CAP 22
REBECA SEMPRE ACOMPANHAVA SEUS PACIENTES AO CENTRO CIRURGICO. FAZIA QUESTÃO DE ESTAR COM AS CRIANÇAS, ATÉ O MOMENTO EM QUE ELAS IRIAM ENTRAR NO GRANDE CORREDOR ASSÉPTICO, SABIA QUE ISTO OS DEIXAVA CONFIANTES E DIMINUIA O MEDO DIANTE DA BRUTAL REALIDADE DE SER SUBMETIDO A UM PROCEDIEMNTO OPERATÓRIO.
O PEQUENO MATHEUS, SERIA SUBMETIDO A UMA CORREÇÃO DE CRIPTORQUIDIA. ELE HAVIA NASCIDO COM UM DOS TESTÍCULOS FORA DE POSIÇÃO, E STIVE LEÃO IRIA CORRIGIR ESTE PROBLEMA, EVITANDO ASSIM QUE ELE SE TORNASSE INFÉRTIL NO FUTURO. ERA UMA CIRURGIA SIMPLES, BANAL, PRINCIPALMENTE QUANDO O CIRURGIÃO ERA STIVE LEÃO, MAS AINDA ASSIM REBECA FEZ QUESTÃO DE ACOMPANHAR SEU PACIENTE ATÉ A ENTRADA DO CENTRO CIRURGICO NO SEGUNDO ANDAR DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO. TÃO LOGO A CRIANÇA ENTROU PELO CORREDOR, DEIXANDO-A DO LADO DE FORA, ELA ESCUTOU ATRAS DE SI UMA VOZ DOLOROSAMENTE FAMILIAR.
‘-REBECA!’ PAULO FALOU, ENQUANTO TOCAVA-LHE DELICADAMENTE O OMBRO.
E FOI COMO SE UMA DESCARGA ELETRICA TIVESSE LHE PERCORRIDO TODO O CORPO. SEU CORAÇÃO SE ACELEROU, A BOCA FICOU SECA E AS MÃO TREMIAM. FOI UMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS E ELA TEVE UM TRABALHÃO DANADO PARA SE RECOMPOR. MAS, QUANDO VIROU-SE PARA ELE, TINHA NO ROSTO UMA MASCARA INESPRESSIVA E FRIA QUE O CHOCOU.
‘-BOM DIA!’ FALOU ASPERAMENTE.
‘-SERÁ QUE NÓS PODEMOS CONVERSAR? VOCÊ PODE TOMAR UM CAFÉ COMIGO?’
‘-NÓS NÃO TEMOS NADA PARA CONVERSAR, E EU ESTOU ATRASADA, COM LICENÇA.’
‘-ESPERE, POR FAVOR, REBECA, VOCÊ TEM QUE ME DAR UMA CHANCE...’
MAS ANTES QUE ELE TERMINASSE A FRASE ELA O INTERROMPEU COM RIGOR.
‘-PAULO, NÓS JÁ DISSEMOS TUDO. NÃO HÁ MAIS NADA. ACABOU. E, POR FAVOR, NÃO INSISTA. ACABOU. DESCULPE-ME, MAS EU ESTOU ATRASADA.’
ELA SAIU, E ELE FICOU ALI, DE PÉ, DIANTE DA PORTA DO CENTRO CIRURGICO. NÃO ACREDITAVA NO QUE ACABARA DE OUVIR. NÃO ERA POSSIVEL, ELA NÃO PODIA ESTAR FALANDO A VERDADE. OS SEUS PENSAMENTOS FORAM INTERROMPIDOS PELA MEDICA LOIRA QUE SAIU DO ELEVADOR.
‘-PAULO! QUE BOM TE ENCONTRAR, EU PRECISAVA MESMO FALAR COM VOCÊ. SERÁ QUE PODEMOS ALMOÇAR JUNTOS?’ PERGUNTOU KARINA
‘-HUM!?... AH! DESCULPE-ME, HOJE NÃO VAI DAR, ESTOU COM A GRADE CHEIA.’
‘-TUDO BEM, DEPOIS NÓS COMBINAMOS, ENTÃO.’ ELA BEIJOU-O FURTIVAMENTE NA BOCA ANTES DE ENTRAR NO VESTIARIO FEMININO.
