se afastou e lhe deu passagem. Ela avançou pelo salão apinhado de mesas em direção ao amplo balcão situado no fundo do pub e sentou-se no único banco que estava disponível.
Tivera sorte, situava-se em uma das pontas e iria permitir apreciar o movimento nas mesas e quem sabe flertar com alguém interessante.
'-Boa noite?'
Ela foi pega de surpresa por aquela voz quente e sensual e quando se virou para responder teve alguns minutos de hesitação ao visualizar o seu dono. Era um homem alto e moreno com belos olhos castanhos que a olhava exibindo um sorriso discreto e confiante.
'-Oi.'
'-Posso ajudá-la? O que vai querer?'
'-Hum! O que você sugere?' Ela devolveu-lhe o sorriso e empinou o nariz de uma forma afetada que o deixou fascinado.
'-Recomendo Irlanda Unida, uísque, creme de menta e sorvete de baunilha’.
'-Parece tentador, vou aceitar a oferta. Mas, isto não vai me deixar tonta, não é? Estou sozinha!'
'-Se você não estiver com pressa eu posso acompanhá-la, caso você passe dos limites'. Ele era insinuante.
'-Não pretendo passar dos limites, mas tenho todo tempo do mundo'.
Ele preparou o drink de forma habilidosa e ágil manejando os ingredientes com desenvoltura e enquanto ele manipulava a coqueteleira ela pode visualizar a curva dos seus músculos nos braços fortes e sentir um calor estranho inundar seu corpo
'-Aqui está'.
Julia sorveu lentamente um gole da bebida. Deixou o líquido demorar-se na sua boca e descer lentamente pela garganta aquecendo-a por inteiro enquanto mantinha os olhos fixos naquele homem a sua frente.
'-E então?' Ele perguntou mais uma vez com aquela voz sensual próxima ao seu ouvido.
'-É quente... E... Delicioso... Aquece a alma'.
'-Como você... A propósito, o que faz uma mulher fabulosa como você sozinha neste balcão?'
Ela se surpreendeu mais uma vez, ele estava flertando descaradamente com ela. E... Ela estava gostando do jogo. Ele se afastou para atender a um pedido de outro cliente e ela achou providencial para poder respirar.
'-Então?...' Ele insistiu
'-São as vantagens da modernidade. Uma mulher pode se sentar sozinha no balcão de um pub e conversar com o barman sem se sentir envergonhada'. Ela havia recuperado a calma e a confiança ao responder.
'-E você é uma mulher moderna?'
'-Uma exemplar legítima'.
Mais uma vez ele se afastou para servir uma caneca de cerveja
'-E você? O que faz um homem tão bonito atrás deste balcão? É um emprego temporário ou esta é sua vocação?'
O tom de voz era divertido, não exibia ironia, apenas sincera curiosidade e uma tímida malicia.
'-Acho que tenho pelo menos um pouquinho de vocação... Mas é o custeio do curso que me colocou aqui'.
'-Ah! Faculdade? Faz o que?'
'-Direito. Último ano'.
'-Hum! Deixe-me ver?' E ela se afastou e apertou os olhos tentando visualizar.
Ele ficou curioso e sentiu-se discretamente desconfortável em estar sendo avaliado por aquela mulher.
'-Você dará um belo advogado, realmente terno e gravata cairão bem em você.'
Ele sorriu aquele sorriso discreto e confiante e ela retribuiu.
'-E você? O que faz?'
Quando ele se afastou mais uma vez para atender a um cliente ela considerou que queria flertar um pouquinho mais e que um jogo de adivinha seria ideal. Quando ele retornou, ela emendou.
'-O que você acha? De que eu tenho cara?
Ele não esperava por aquilo, estava sendo envolvido num jogo de sedução por aquela mulher. Achou gostoso, estava se divertindo ela era realmente interessante.
'-Qual vai ser o meu prêmio, se eu acertar?'
'-Prêmio?'
'-É claro! Isto é um jogo, tem que haver um prêmio'.
'-É justo. Hum... Não sei...'
Como ela hesitava, ele não demorou a estabelecer o seu preço, já estava na sua cabeça e não foi difícil falar.
'-Um beijo! Se eu acertar você me da um beijo'
Ela não pode conter o espanto com a ousadia dele, mas sentiu o seu coração acelerar e imaginou como seria ser beijada por ele. Queria saber, mas não era certo! Ainda assim queria. Dane-se o certo!
'-Você esta trabalhando... Como vou poder pagar?' Ela estava hesitante, mas conseguiu dizer as palavras.
'-Você disse que tinha todo tempo do mundo... Podemos esperar o pub fechar... Ou... Se você ficar entediada pode me dar o seu telefone e eu me encarrego de cobrar'. Ele voltou a oferecer aquele sorriso encantador e olhou-a bem dento dos olhos
'-Você é um advogado nato, um negociador hábil, ok! Fechado’.
'-Hum... Publicitária?'
Ela soltou uma gargalhada divertida e sorveu mais um gole do drink.
'-Passou bem longe'.
‘-Três chances'. Ele falou.
Julia ponderou enquanto ele servia uma dose de wisk e entregava a uma das garçonetes.
- Tudo bem, três chances'. Ela concordou sentindo um frio na barriga por estar flertando abertamente com ele.
Matheus despachou cinco canecas de Guinnes antes de voltar até ela.
'-Empresária?'
Mais uma vez ela riu, fez um gesto negativo com a cabeça e sorveu um gole da bebida. O cliente que estava sentado a poucos centímetros de distancia e estivera observando o flerte dos dois chamou o barman.
'-Uma dose de Jommel's e... Conheço aquela belezinha. Ela é médica, e muito boa, salvou a vida do meu pai'.
Ele não se conteve e antes de entregar o pedido se aproximou de Julia com sorriso triunfante nos lábios.
'-Médica'.
Ela levou um susto. Não esperava que ele acertasse, ou esperava? O coração acelerou e a cabeça girou lentamente, ele permanecia a sua frente com o sorriso de triunfo nos lábios. Sem perceber ela retribuiu ao sorriso.
'-Como você descobriu?'
'-Sou muito observador, e... Um bom barman sempre tem bons contatos'.
Ele apontou com a cabeça para o homem sentado ao lado, e se dirigiu a ele com uma dose generosa de Jommel's que colocou no balcão e disse:
'-Este é por conta da casa'.
Ela ficou curiosa, fitou o homem que a cumprimentou com um aceno de cabeça, mas não pode reconhecê-lo. Não podia ser um paciente de outra forma ela o teria reconhecido.
'-Quem é? Eu não o conheço'.
'-Você salvou a vida do pai dele, e ele lhe e grato por isto'.
'-E retribui me entregando direitinho? É jogo sujo, trapaça!'
'-Nada disto. Eu acertei e agora vou querer o meu prêmio'. Ele tinha se aproximado muito dela por cima do balcão e Julia pode sentir o hálito quente em seu rosto, o perfume que ele estava usando era delicioso.
Mais uma vez ela sentiu um calor subindo pelo seu corpo. Estava louca? O que era aquilo? Nunca se sentira assim antes, aquilo era loucura! Ela nunca tinha visto aquele homem antes, como podia estar ali, em público flertando com ele sem qualquer timidez? Estava torcendo para não ruborizar. Não queria parecer uma adolescente tímida e inexperiente, era uma mulher de quase trinta anos!
'-E então? Como vamos fazer?' Ele retornou a carga após servir mais uma rodada de cerveja para uma das garçonetes que atendia as mesas.
'-Você esta trabalhando, deixa rolar... A gente decide mais tarde... '
'-Tudo bem, mas eu não vou abrir mão do que é meu'.
Embora estivesse se sentindo nervosa, a perspectiva de beijar o barman a deixava excitada e ela percebeu que estava ligeiramente alta. Não tinha certeza de quantas doses havia tomado seu copo fora mantido propositadamente cheio, a sensação de leveza que estava sentindo deixou-a repentinamente amedrontada. Não podia estar a sós com ele neste estado! Ou podia? O que iria acontecer se ele a beijasse agora? Ela iria se conter? Precisava, mas... Iria conseguir? Ele era tão bonito! Tão sexy! Percebeu que não estava em condições de manter um comportamento decente neste estado, não iria conseguir se controlar. Não podia ficar ali e esperar o pub fechar, seria impossível não cumprir o acordo, ele fora taxativo. Era melhor dar o fora logo.
'-Por favor, quer fechar a conta para mim?'
'-Você disse que tinha todo o tempo do mundo?!' Ele não escondeu o desapontamento ao pronuncias essas palavras.
'-Acho que isto é tempo demais... Estou cansada... E... Você se encarregou de manter o meu copo sempre cheio, acho melhor parar por aqui'.
'-Você ainda me deve uma aposta'. Ele segurou as mãos dela entre as suas e acariciou lentamente fazendo um arrepio gostoso subir pela sua espinha.
Ela engoliu em seco, tentou retirar as mãos, mas, ele aumentou a pressão.
‘-Eu não vou abrir mão, nós fizemos uma aposta e eu ganhei’. Aquele sorriso voltou a aparecer no rosto dele.
Ela não tinha escolha, ele não iria deixá-la partir sem pagar a aposta. E enquanto pensava nisto percebeu que queria paga-la, queria revê-lo, mas não assim fora do seu controle. Ela tomou a caneta que estava presa no bolso da camisa que ele usava, anotou o numero do seu telefone num guardanapo de papel e entregou-lhe.
‘-Eu costumo pagar as minhas dívidas. Tchau!
Ele ficou olhando aquela mulher se afastar e não pode deixar de prestar atenção ao gingado dos seus quadris. Ela era timidamente sensual. Quando chegou à porta Julia não se conteve e virou-se para dar de cara com o barman que estivera acompanhando seu desfile pelo salão, ele deixou aquele sorriso confiante se abrir e piscou discretamente para ela enquanto apontava para o número anotado no guardanapo fazendo sinal de que iria ligar.

***

Quando chegou a casa Julia estava completamente desperta. O trajeto pela auto-estrada com as janelas do Astra azul metálico arriadas sentindo o vento frio e úmido da noite bater em seu rosto foi suficiente para afastar o excesso de álcool que ela havia ingerido. Sabia que o cansaço alegado era uma desculpa. Estava com medo! Era estranho se sentir assim, atraída por um homem completamente desconhecido.
Ela não era assim, não costumava flertar com desconhecidos em bares noite adentro. Onde estava com a cabeça? E ainda por cima estava se sentindo excitada ao lembrar-se do sorriso que o barman lhe lançou e pensar na possibilidade de beijá-lo. Meu Deus! O que seus pais iriam pensar se soubessem daquilo? Não era uma atitude decente! Moças de família não saiam por aí dando o seu telefone e apostando beijos com barman’s! Estava mais assustada porque embora mantivesse uma guerra moral com a sua consciência sentia que estava perdendo a batalha. Todos aqueles argumentos que vinha evocando em voz alta ao longo do caminho estavam sendo ditos da boca pra fora. Não estava se sentindo culpada, nem com vergonha! Não era uma vadia! Era uma mulher livre! Independente e dona do seu próprio nariz!
Não fora sempre assim. Não, antes era tímida. Uma moça de família, que sabia como se comportar. Todos os namoros anteriores haviam sido completamente dentro do padrão pré-estabelecido de comportamento. Em casa, com o aval dos pais, almoço de domingo, e com rapazes de famílias renomadas, que ela havia conhecido no colégio ou na faculdade. Jamais imaginara sair a noite sozinha, sentar em um bar, beber um pouquinho além da conta e ficar louca de desejo de ir pra cama com o barman. Então era isto!? Agora havia acontecido! Ela permitiu que o pensamento se formasse em sua cabeça, e era verdade. Ela não queria apenas beijá-lo, experimentava um desejo enorme de fazer sexo com ele. Aquele pensamento deixou-a perturbada e ainda mais desperta.
Enquanto preparava um expresso na aconchegante cozinha do seu apartamento se esforçava para descobrir em que ponto do caminho havia dado esta guinada. O que há levara até este ponto? Quando ocorrera a mudança? Quanto mais se esforçava, mais difícil era. As idéias vinham de forma desconexa em sua mente. Acho que ainda estou tonta, pensou. Mas, uma voz bem lá no fundo a alertou: não está não! Você esta completamente sóbria. As coisas estão mesmo confusas. Seus sentimentos estavam emaranhados como um novelo de lã. Insatisfação, deveres, desejos, sonhos, medos, paixões, expectativas... Todos juntos como num grande balaio de gato.
Achava que tudo havia começado com a insatisfação progressiva que o exercício de sua profissão estava se tornando. Ainda assim quanto mais pensava nisto, sempre acabava chegando a conclusão de que não queria estar fazendo outra coisa. Como era possível? Ser médica era tudo o que queria e mesmo assim cada dia se tornava um fardo maior chegar ao hospital. Não fazia diferença se estava atendendo no ambulatório, no consultório ou se estava de plantão na emergência, era sempre desgastante.
Ficou curiosa ao perceber agora, que embora estivesse insatisfeita era sempre um grande prazer dar aula para os estudantes da graduação, seja em sala ou a beira do leito. Não estava enfadada da medicina e nem de seus pacientes, seu coração ainda palpitava e sua mente ainda ficava prontamente alerta com um caso clínico interessante. Sentia-se presa e amarrada com a burocracia de todo o processo. Mais da metade do trabalho de um médico consistia em preencher papeis, guias de convênio, prontuários, fichas e mais fichas... Sobrava pouco tempo para o que realmente interessava: o paciente! Se você não estava atolado em fichas e papéis, o volume desproporcional de pessoas que necessitavam do serviço público forçava a um atendimento apressado e muitas vezes superficial. Quando o paciente tinha seguro-saúde, ainda assim a situação não era muito diferente. Desta vez a baixa remuneração por cada consulta, obrigava o médico a inchar a sua agenda espremendo os horários e encurtando o tempo de cada consulta. Sentia-se num campo de batalha, onde o prêmio era exercer a sua profissão com alguma dignidade.
Onde estavam todos aqueles sonhos e ideais embutidos no juramento de Hipócrates? Toda ação humanitária e desprendida amplamente contada na longa história da medicina? Todas as expectativas criadas enquanto estava na graduação se dissolveram como um castelo de areia no seu primeiro ano como médica. Todos os seus sonhos de cuidar dos pacientes, dedicar-lhes tempo, afeto, foram sendo engolidos pela perversa engrenagem da residência medica, do serviço público e dos seguros-saúde...
Cada vez que tinha que brigar para que um exame ou procedimento fosse autorizado sentia-se esgotada. Ao final do dia estava completamente desanimada, deprimida e sentindo-se prostituída. Vendia seus sonhos por uma migalha de permissão para exercer a medicina. Mas as coisas eram assim há muito tempo e ela era somente mais uma peça em toda a engrenagem do sistema. Deixou-se levar neste curso sem contestar, aceitando as coisas com resignação. Fora ensinada a ser assim, não devia se rebelar, não era certo.
À medida que o tempo transcorria foi acumulando insatisfações e mágoas, e sentia-se cada vez mais distante. Atendia de forma mecânica. Era tecnicamente impecável, sempre fora uma excelente médica e não se descuidava da atualização, utilizava-se de todo o arsenal tecnológico que dispunha para manter-se atualizada, internet, congressos, videoconferências. Mas, a cada ano sua chama de paixão diminuía, já não tinha mais aquele brilho febril no olhar, se acomodara a situação.
O que acabou desencadeando todo o processo de mudança, agora estava claro! Fora o seu relacionamento com Rodrigo, eles estavam juntos há quase seis anos. Haviam se conhecido no inicio da residência, ele era filho de uma família ilustre da cidade, o pai era um famoso cirurgião e Rodrigo estava seguindo os seus passos. Quando completaram dois meses de namoro ela o apresentou aos seus pais, viajaram para sua cidade no fim de semana e estavam oficialmente comprometidos. Quando eles começaram a dormir juntos parecia certo que fosse uma questão de tempo para estarem casados e para que Julia iniciasse a descendência dos Degoule.
