sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Caminhos Cruzados Cap 14

CAP. 14

AMANDA SAIU APRESSADA E ENQUANTO CORRIA PARA O CARRO PEGOU O TELEFONE E DISCOU PARA AMIGA.

‘-VOCÊ LIGOU PARA DRA. REBECA, NO MOMENT...’
‘-OH, NÃO! DROGA! ONDE VOCÊ ESTÁ MINHA AMIGA?’ AMANDA LIGOU PARA A CASA DE REBECA.
‘-ALÔ.’ FALOU REBECA COM A VOZ COMPLETAMENTE ENROLADA.
‘-REBECA! VOCÊ BEBEU? O QUE ACONTECEU?’
‘-OI, AMANDA. EU BEBI SÓ UM POUQUINHO...’
‘-UM POUQUINHO! VOCÊ ESTÁ COMPLETAMENTE EMBRIAGADA!’ AMANDA FALAVA COM UM TOM DE VOZ ENERGICO, QUASE GRITANDO
‘-É ACHO QUE BEBI UM POUCO, EU QUERO FICAR BÊBADA, QUERO ENTRAR EM COMA, É ISTO AÍ... COMA ALCOOLICO, DORMIR... DORMIR PARA SEMPRE...’ REBECA FALAVA DE FORMA QUASE ININTELIGIVEL, COM A VOZ PASTOSA, AS PALAVRAS SE ENROLANDO NA SUA LÍNGUA.

AMANDA FICOU AFLITA. O QUE ELA QUERIA DIZER COM AQUILO? DORMIR? DORMIR PARA SEMPRE? ENQUANTIO GUIAVA O CARRO ELA PROCUROU MANTER A AMIGA AO TELEFONE PARA TER CERTEZA DE QUE ELA AINDA ESTAVA BEM.

‘-REBECA! REBECA! VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO. EU ESTOU INDO PARA AÍ, NÃO DESLIGA, EU ESTOU COM VOCÊ. O QUE FOI? O QUE ACONTECEU? FOI O PAULO?’
‘-O PAULO... É FOI. FOI O PAULO... ELE E AQUELA VADIA... AQUELA PUTA LOIRA...’
‘-QUEM? QUEM, REBECA?’
‘-AQUELA VADIA, RESIDENTE... SABE QUE ELE PODIA TER ME COLOCADO EM RISCO?... COMO ELE PÔDE FAZER ISTO?...’
‘-REBECA NÃO DESLIGA, JÁ ESTOU CHEGANDO.’
‘-VADIA... A VADIA E O TARADO... ELE É TARADO, SABIA?... E ELA É UMA PUTA... PUTA MENTIROSA...’

AMANDA ESTACIONOU O CARRO E SALTOU RAPIDAMENTE, ENTROU NO PREDIO, CUMPRIMENTOU O PORTEIRO DE FORMA RÁPIDA E SUBIU.

‘-REBECA! REBECA! SOU EU AMANDA. QUER ABRIR?’ GRITOU ENQUANTO BATIA NA PORTA.
‘-QUEM?!... AMANDA? AH! AMANDA, MINHA AMIGA...’ A VOZ DE REBECA ESTAVA COMPLETAMENTE PASTOSA.
AMANDA OUVIU O BARULHO DE UM CORPO CAINDO E O SOM DE VIDRO SE ESPATIFANDO, FICOU APAVARODA.
‘-REBECA.’ GRITOU ‘-POR FAVOR, ABRA A PORTA. VOCÊ ESTA ME ASSUSTANDO.’

ENTÃO ELA OUVIU A CHAVE GIRAR NA FECHADURA E A PORTA SE ABRIU. A CENA QUE SE DESENHOU NA SUA FRENTE ERA DEPRIMENTE. REBECA ESTAVA SENTADA NO CHÃO AO LADO DA PORTA, COMPLETAMENTE EMBRIAGADA, OS CABELOS EM DESALINHO, O ROSTO VERMELHO E ENCHARCADO DE LÁGRIMAS. AINDA VESTIA A ROUPA COM QUE SAIRA DO HOSPITAL, MAS ESTAVA COMPLETAMENTE AMARROTADA. AQUELA NÃO ERA A SUA AMIGA, ERA UM TRAPO DE GENTE.
AMANDA JÁ HAVIA PRESENCIADO AQUILO HÁ UNS OITO ANOS ATRÁS, QUANDO REBECA DESCOBRIRA A PRIMEIRA TRAIÇÃO DE PAULO. ELA REAGIU DA MESMA FORMA, SE EMBRIAGANDO. MAS DESTA VEZ TINHA SIDO PIOR. ELA NUNCA TINHA VISTO A AMIGA TÃO EMBRIAGADA, REBECA NUNCA FORA MUITO RESISTENTE AO ÁLCOOL, NA VERDADE PRATICAMENTE NÃO BEBIA.
ELA LEVANTOU REBECA, NÃO SEM DIFICULDADES, JÁ QUE ELA NÃO COOPERAVA E TRANCOU A PORTA DO APARTAMENTO. HAVIA CACOS DE VIDRO PELO CHÃO E UMA GARRAFA DE WISK QUASE VAZIA NO TAPETE, ALGUMAS LATAS DE CERVEJA ESTAVAM SOBRE A MESA.

‘-REBECA, MINHA AMIGA, O QUE VOCÊ FEZ? O QUE VOCE BEBEU? FOI SÓ ÁLCOOL? VOCÊ INGERIU ALGUM COMPRIMIDO?’
‘-NÃO! NADA DE COMPRIMIDOS, EU ESTOU SÓ BEBENDO, ESTOU COMEMORANDO, VAMOS BRINDAR?’
‘-POR FAVOR! REBECA, PUTA MERDA! SE CONTROLE, COMEMORAR O QUE? EU NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA.’
‘-UÉ, A NOVIDADE... O PAULO E AQUELA PUTA... AH! AH! AH! A VADIA LOIRA DA RESIDENCIA... AH! AH! AH!’
‘-POR FAVOR, PELO AMOR DE DEUS! VOCÊ ESTA PRECISANDO DE UM BANHO, DEPOIS UM CAFÉ, QUANDO VOCE ESTIVER MELHOR NÓS CONVERSAREMOS.’

AMANDA CARREGOU A AMIGA PARA O BANHEIRO, ENQUANTO REBECA RESMUNGAVA PALAVRAS ININTELIGIVEIS. RETIROU-LHE A ROUPA E A ENFIOU EMBAIXO DO CHUVEIRO. ABRIU A TORNEIRA E DEIXOU A ÁGUA CAIR-LHE NO CORPO. SENTOU-SE SOBRE A TAMPA DO VASO SANITÁRIO E FICOU AO LADO DA AMIGA. O QUE TERIA ACONTECIDO? ALGUMA COISA MUITO SERIA. É CLARO QUE ENVOLVIA O PAULO, E A NOVA RESIDENTE.
AMANDA OBSERVOU QUE REBECA SE ACALMARA, DEIXOU-A EMBAIXO DO CHUVEIRO E FOI ATÉ A SALA DAR UMA ARRUMADA NA BAGUNÇA. JUNTOU A GARRAFA DE WISK E AS LATAS DE CERVEJA, VARREU OS CACOS DE VIDRO E JOGOU FORA. NA COZINHA AINDA HAVIA UMA GARRAFA DE VODKA ABERTA E PELA METADA, NÃO SABIA O QUANTO REBECA HAVIA BEBIDO.PODIA CALCULAR QUE NÃO FORA POUCO. LIGOU A CAFETEIRA E PREPAROU-A PARA FAZER UM CAFÉ.
RETORNOU AO BANHEIRO, REBECA ESTAVA NA MESMA POSIÇÃO. NÃO RESMUNGAVA MAIS, AGORA APENAS CHORAVA, SILENCIOSAMENTE, AS LÁGRIMAS ESCORRIAM-LHE PELA FACE, ELA TINHA UM ASPECTO HORRIVEL. AMANDA FECHOU O CHUVEIRO, AJUDOU-A A LEVANTAR-SE E ENROLOU-A NA TOALHA. ACOMPANHOU-A ATÉ O QUARTO E SENTOU REBECA NA CAMA.

‘-AGORA SE ENXUGUE ENQUANTO EU PROCURO ALGUMA COISA PARA VOCÊ VESTIR.’
ENTREGOU A AMIGA UMA CALCINHA. REBECA TENTOU SE LEVANTAR PARA VESTI-LA, MAS ACABOU CAINDO SENTADA NA CAMA.
‘-EPA!, DEIXA QUE EU AJUDO.’ AJUDOU-A A VESTIR A CALCINHA E DEPOIS VESTIU-LHE TAMBEM A CAMISOLA. PERCEBEU QUE REBECA ESTAVA BEBADA DEMAIS ATÉ PARA UM CAFÉ. DEITOU-A NA CAMA E ESPEROU QUE ELA ADORMECESSE.
ESTAVA SENTADA NA SALA TOMANDO UMA XÍCARA DE CAFÉ QUANDO O TELEFONE TOCOU.

‘-ALO.’
‘-UÉ, QUEM ESTÁ FALANDO?’
‘-AMANDA.’
‘-CADÊ A REBECA? AQUI É O PAULO.’
‘-CANALHA! VOCÊ AINDA PERGUNTA? SUA MULHER ESTÁ NA CAMA, COMPLETAMENTE BEBADA. ACHO QUE SE EU NÃO TIVESSE CHEGADO AQUI A TEMPO ELA ESTARIA EM COMA ALCOOLICO, EU NUNCA VI ALGUÉM BEBER TANTO.’
‘-NÃO GRITA COMIGO, E NÃO ME XINGUE.’
‘-EU GRITO, GRITO SIM. E XINGO TAMBÉM, SEU CANALHA! O QUE É QUE VOCÊ APRONTOU DESTA VEZ?’
‘-ISTO NÃO É DA SUA CONTA. EU NÃO LHE DEVO SATISFAÇÕES...’
‘-É DA MINHA CONTA SIM. QUALQUER COISA QUE DEIXE A MINHA AMIGA NESTE ESTADO É DA MINHA CONTA , SEU CANALHA SAFADO!’
‘-POR FAVOR, AMANDA. E A REBECA, COMO ELA ESTÁ?’
‘-AGORA ESTA BEM. VAI ACORDAR COM UMA PUTA RESSACA, MAS VAI ACORDAR. VOCÊ QUASE A MATOU SEU DESGRAÇADO, O QUE VOCÊ FEZ?’
‘-EU VOU DESLIGAR PORQUE NÃO QUERO SER GROSSO. JÁ SEI QUE ELA ESTA BEM, AMANHA EU CONVERSO COM ELA E ESCLAREÇO TUDO.’
‘-CANALHA!’

AMANDA DESLIGOU O TELEFONE COMPLETAMENTE TRANSTORNADA. TOMOU UM POUCO MAIS DE CAFÉ E SÓ ENTÃO LEMBROU-SE DE QUE TINHA MARCADO COM GUSTAVO. ELE IRIA APANHÁ-LA PARA IREM AO TEATRO. MAS COM REBECA NAQUELE ESTADO ERA IMPOSSÍVEL. ELA TERIA QUE DORMIR NO APARTAMENTO DA AMIGA, BOM LIGARIA PARA ELE E AVISARIA.

‘-AlÔ!’
‘-OI, GUSTAVO...’
‘-AMANDA! QUE BOM, ONDE VOCÊ ESTÁ? EU ESTOU NA SUA CASA E NÃO CONSIGO FALAR COM VOCÊ, SEU TELEFONE NÃO ATENDE?’
‘-DESCULPE, O TELEFONE DEVE ESTAR SEM BATERIA. ESTOU NA CASA DA REBECA. DESCULPE MESMO.’
‘-TUDO BEM. ACONTECEU ALGUMA COISA?’
‘-MUITA COISA, EU VOU TER QUE DORMIR AQUI. SINTO MUITO.’
‘-AH! TUDO BEM, MAS... O QUE FOI?’
‘-EU AINDA NÃO SEI. ALGUMA COISA COM O PAULO E UMA RESIDENTE A REBECA ESTA COMPLETAMENTE BEBADA. SE EU NÃO TIVESSE CHEGADO AQUI ACHO QUE ELA IRIA BEBER ATÉ ENTRAR EM COMA.’
‘-MAS... ELA ESTÁ BEM?’
‘-AGORA SIM. EU DEI-LHE UM BANHO E ELA ESTÁ DORMINDO. MAS EU NUNCA VI ALGUÉM BEBER TANTO ASSIM. ELA MISTUROU TUDO, CERVEJA, WISK, VODKA E A REBECA E MUITO POUCO RESISTENTE AO ÁLCOOL.’
‘-BEM, PELO MENOS VOCÊ CHEGOU A TEMPO.’
‘-E NÓS VAMOS TER QUE CANCELAR O TEATRO...’
‘-NÃO FAZ MAL, ELA É SUA AMIGA. É O MINIMO QUE VOCÊ PODERIA FAZER.’
‘-VOCÊ NÃO VAI FICAR CHATEADO, VAI?’
‘-É CLARO QUE NÃO. NÓS PODEMOS MARCAR OUTRO DIA. MAS... VOU FICAR COM SAUDADES.’
‘-OBRIGADO.’
‘-VOCÊ PRECISA DE ALGUMA COISA? QUER QUE EU VÁ ATÉ AÍ?’
‘-NÃO, ESTÁ TUDO BEM. E EU ACHO QUE A REBECA NÃO GOSTARIA DE SER VISTA NESTE ESTADO POR MAIS NINGUÉM.’
‘-ENTENDO. BOM, ENTÃO BOA NOITE. AH!, SE PRECISAR DE ALGUMA COISA, QUALQUER COISA, É SÓ ME LIGAR TÁ BOM?’
‘-TUDO BEM, OBRIGADO.’
‘-BOA NOITE. BEIJO NA BOCA. E, ESTOU MORRENDO DE SAUDADES.’
‘-BOA NOITE, BEIJO. TAMBÉM ESTOU COM SAUDADE.’

AMANDA TERMINOU O CAFÉ E RESOLVEU SE DEITAR TAMBÉM. COMO JÁ ESTAVA ACOSTUMADA COM OS PLANTÕES NÃO FOI DIFÍCIL ESTAR SEM CAMISOLA OU PIJAMA. TIROU AS BIJOTERIAS, O SAPATO, O SUTIÃ, O CINTO, ABRIU O FECHO DA CALÇA E SE DEITOU NA CAMA DE CASAL AO LADO DE REBECA QUE DORMIA A SONO ALTO. NÃO DEMOROU MUITO E ELA TAMBÉM ADORMECEU.


***

Nenhum comentário: