terça-feira, 14 de setembro de 2010

Caminhos Cruzados Cap 12

CAP. 12

HAVIA POUCO MAIS DE UMA HORA DA SUA CHEGADA QUANDO O TELEFONE TOCOU.

'-OLÁ!'
'-OI, AMOR! COMO FOI DE VIAGEM?'
'-ÓTIMA. ME DIVERTI BASTANTE.'

ELA AINDA NÃO HAVIA SE ACOSTUMADO COM ESTE TRATAMENTO E SEMPRE ESTRANHAVA QUANDO ELE A CHAMAVA DE AMOR.

'-E O NOSSO ALMOÇO? ESTÁ DE PÉ?'
'-CLARO!'
'-ENTÃO, TÔ INDO PARA AÍ.'
'-ESTOU ESPERANDO.'

LOGO QUE DESLIGOU O TELEFONE AMANDA SE DEU CONTA DE COMO HAVIA SENTIDO A FALTA DELE. DURANTE TODA AQUELA SEMANA ELA NÃO HAVIA QUASE PENSADO EM GUSTAVO, MAS AGORA AO OUVIR SUA VOZ SENTIU UMA PONTADA AGUDA NO CORPO, E TEVE NOÇÃO DE COMO HAVIA SENTIDO FALTA DE SUA VOZ, DOS SEUS GESTOS, DOS SEUS CARINHOS, DO SEU BEIJO... RAPIDAMENTE DESFEZ AS MALAS, TOMOU UMA CHUVEIRADA E COLOCOU UM VESTIDO LEVE COM FUNDO AZUL E ESTAMPA DE FLORES COLORIDAS, E FICOU ESPERANDO POR ELE. A CAMPAINHA TOCOU POUCO TEMPO DEPOIS.
TÃO LOGO ABRIU A PORTA AMANDA ARMOU O SORRISO QUE ELE TANTO GOSTAVA AO VÊ-LO ALI NA SUA FRENTE. COMO ESTAVA BONITO, A CAMISA DE GOLA POLO PRA DENTRO DO JEANS, E OS OLHOS VERDES BRILHANDO, O SORRISO ENCANTADOR ESTAMPADO NO ROSTO IRRADIANDO A FELICIDADE EM VÊ-LA. ELES FICARAM UM INSTANTE PARADOS, RELUTANTES, SEM SABER O QUE FAZER. E ENTÃO, ELA QUEBROU O GELO.

'-VOCÊ VAI FICAR AÍ NA PORTA OU VAI ENTRAR?'

ELE NÃO PODE CONTER A GARGALHADA E ENTROU. ELA FECHOU A PORTA ATRÁS DE SI E ENTÃO GUSTAVO A ENVOLVEU NOS BRAÇOS ENQUANTO ACARICIAVA SEUS CABELOS E BEIJAVA SUA BOCA. ELA CORRESPONDEU AO BEIJO DE MANEIRA ARDENTE E MAIS UMA VEZ TEVE CONSCIÊNCIA DE COMO HAVIA SENTIDO FALTA DELE.

'-NOSSA, VOCE ESTÁ LINDA! AINDA MAIS LINDA. E EU ESTOU LOUCO DE SAUDADES.'
ELA SORRIU FELIZ.
'-EU TAMBÉM SENTI SUA FALTA.'
'-ORA, ORA, DONA, ESTAMOS PROGREDINDO. ELA SENTIU A MINHA FALTA.' FALOU COM IRONIA.
'-VOCÊ É MAL. EU CHEGO E DIGO QUE SENTI A SUA FALTA E VOCÊ VEM COM IRONIAS?' ELA RETRUCOU COM AR ZANGADO.
'-OH! DESCULPE, EU ESTAVA BRINCANDO.'

MAIS UMA VEZ ELE A ABRAÇOU E BEIJOU-LHE A BOCA, MAIS UMA VEZ ELA CORRESPONDEU AO BEIJO DE MANEIRA ARDENTE O QUE O SURPREENDEU, MAS ELE ESTAVA GOSTANDO DA NOVIDADE.

'-E AÍ MOÇA, COMO FOI? O QUE VOCE FEZ? APROVEITOU? O HOTEL ESTAVA CHEIO?...'
'-NOSSA, CALMA! UMA PERGUNTA DE CADA VEZ.'
'-ESTÁ BEM: O QUE VOCÊ FEZ?'
'-FOI ÓTIMO. DORMI ATÉ TARDE, CAVALGEUI MUITO, PUDE LER ALGUNS LIVROS, TOMEI MUITO SOL...'
'-É VOCE ESTÁ COM UMA COR ÓTIMA.'
'-EU CONHECI UM CASAL DE IDOSOS QUE ESTAVA COM A NETA, MUITO DIVERTIDOS, NÓS JOGAMOS BARALHO QUASE TODOS OS DIAS. FOI ÓTIMO.'

GUSTAVO OUVIU ATENTAMENTE O ÚLTIMO RELATO E PARECEU SUBTAMENTE RELUTANTE E TRISTE. ABAIXOU A CABEÇA DESCONCERTADO E PARECIA QUERER FALAR ALGUMA COISA, MAS ESTAVA EM DÚVIDA.

'-O QUE FOI? VOCÊ QUER PERGUNTAR ALGUMA COISA?'
'-NÃO, NADA. QUE BOM QUE VOCÊ SE DIVERTIU, E MELHOR AINDA QUE JÁ ESTÁ DE VOLTA.'
MAS ELE MANTEVE AQUELE AR DE PERGUNTA.
'-HUM.... JÁ SEI.... O HOTEL NÃO ESTAVA MUITO CHEIO NÃO, E ALÉM DE MIM E DO CASAL DE IDOSOS, SÓ HAVIAM ALGUNS CASAIS EM LUA-DE-MEL. EU NÃO CONHECI NINGUÉM EM ESPECIAL. ERA ISTO QUE ESTAVA TE ATORMENTANDO?'

ELE CONFRIMOU COM UM MOVIMENTO DE CABEÇA, MAS MANTEVE-A BAIXA COMO SE ESTIVESSE ENVERGONHADO DA ATITUDE. AMANDA SEGUROU-LHE O QUEIXO E LEVANTOU-LHE A CABEÇA, OLHOU BEM DENTRO DOS OLHOS DELE POUSANDO-LHE UM SUAVE BEIJO NOS LÁBIOS E FALOU SORRINDO.

'-BOBO.'
'-DESCULPE, EU NÃO TINHA O DIREITO, MAS NÃO PUDE ME CONTROLAR...'
ELA PROCUROU DESVIAR O ASSUNTO TEMENDO MAIS AQUELA DEMONSTRAÇÃO DE INTIMIDADE.
'-ENTÃO O QUE VAMOS COMER? ESTOU MORRENDO DE FOME.'
'-A GENTE PODIA IR NO "COISA DA ROÇA" OU VOCE ESTÁ CHEIA DE COMIDA CASEIRA?'
'-BOM, NA VERADE EU ESTAVA A FIM DE ALGUMA COISA MAIS SOFISTICADA. QUE TAL O CHINÊS?'
'-PRA MIM TUDO BEM, EU ADORO.'
ELES SAIRAM E NO CAMINHO DO RESTAURANTE FORAM COLOCANDO AS NOVIDADES EM DIA.
'-COMO ESTÃO AS FILMAGENS?'
'-PUXA, ESTÃO A TODO VAPOR. AGORA ENTRAMOS NA FASE MAIS TRABALHOSA, MINHA CARGA HORÁRIA DE REPENTE TRIPLICOU...'
'-AH! ENTÃO FOI POR ISSO QUE VOCÊ NÃO ME LIGOU MAIS...' ELA FEZ UM AR MISTERIOSO QUE ELE NÃO SOUBE IDENTIFICAR COM CLAREZA SE ERA BRINCADEIRA OU SE ELA ESTAVA FALANDO SÉRIO.
'-AMH! NÃO! EU PROMETI QUE NÃO IRIA INCOMODÁ-LA E CUMPRI...'

ENTÃO ELA COMEÇOU A RIR DO SEU JEITO DESCONCERTADO E AFLITO TENTANDO EXPLICAR QUE NÃO FALTAVA TEMPO PRA PENSAR NELA.

'-SUA SACANA! VOCÊ ARMOU DIREITINHO.'
'-DESCULPE, MAS EU ADORO VER A CARA QUE VOCÊ FAZ NESTES MOMENTOS.'
'-DONA, SERÁ QUE ALGUM DIA EU VOU SABER COM CERTEZA QUANDO É QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO SÉRIO OU QUANDO ESTÁ BRINCANDO COMIGO?'