Mas ela resistira fora sua primeira rebeldia. Tímida, amparada na desculpa de que queria consolidar a sua carreira primeiro, e de que Rodrigo iria fazer um período de residência em Londres... E as coisas foram sendo levadas em “banho Maria”. Nem mesmo ela tinha consciência de que começava a sua mudança ali, que iria culminar nesta mudança completa de planos algum tempo depois. Fora há alguns meses atrás, eles haviam transado e Rodrigo adormecera em seu apartamento como algumas vezes acontecia. Ela acordou no meio da noite e sentou-se na cama envolvendo os joelhos e abraçando-os como fazia quando era criança e um pesadelo a despertava. Desta vez não fora um pesadelo, e sim um sonho erótico!?! A sensação de prazer que experimentara fora tão intensa, que ainda estava impregnada em sua pele...
Tentou se lembrar do sonho estava assustada! Era como se estivesse traindo o namorado que dormia ao seu lado, porque ele não estava presente... Disto ela estava plenamente certa. Não era Rodrigo o homem que lhe despertara todas aquelas sensações. Não conseguia visualizar a fisionomia do homem, por mais que se esforçasse não era capaz de ver o seu rosto. Mas, o seu corpo foi se tornando cada vez mais nítido em sua mente. Era mais forte que Rodrigo, a pele mais morena, e... Aquilo começou a deixá-la excitada.
Que loucura! Nunca se sentira assim antes! Rodrigo nunca lhe despertara todo aquele desejo, aquela urgência. Não que fosse ruim fazer amor com ele. É claro que não! Sentia prazer, ele era delicado, carinhoso, mas... Sentia agora que faltava aquele turbilhão, aquele arrebatamento. Era tudo calmo demais... Mas que droga! Estava ficando louca! Ela o amava e... E... Sentia prazer com ele, é claro que sim! Mas... Não aquilo, não aquela sensação tão intensa que queimava a sua pele mesmo quando havia apenas sonhado com tudo aquilo.
Procurou retroceder um pouco mais as suas lembranças e os outros namorados com quem havia transado vieram a sua mente. Com Pedro Henrique e Danilo durante a faculdade era mais divertido, faziam sexo com uma freqüência alucinante, eram jovens e queriam experimentar tudo, mesmo assim nunca experimentara aquela sensação tão intensa e completa de prazer. Antes houvera o Fernando, da época do colégio, fora o primeiro, mas eram ambos adolescentes, inexperientes...
Começou a pensar que talvez ela fosse o problema. Conhecera quatro homens diferentes em sua vida, e nunca conseguira obter o prazer pleno até aquele momento, mesmo com Rodrigo a quem ela amava. Amava? Quando aquele pensamento perturbador iria começar a se infiltrar em sua mente ele abriu os olhos e ofereceu-lhe aquele sorriso meigo que ela conhecia tão bem.
‘-O que foi querida? Em que esta pensando?’ Ele percebera a fisionomia tensa de sua namorada
‘-Hum! Nada!’ Ela não podia contar nada daquilo a ele.
‘-Não adianta fingir, o que esta te preocupando?’
Ela não podia contar a ele o que estivera pensando. Teria que sair pela tangente, fazer aquilo que mais detestava mentir, dissimular, mas era o certo. Não poderia magoá-lo
‘-Estou pensando na sua viagem... Está tão perto agora... ’
Ele voltou a abrir um sorriso no rosto. Ela estava triste por causa dele, já estava com saudades, que gracinha.
‘-Ah minha querida! Não fique assim. Vai ser rápido, dois meses e eu estou de volta. Então nós vamos nos casar’. Ele levantou-se e abraçou-a suavemente
Aquela palavra caiu como uma pedra no seu coração. Era como se ele estivesse cravando uma estaca bem no meio do seu peito. Casar! Sentiu um frio enorme por dentro, como se todos os seus ossos estivessem congelados, uma estranha náusea inundou o seu estomago, estava apavorada.
‘-Vamos tomar café?’ Ele levantou-se de um pulo e puxou-a para cozinha.

***

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