‘-LIPE, TUDO BEM?’JEAN ESTAVA PREOCUPADO
‘-SIM, OK!’FELIPE RESPONDEU MONOSILABICAMENTE
HÁ TRÊS SEMANAS ESTES EPISÓDIOS DE CALAFRIO SEGUIDOS DE DIARRÉIA VINHAM ACONTECENDO. FELIPE TENTAVA DISFARÇAR, MAS JEAN NÃO ESTAVA GOSTANDO DAQUILO. DIARRÉIA, CALAFRIOS, ELE ACHAVA QUE FELIPE ESTAVA MAIS MAGRO. QUANDO ELES FAZIAM SEXO E FELIPE ESTAVA NÚ A SUA FRENTE ELE PODIA PERCEBER QUE O CORPO PERFEITO E MALHADO QUE TANTO O HAVIA ENCANTADO NÃO ERA O MESMO.
AGORA, PENSANDO BEM ELE NOTARA O SURGIMENTO DE ALGUMAS MANCHAS AVERMELHADAS NA PELE DE FELIPE.
‘-FELIPE, VOCÊ ESTÁ REALMENTE BEM?’ELE INSISTIU
‘-PORRA, JEAN, QUE SACO! EU ESTOU BEM. FOI ALGUMA COISA QUE EU COMI, SABE COMO É NA RUA...’MAS O OUTRO MÉDICO INTERROMPEU A FRASE NA METADE.
‘-QUE MERDA, FELIPE! COMIDA DE RUA UMA OVA!!! VOCÊ ACHA QUE EU SOU OTÁRIO. EU TENHO OBSERVADO. HÁ TRÊS SEMANAS QUE ISTO VEM ACONTECENDO...’JEAN ESTAVA GRITANDO.
‘-VOCÊ AGORA DEU PRA ME ESPIONAR, É?’FELIPE ESTAVA INDGNADO
‘-ESPIONAR?! VOCÊ É MUITO PRETENCIOSO. EU VIVO COM VOCÊ SERIA MUITO DIFÍCIL NÃO SABER O QUE ESTA ACONTECENDO.’
‘-NÃO ESTÁ ACONTECENDO NADA, É APENAS UMA GASTROENTERITE.’
‘-FELIPE, EU ESTOU PREOCUPADO. DIARRÉIA, CALAFRIOS, VOCÊ EMAGRECEU...’A TENSÃO ERA VISÍVEL NA VOZ DO CIRURGIÃO
UM MISTO DE TERROR E INCREDULIDADE PASSOU PELO OLHAR DO JOVEM PEDIATRA. AS PALAVRAS DO SEU NAMORADO PENETRARAM À SUA MENTE E NÃO PASSARAM EM BRANCO. ELE TAMBÉM JÁ PERCEBERA ESTAS ALTERÇÕES. NÃO QUISERA ENXERGAR, ESTAVA SE ENGANANDO. MAS, AGORA QUANDO ESTAS EVIDÊNCIAS FORAM LANÇADAS NA SUA CARA ELAS SE TORNARAM PALPÁVEIS. JEAN AINDA NÃO SABIA QUE ELE VINHA SE SENTINDO CANSADO E QUE HÁ QUASE UM MÊS NÃO FREQUENTAVA MAIS A ACADEMIA. SERÁ? NÃO... LOGO AGORA QUE ELE ENCONTRARA JEAN? ERA MUITA MALDADE. ELES ESTAVAM TÃO APAIXONADOS.
O MÉDICO NÃO PODE MAIS SE CONTER. SENTOU-SE NA CAMA E COMEÇOU A CHORAR, AS LÁGRIMAS FARTAS CORRIAM PELO BELO ROSTO E O CORPOR SE SACUDIA COM OS SOLUÇOS. O OUTRO MÉDICO SE APROXIMOU E PASSOU CARINHOSAMENTE O BRAÇO PELOS SEUS OMBROS TENTANDO CONFORTÁ-LO.
‘-ORA, O QUE É ISTO? VOCÊ TEM ESTADO SOBRECARREGADO DESDE QUE ASSUMIU O AMBULATÓRIO DE TRANSPLANTES, SUA CARGA HORÁRIA TRIPLICOU. NÓS DOIS SABEMOS QUE O ESTRESS É CAPAZ DE PROVOCAR TUDO ISTO.’JEAN FALOU TENTANDO ENCORAJÁ-LO, MAS O SEU TOM DE VOZ DEMONSTRAVA QUE ELE MESMO ESTAVA PRECISANDO SER ENCORAJADO.
FELIPE PERMANECEU CALADO, AS LÁGRIMAS CONTINUARAM A ESCORRER E ELE AINDA SOLUÇAVA.
‘-VOCÊ TEM RAZÃO, PORÉM NÓS DOIS TAMBÉM SABEMOS QUE OS SINTOMAS SÃO CARACTERISTICOS DA SIDA...’ELE NÃO PODE CONTINUAR A FRASE.
JEAN ENGOLIU EM SECO ANTES DE TER CORAGEM DE PERGUNTAR.
‘-VOCÊ ESTEVE EM SITUAÇÃO DE RISCO?’
FELIPE MANTEVE A CABEÇA BAIXA E CONFIRMOU APENAS COM UM MOVIMENTO ANTES DE FALAR
‘-MEU ANTIGO COMPANHEIRO MORREU DE AIDS HÁ UM ANO.’
O SEU TOM DE VOZ ERA SOMBRIO. UM SILÊNCIO CONSTRANGEDOR SE INSTALOU ENTRE ELES. AMBOS ESTAVAM AVALIANDO A GRAVIDADE DESTA REVELAÇÃO, SABIAM QUE ELA MUDARIA AS COISAS ENTRE ELES. FELIPE TINHA A CONSCIÊNCIA DE QUE AGIRA LEVIANAMENTE COM JEAN NÃO TENDO REVELADO ESTA INFORMAÇÃO ANTES. TINHA NOÇÃO DE QUE TAL ATITUDE REPRESENTAVA A POSSIBILIDADE DE TÊ-LO COLOCADO EM RISCO. NÃO FORA PROPOSITAL, MAS ESTAVA AVALIANDO COMO ISTO SOAVA NA MENTE DO SEU AMANTE.
O PENSAMENTO INICIAL DE JEAN FOI DE RAIVA, ÓDIO, INDGNAÇÃO. COMO ELE PODE TÊ-LO ENGANADO, COLOCADO EM RISCO, MAS A DOR QUE ELE PERCEBIA NAQUELE ROSTO AMANDO ENCHEU-O DE COMPAIXÃO E TERNURA. ELE AMAVA AQUELE HOMEM.
‘-VOCÊS NÃO USAVAM PRESERVATIVO?!’
‘-EU USAVA SEMPRE, MAS O PABLO ERA ALERGICO AO LÁTEX.’
‘-E... VOCÊ NÃO FEZ O TESTE?’
‘-UMA VEZ. LOGO QUE SOUBEMOS QUE ELE ESTAVA DOENTE, FOI NEGATIVO.’
‘-MAS... NÃO REPETIU?’
‘-NÃO.’
‘-E A JANELA IMUNOLÓGICA?’
‘-FOI TUDO TÃO RÁPIDO, ELE EVOLUIU TÃO RÁPIDO, EU ESTIVE TÃO ENVOLVIDO EM CUIDAR DELE, E DEPOIS EU QUERIA APENAS ESQUECER...’
‘-MAS... FELIPE?!?’JEAN NÃO CONSEGUIU DIZER MAIS NADA.
‘-EU SEI, EU SEI. NÃO TEM DESCULPA E NEM MESMO JUSTIFICATIVA. EU COLOQUEI VOCÊ EM RISCO...’E ELE RECOMEÇOU A CHORAR.
JEAN ENGOLIU EM SECO. ELE ESTAVA PENSANDO A MESMA COISA. HAVIA SIDO EXPOSTO AO RISCO QUANDO INICIARA O ROMÂNCE COM FELIPE. LOGO ELE QUE SEMPRE FORA TÃO CUIDADOSO. ESTAVA SE SENTINDO TRAÍDO, AMEDRONTADO E MAGOADO, POIS FELIPE TAMBÉM HAVIA DEMONSTRADO QUE NÃO CONFIAVA PLENAMENTE EM JEAN. AQUELA INTIMIDADE QUE ELE ACREDITAVA SER PLENA ACABARA DE SER ROMPIDA, QUEBRADA. AO MEMSO TEMPO ELE SABIA QUE AMAVA AQUELE HOMEM, COMO NUNCA HAVIA AMADO QUALQUER OUTRO. NÃO ERA SOMENTE SEXO, EMBORA FELIPE FOSSE REALMENTE UM AMANTE MARAVILHOSO. TINHA CERTEZA DE QUE QUERIA DIVIDIR SUA VIDA COM ELE, PASSA O RESTO DOS SEUS DIAS AO SEU LADO.
‘-MEU QUERIDO, MEU AMOR. ISTO AGORA NÃO IMPORTA. ISTO AGORA É SECUNDÁRIO, NÓS TEMOS QUE CUIDAR DE VOCÊ, TEMOS QUE FAZER O EXAME. EU VOU CONVERSAR COM A GIULIA QUE É A NOSSA ESPECIALISTA EM INFECTOLOGIA...’
‘-JEAN VOCÊ TEM CERTEZA? VOCÊ NÃO TEM QUE FAZER ISTO. EU FIU DESLEAL COM VOCÊ...’
ELE NÃO DEIXOU FELIPE COMPLETAR A FRASE, COLOCANDO A MÃO EM SEUS LÁBIOS INTERROMPEU-O
‘-EU TE AMO, E NÃO VOU DEIXÁ-LO SOZINHO AGORA.’
FELIPE NÃO CONSEGUIU FALAR NADA, SEUS OLHOS ESTAVAM CHEIOS DE LÁGRIMAS. ELE ABRAÇOU JEAN E NÃO CONSEGUIU IMPEDIR O PRANTO.
NA MANHÃ SEGUINTE JEAN CHEGOU BEM CEDO AO HOSPITAL. DIRIGIU-SE INICIALMENTE AO LABORATÓRIO E CONSEGUIU QUE O FUNCIONÁRIO QUE ERA SEU AMIGO LHE FORNECESSE O MATERIAL NECESSÁRIO PARA CLHER O HIV. ELE MESMO IRIA FAZER A COLETA DO SANGUE SEU E DE FELIPE.
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