ELA DEU DE OMBROS, SORRIU E JOGOU A CABEÇA PRA TRÁS. COMO ELA ESTAVA LINDA, JOVIAL. DESDE OS PRIMEIROS DIAS ELE ADORARA O SEU SENSO DE HUMOR, MAS AGORA ELA ESTAVA MAIS ESPONTÂNEA, COM O SEU SORRISO TRAVESSO QUANDO FAZIA TROÇA COM ELE E O OLHAR DIVERTIDO PARECIA BRINCAR COM AS PALAVRAS. ELE ADORAVA AQUELE JEITO DE SER. O VESTIDO AZUL DE UM PANO LEVE QUE ELE NÃO SABIA IDENTIFICAR LHE CAIA MUITO BEM, DEIXANDO-A A VONTADE, SOLTA E ELE ACHAVA QUE AZUL ERA A SUA COR FAVORITA PARA ELA, SEMPRE FICAVA LINDA DE AZUL. PERCEBEU QUE AQUELA SEMANA DE FÉRIAS HAVIA FEITO MUITO BEM A ELA, MAS SENTIA TAMBÉM QUE O FATO DE ELES TEREM SE CONHECIDO UM POUCO MAIS ERA PARTE IMPORTANTE DESSE NOVO COMPORTAMENTO. ELA ESTAVA SE MODIFICANDO DIANTE DOS SEUS OLHOS. NÃO ESTAVA SE TORNANDO UMA NOVA MULHER, NÃO ERA ISTO. MAS PARECIA QUE ELA ESTAVA QUEBRANDO SUA CASCA, AOS POUCOS, COMO UM PASSARINHO FAZ PARA NASCER, OU SAINDO DO CASULO COMO UMA LAGARTA PARA SE TRANSFORMAR NUMA MARAVILHOSA E LIVRE BORBOLETA.

'-ME FALE DOS SEUS PAIS. VOCÊ NUNCA ME FALOU DELES.'
'-É PORQUE VOCÊ NUNCA ME PERGUNTOU. MEUS PAIS SÃO PESSOAS MARAVILHOSAS, ENCANTADORAS. EU OS ADORO.'
'-ONDE MORAM.'
'-NA FAZENDA. EU JÁ CONTEI QUE MEU PAI É FAZENDEIRO. FICA PERTO, UMA HORA E MEIA DE CARRO SUBINDO A SERRA NORTE.'
'-É, VOCÊ ME CONTOU QUE ELE TINHA FAZENDA. O QUE ELE FAZ? GADO? LEITE?'
'-NÃO, NÃO. TRABALHA COM LARANJAS. ATÉ TEMOS GADO, MAS SOMENTE PARA O SUSTENTO PRÓPRIO E DOS EMPREGADOS.'
'-ELE EXPORTA?'
'-INDIRETAMENTE, SIM.'
‘-INDIRETAMENTE? UÉ, NÃO ENTENDI?’
‘-É QUE ELE VENDE AS LARANJAS PARA UMA FÁBRICA DE SUCO QUE É EXPORTADORA.’
‘-AH, SIM!’
‘-E OS SEUS PAIS? VOCÊ TAMBÉM FALA MUITO POUCO NELES.’
‘-MEUS PAIS SÃO UMAS GRACINHAS. MEU PAI É ENGENHEIRO CIVÍL E MINHA MÃE É... É MÃE, ESPOSA, ENFIM, DO LAR.’
‘-NENHUM DE VOCÊS QUIS SEGUIR A CARREIRA DELE.’
‘-É, NENHUM. MAS NA REALIDADE QUEM ACABOU REALIZANDO O SONHO DELE FUI EU. PAPAI SEMPRE SONHOU EM TER UM FILHO MÉDICO, SÓ NÃO SABIA QUE SERIA UMA FILHA.’
‘-E O SEU IRMÃO O QUE FAZ?’
‘-MEU IRMÃO É ADVOGADO, OU MELHOR, PROMOTOR.’
‘-VOCÊS SÃO MUITO AMIGOS, NÃO!’
‘-MUITO. EU O CONSIDERO MEU MELHOR AMIGO. SINTO MUITA FALTA DELE. ARTHUR TEM TENTADO SER TRANFERIDO PRA CÁ, MAS NÃO É FÁCIL.’
‘-EU SINTO FALTA DE UM IRMÃO...’
‘-AH! MAS VOCÊ TEM O PAULO QUE É COMO UM IRMÃO.’
‘-O PAULO É UM GRANDE AMIGO, MAS NA VERDADE A PESSOA QUE MAIS SE ASSEMELHA A UM IRMÃO PRA MIM É NA VERDADE UMA IRMÃ... A MAJÚ, ELA É COMO UMA IRMÃ QUE EU NUNCA TIVE.’
‘-MAJÚ?!’ AMANDA TINHA UM AR DE ESPANTO QUE NÃO LHE PASSOU DESAPERCEBIDO.
‘-É! VOCE AINDA VAI CONHECÊ-LA. É UMA PESSOA MARAVILHOSA, É MINHA MELHOR AMIGA, MINHA IRMÃ...’
‘-HUM, CHEGAMOS.’ AMANDA PROCUROU DESVIAR O ASSUNTO. TERIA QUE PENSAR NELE MAIS TARDE.

ELES ESTACIONARAM HÁ ALGUNS METROS DO CHINÊS E A CURTA DISTANCIA QUE SEPARAVA O CARRO DO RESTAURANTE FOI SUFICIENTE PARA QUE ELES FOSSEM ABORDADOS POR UM PAPARAZZI QUE CLICOU O CASAL CAMINHANDO ALEGREMENTE DE MÃOS DADAS. POR MAIS DISCRETO QUE ELE FOSSE GUSTAVO, ACOSTUMADO AO ASSÉDIO DA IMPRENSA, NÃO PÔDE DEIXAR DE NOTÁ-LO.

‘-EI, EI! GRITOU PROCURANDO CHAMAR A ATENÇÃO DO FOTOGRAFO QUE TENTAVA FUGIR.

O MOVIMENTO RÁPIDO DO PAPARAZZI ATRAIU A ATENÇÃO DO SEGURANÇA DO RESTAURANTE QUE LHE IMPEDIU A FUGA ENQUANTO GUSTAVO SE APROXIMAVA.

‘-EI, ESPERE. EU SÓ QUERO FAZER UMA PERGUNTA.’

O SEGURANÇA SOLTOU O FOTOGRAFO QUE AJEITOU O CASACO E LANÇOU UM OLHAR AO ATOR QUE DIZIA: “ESTOU ESPERANDO”.

‘-O QUE VOCÊ VAI COLOCAR NA LEGENDA DA FOTO?’
‘-BOM, DEPENDE... DO QUE VOCÊ ESTA DISPOSTO A ME CONTAR?’
‘-A VERDADE, NÃO QUERO FOFOCAS, É SÓ O QUE EU TE PEÇO.’
‘-TUDO BEM.’
‘-BOM, ESTA É AMANDA UPSON, MINHA... MINHA...’

AMANDA PERCEBENDO A INDECISÃO DE GUSTAVO INTERVEIO EM SEU SOCORRO, E O FEZ DE FORMA TÃO EXPONTANEA QUE ELA MESMA ESTRANHOU QUANDO COMPLETOU A FRASE.

‘-SOU A NAMORADA DELE.’
‘-OBRIGADO!’ O FOTOGRAFO SE RETIROU EXULTANTE COM O FURO QUE HAVIA CONSEGUIDO.

AMANDA OLHOU PARA GUSTAVO QUE A FITAVA ATONITO, COMO QUE ENTORPECIDO PELO CONTEÚDO DE SUAS PALAVRAS E SÚBITO TEVE MEDO. TERIA SIDO PRECIPITADA? EM NENHUM MOMENTO ELES HAVIAM OFICIALIZADO A RELAÇÃO.

‘-OH! GUSTAVO ME DESCULPE. EU NÃO SEI O QUE ME DEU, MAS... VOCÊ ESTAVA INDECISO, E ESTE FOTOGRAFO PRESSIONANDO...’

ELE NÃO DEIXOU QUE ELA TERMINASSE A FRASE.
‘-MOÇA, EU ADOREI!’ E ELE RIU. ‘-EU ESTAVA INDECISO EXATAMENTE PORQUE QUERIA APRESENTÁ-LA COMO MINHA NAMORADA, MAS NÃO SABIA COMO VOCÊ IRIA REAGIR. AFINAL, NÓS...’
‘-NÃO TINHAMOS FALADO NISSO...’
‘-É ISTO, NÃO OFICIALIZAMOS PARA NÓS MESMOS, MAS ACHO QUE AGORA NÃO TEMOS MAIS COMO ESCONDER. VAI ESTAR NOS JORNAIS...’
‘-É... ACHO QUE AGORA É DEFINITIVO.’
‘-BOM ACHO MELHOR VOCE SE PREPARAR...’
‘-PORQUE?’
‘-O ASSEDIO VAI AUMENTAR. PODE TER CERTEZA, O SEGREDO É MANTER A SUA ROTINA.’
‘-PUXA, VOCÊ ACHA MESMO?’
‘-TENHO CERTEZA.’
‘-TUDO BEM, ACHO QUE POSSO AGUENTAR.’

ELES ESTAVAM SENTADOS NO CHÃO DESCALÇOS, SABOREANDO UM DELICIOSO FRANGO XADREZ E BEBENDO SAQUE E ENTÃO ELE FALOU:

‘-AH! JÁ QUE VOCE É MINHA NAMORADA EU ACHO QUE TEMOS QUE COMEÇAR A REALIZAR OS PROGRAMAS TÍPICOS DE UMA NAMORADA.’
‘-COMO ASSIM?’
‘-UÉ, CONHECER OS SOGROS?’
‘-JÁ?!’
‘-PORQUE? COM MEDO?’
‘-NÃO, MEDO NÃO. MAS... HUM! TUDO BEM!’
‘-PODIAMOS IR A FAZENDA NO FIM DE SEMANA?’
‘-SÓ SE FOR NO PRÓXIMO, POIS ESTE DOMINGO ESTAREI DE SOBREAVISO.’
‘-OK! VOU AVISAR A MINHA MÃE.’


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