REBECA SUBIU AS ESCADAS ATÉ O SEXTO ANDAR COM ENORME DIFICULDADE. UMA ANGUSTIA SEM TAMANHO ABAFANDO-LHE O PEITO, E ELA FAZIA UM ESFORÇO TREMENDO PARA NÃO CHORAR. ENTROU RAPIDAMENTE NO STAR MEDICO, E SE TRANCOU NO BANHEIRO. NÃO PODE MAIS SEGURAR AS EMOÇÕES E AS LÁGRIMAS COMEÇARAM A JORRAR ENTRE SOLUÇOS. AH, MEU DEUS! JÁ HAVIAM SE PASSADO QUASE TRÊS SEMANAS, MAS ELA AINDA SE SENTIA COMPLETAMENTE ATRAÍDA POR ELE. COMO TINHA SIDO DIFÍCIL DIZER NÃO, QUANDO A VONTADE ERA CAIR EM SEUS BRAÇOS... MAS, ENTÃO A MALDITA FRASE ENCHEU-LHE A MENTE “EU ESTOU GRÁVIDA DO SEU MARIDO”.
‘-ELE É UM CANALHA! NÃO TE MERECE. ESQUEÇA-O E TRATE DE SER FELIZ.’ ELA FALOU CONSIGO MESMA, TENTANDO INCUTIR-LHE ÂNIMO, MAS UM PROFUNDO VAZIO ERA O QUE SENTIA DENTRO DO PEITO.
ERA COMO SE TIVESSEM LHE ARRANCADO AS ENTRANHAS, E ELA ESTIVESSE SECA POR DENTRO. SERÁ QUE ALGUM DIA SERIA CAPAZ DE AMAR NOVAMENTE? ELA TINHA MEDO DE NÃO CONSEGUIR. SERÁ QUE ALGUM DIA IRIA ESQUECÊ-LO? VÊ-LO TODOS OS DIAS ESTAVA SENDO DOLOROSO, MAS ELA NÃO PODERIA FICAR FUGINDO PARA SEMPRE, AFINAL ELES TRABALHAVAM NO MESMO HOSPITAL. QUEM SABE SE FIZESSE UMA VIAGEM? TALVEZ ALGUMAS SEMANAS FORA, LHE FIZESSEM BEM. ELA PODERIA PEDIR FERIAS...
LEVANTOU-SE, ENXUGOU AS LÁGRIMAS, LAVOU O ROSTO E SAIU DO QUARTO. IMEDIATAMENTE DEU DE CARA COM VIVIANE.
‘-QUE BOM, ERA COM VOCE MESMO QUE EU QUERIA FALAR.’
‘-OI, REBECA. O QUE VOCE QUER?’
‘-ESTOU PENSANDO EM SAIR DE FÉRIAS, ACHO QUE VAI ME FAZER BEM...’
‘-EU TAMBÉM ACHO, UMA MUDANÇA DE ARES VAI AJUDÁ-LA.’
‘-VOU COMUNICAR AO PROF. MARCONDES, E VOU INDICA-LA PARA O STAFF NO FIM DO ANO. GOSTARIA QUE VOCÊ ASSUMISSE MEUS PACIENTES, ENQUANTO EU ESTIVER FORA...’
VIVIANE FICOU ATONITA. NÃO PODIA ACREDITAR NO QUE OUVIA. INDICA-LA PARA O STAFF? ISTO SIGNIFICAVA FAZER PARTE DA SELETA COMUNIDADE DE MÉDICOS DO HOSPITAL UNIVERSITARIO.
‘-VOCÊ VAI ME INDICAR PARA O STAFF?’
‘-PUTA MERDA, VIVIANE! É CLARO QUE SIM! OU VOCÊ TINHA ALGUMA DÚVIDA DISSO?’
‘-EU... NÃO... É....’ A RESIDENTE NÃO ACREDITAVA NO QUE ESTAVA OUVINDO, ERA TUDO O QUE ELA QUERIA. ABRIU UM ENORME SORRISO E ABRAÇOU A AMIGA.
‘-PUXA, REBECA, OBRIGADA!’
‘-EI, PARE DE ME AGRADECER, SE VOCÊ NÃO FOSSE UM BOCADO BOA E COMPETENTE, EU NÃO ESTARIA TE INDICANDO. E... VOCÊ TERÁ UM TRABALHO PESADO PELA FRENTE, E NÃO PENSE QUE A REMUNERAÇÃO É MILIONÁRIA COMO MUITOS ACHAM....’
‘-ISTO NÃO INTERESSA. FAZER PARTE DO STAFF DO HU É O QUE SEMPRE QUIS, NÃO TENHO MEDO DE TRABALHO, E... QUANTO A QUESTÃO FINANCEIRA.... NÃO SOU ASSIM TÃO AMBICIOSA, NEM PRETENDO ME TORNAR MILIONÁRIA.’
‘-ENTÃO?! SERÁ QUE POSSO VIAJAR TRANQUILA?’
‘-NO QUE DEPENDER DE MIM, VOCÊ NÃO PRECISA SE PREOCUPAR COM NADA.’
‘-ÓTIMO, VIVIANE OBRIGADA.’
‘-EU É QUE TENHO QUE AGRADECER.’
***
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário