CAP. 13
ERA UMA SEGUNDA FEIRA QUENTE, O HOSPITAL ESTAVA BASTANTE MOVIMENTADO. REBECA ACABOU DE ATENDER O ÚLTIMO PACIENTE NO AMBULATÓRIO, OLHOU NO RELOGIO, 15:30, AINDA TERIA MEIA HORA ANTES DOS ALUNOS CHEGAREM PARA A AULA DE SEMIOLOGIA, DAVA TEMPO PARA TOMAR UM CAFÉ.
ENQUANTO AGUARDAVA NO BALCÃO AS LEMBRANÇAS DA NOITE ANTERIOR ENCHERAM SUA MENTE. PAULO ESTIVERA EXTREMAMENTE CARINHOSO, HÁ UM BOM TEMPO NÃO FAZIAM AMOR DE UM JEITO TÃO GOSTOSO. ELE ESTAVA INSACIAVEL E ELES HAVIAM GOZADO JUNTOS MUITAS VEZES, SENTIU UM ARREPIO GOSTOSO PERCORRER-LHE TODO O CORPO. VALIA A PENA SUPORTAR AS ESCAPULIDAS DELE POR UMA NOITE COMO AQUELA, COM CERTEZA VALIA. E ALÉM DO MAIS ELA ERA COMPLETAMENTE APAIXONADA POR ELE. TOMOU UM SUSTO QUANDO ESCUTOU A VOZ BEM PERTO DO SEU OUVIDO.
‘-REBECA.’
VIROU-SE, UMA MULHER JOVEM, ALTA DE CABELOS LOIROS E LINDOS OLHOS AZUIS ESTAVA A SUA FRENTE. ELA JÁ A TINHA VISTO PELO HOSPITAL, MAS NÃO A CONHECIA. ESTAVA DE ROUPA BRANCA, ERA BEM JOVEM, DEVERIA SER UMA INTERNA OU R1 COMO ERAM CHAMADOS OS RESIDENTES DO PRIMEIRO ANO.
‘-OLÁ. NÓS NOS CONHECEMOS?’
‘-NÃO, AINDA NÃO. MAS PRECISAMOS CONVERSAR.’ A MULHER LOIRA FALAVA COMPLETAMENTE SERIA.
‘-ALGUM PROBELMA? BEM, PODEMOS NOS SENTAR NUM RESERVADO...’
‘-É BOM MESMO, POIS O ASSUNTO É PARTICULAR.’
REBECA ESTAVA CURIOSA E INTRIGADA.
‘-ZECA, ESTOU NO FUNDO.’
O BALCONISTA ACENOU CONFIRMANDO QUE TINHA ENTENDIDO.
‘-MEU NOME É KARINA, EU SOU RESIDENTE DA CIRURGIA GERAL...’
DE REPENTE REBECA FICOU ATORDOADA. ELA NÃO OUVIA MAIS NADA, CONSEGUIA VER OS LÁBIOS DA MULHER A SUA FRENTE SE MOVEREM, MAS NÃO ESCUTAVA NENHUMA PALAVRA. KARINA, R1. ENTÃO ERA ELA, A RESIDENTE POR QUEM TODOS OS MÉDICOS DO HOSPITAL ESTAVAM BABANDO. REBECA OUVIRA BOATOS DE QUE PAULO JÁ HAVIA TRANSADO COM ELA.
‘-POR FAVOR, VOCE ESTÁ ME OUVINDO? JÁ É BASTANTE DIFÍCIL PARA MIM. É UM ASSUNTO DELICADO, MAS É DO SEU INTERESSE TAMBEM.’
‘-AH, DESCULPE, EU ESTOU OUVINDO.’
O QUE ELA QUERIA DIZER COM AQUILO? PENSOU REBECA.
‘-EU VOU SER BASTANTE DIRETA. EU ESTOU GRÁVIDA E O PAI É O PAULO.’
REBECA SENTIU TUDO A SUA VOLTA RODAR E ACHOU QUE FOSSE DESMAIAR. O QUE ELA ESTAVA DIZENDO? ELA ESTAVA LOUCA? GRÁVIDA? O PAULO ERA O PAI?
‘-VOCÊ ESTÁ LOUCA?! O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ISTO?’ FALOU REBECA TENTANDO SE CONTROLAR PARA NÃO GRITAR.
‘-ISTO MESMO QUE VOCÊ OUVIU: EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO.’
FOI COMO SE UMA BOMBA TIVESSE CAIDO SOBRE A SUA CABEÇA.
‘-SUA VADIA MENTIROSA!, O PAULO DETESTA CRIANÇAS,. E... E... ELE NUNCA TRANSA SEM CAMISINHA... COMO OUSA... SUA... SUA...’ REBECA ESTAVA QUASE GRITANDO, O ROSTO VERMELHO, OS OLHOS INJETADOS, ESTAVA COMPLETAMENTE TRANSTORNADA.
‘-POR FAVOR, REBECA, NADA DE ESCANDALOS. EU NÃO ESTOU MENTINDO. QUANDO NÓS TRANSAMOS, EU NÃO ESTAVA TOMANDO PÍLULA E O PAULO NÃO TINHA CAMISINHA, ACABOU ACONTECENDO O QUE NENHUM DE NÓS PLANEJAVA...’
‘-VADIA!’
KARINA TEVE SUA FRASE INTERROMPIDA POR UMA SONORA BOFETADA DISPARADA POR REBECA, QUE SE LEVANTOU, JOGOU O DINHEIRO DO CAFÉ NO BALCÃO E SAIU DA LANCHONETE.
ELA SUBIU ATÉ O SEXTO ANDAR PELA ESCADA. SENTIA-SE TÃO MAL QUE FOI DIFÍCIL SABER COMO CONSEGUIU CHEGAR. O CHÃO FALTAVA AOS SEUS PÉS, A RESPIRAÇÃO NÃO COMPLETAVA, SUA CABEÇA DOIA E AQUELA FRASE MARTELAVA-LHE CONTINUAMENTE:
“... EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO.”
NÃO PODIA SER VERDADE. O PAULO NEM MESMO GOSTAVA DE CRIANÇAS, E ELE SEMPRE USAVA CAMISINHA, MESMO COM ELA.
‘-TUDO BEM DRA. REBECA?’
ELA NÃO OUVIU, ALIÁS, ELA NÃO OUVIA, NEM VIA NADA. FOI ATÉ O STAR MÉDICO, PEGOU A SUA BOLSA, ESTAVA ATONITA. FICOU ALGUM TEMPO PARADA NO MEIO DO QUARTO, SEM SABER ONDE ESTAVA OU O QUE FAZER.
“...EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO.”
NÃO PODIA SER VERDADE. O PAULO NÃO GOSTAVA DE CRIANÇAS. ELES JÁ HAVIAM DISCUTIDO VARIAS VEZES SOBRE ISTO E ELE SEMPRE FORA TAXATIVO. NÃO QUERIA FILHOS. CRIANÇAS ATRAPALHAVAM, ELE TINHA UM FUTURO E NÃO PODERIA DISPERDIÇA-LO COM PROBLEMAS COM FILHOS. E A CAMISINHA? ELE NUNCA ESQUECIA.
MAS... E SE FOSSE VERDADE? ELA ERA MUITO ATRAENTE, TODOS OS MÉDICOS ESTAVAM LOUCOS POR ELA. SEM PRESERVATIVO? COMO ELE PÔDE? ONDE ESTAVA COM A CABEÇA? SERÁ QUE NÃO TINHA NOÇÃO DO PERIGO? PERIGO!! ELE TAMBÉM HÁ HAVIA EXPOSTO AO PERIGO... CANALHA!!
REBECA SAIU DO QUARTO, CAMINHAVA COMO UM ZUMBI, NÃO OUVIA, NEM VIA NADA AO SEU REDOR.
‘-JOSEFA, EU NÃO ESTOU ME SENTINDO BEM. DISPENSE OS ALUNOS POR FAVOR, E AVISE-OS QUE DEPOIS NÓS REMARCAREMOS A AULA.’
‘-TUDO BEM DRA. REBECA. A SENHORA VAI PRA CASA? QUER QUE EU CHAME UM TÁXI? REALMENTE A SENHORA NÃO PARECE MUITO BEM...’
‘-NÃO, OBRIGADO. EU PREFIRO CAMINHAR.’
ELA DEIXOU O HOSPITAL E CAMINHOU ATÉ O APARTAMENTO QUE FICAVA A APENAS DUAS QUADRAS. TÃO LOGO SE VIU EM CASA COMEÇOU A CHORAR. COMO ELE PÔDE FAZER ISTO? SEM CAMISINHA? CANALHA!! ALÉM DE TREPAR COM TODAS AQUELAS VADIAS AINDA NÃO USAVA CAMISINHA. ELE PODERIA TÊ-LA CONTAMINADO.
E AQUELA VADIA, AQUELA PUTA LOIRA, AH! AH! AH!, LINDO!
“... EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO.”
MARIDO!? ELE NEM MESMO É MEU MARIDO. AMANTE QUERIDINHA, O TERMO CORRETO É AMANTE. NÓS NÃO TEMOS UM CASAMENTO, NÓS TEMOS UM CASO. UM CASO DURADOURO, MAS UM CASO...
REBECA FOI ATÉ A COZINHA E ABRIU UMA LATINHA DE CERVEJA. ELA QUASE NÃO BEBIA, NA VERDADE ELA ERA POUCO RESISTENTE AO ALCOOL. SEMPRE TINHA BEBIDA EM CASA POR CAUSA DO PAULO E PARA RECEBER OS AMIGOS, MAS NAQUELE DIA ELA PRECISAVA BEBER. PRECISAVA DESESPERADAMENTE, ELA ACHAVA QUE IRIA ENLOUQUECER. AQUELA FRAZE NÃO LHE SAIA DA CABEÇA:
“... EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO.”
ELA QUERIA SUMIR, DESAPARECER. QUEM SABE SE BEBESSE UM POUCO... ELA NUNCA FORA MUITO RESISTENTE AO ÁLCOOL, LOGO ADORMECERIA E QUANDO ACORDASSE VERIA QUE ERA TUDO UM SONHO.
SEM CAMISINHA, SEM CAMISINHA, COMO ELE PÔDE FAZER ISTO? ELA NÃO QUERIA DORMIR, NÃO... SERIA MUITO POUCO... QUERIA DORMIR POR UM LONGO TEMPO, BEBERIA ATÉ ENTRAR EM COMA. QUEM SABE PERDESSE A MEMÓRIA... ENTÃO... AQUILO NÃO ESTARIA ACONTECENDO. MAS A FRASE MARTELOU-LHE NOVAMENTE NA CABEÇA:
“... EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO.”
ELA NÃO QUERIA ACORDAR NUNCA MAIS, ERA ISTO, DORMIR PARA SEMPRE... NÃO TINHA MOTIVOS PARA ACORDAR, NÃO TINHA NADA. NÃO TINHA UM CASAMENTO, NÃO TINHA UM MARIDO, ELES NEM MESMO MORAVAM JUNTOS... ELE NUNCA LHE DERA NADA, E AINDA COLOCOU-A EM PERIGO. ELA NÃO TINHA NADA! NÃO TINHA MOTIVOS PARA ACORDAR, NUNCA MAIS. IRIA BEBER, BEBER ATÉ NÃO ACORDAR MAIS...
ASSIM QUE ACABOU O ÚLTIMO EXAME AMANDA DEIXOU O SETOR DE ERGOMETRIA E SUBIU AO SEXTO ANDAR. ESTAVA LOUCA DE SAUDADES DE REBECA, AINDA NÃO TINHA FALADO COM ELA APÓS AS FÉRIAS. TINHA MUITA COISA PRA FOFOCAR, COLOCAR EM DIA.
‘-OI, JOSEFA! AONDE ESTÁ A REBECA?’
‘-AH, QUE BOM QUE VOCÊ APARECEU...’
‘-PORQUE? ACONTECEU ALGUMA COISA?’ PERGUNTOU AMANDA AFLITA.
A SECRETÁRIA TINHA UM AR BASTANTE APREENSIVO, ESTAVA REALMENTE PREOCUPADA.
‘-NÃO SEI, MAS A DRA. REBECA VOLTOU DO CAFÉ BASTANTE ESQUISITA, DISPENSOU OS ALUNOS E DISSO QUE IA PRA CASA.’
‘-ESQUISITA? COMO ASSIM? ELA FALOU ALGUMA COISA?’
‘-ELA NÃO FALOU NADA, NA VERDADE PARECIA QUE NÃO ESTAVA ESCUTANDO NADA...’
‘-AH, NÃO! TUDO BEM JOSEFA, OBRIGADO.’
AMANDA FICOU SUBTAMENTE PREOCUPADA, AQUELE ESTADO DE APATIA JÁ TINHA ACONTECIDO UMA VEZ, HÁ MUITO TEMPO, QUANDO REBECA DESCOBRIU O PRIMEIRO CASO DE PAULO E AS CONSEQUÊNCIAS NÃO TINHAM SIDO NADA BOAS.
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