sábado, 18 de setembro de 2010

Caminhos Cruzados Cap 17

CAP. 17

PAULO SAIU DO PLANTÃO APRESSADO, QUERIA PASSAR EM CASA PARA TOMAR UM BANHO E SE PREPARAR PARA O ENCONTRO COM REBECA. ESTA NOITE ELE TERIA QUE SER PERFEITO SE QUIZESSE CONTORNAR A SITUAÇÃO. QUANDO SAIU DE CASA ERAM QUASE OITO HORAS, CHEGOU AO APARTAMENTO DE REBECA AONDE ELA JÁ O ESPERAVA. NA PORTA QUIS BEIJÁ-LA, MAS REBECA VIROU O ROSTO RECUSANDO O CARINHO, ELE SE SENTIU TENSO. A SITUAÇÃO ESTAVA MUITO MAIS COMPLICADA DO QUE ELE ESPERAVA. REBECA ESTAVA CONTROLADA, SÉRIA, QUASE FRIA, QUANDO O RECEBEU.

‘-BOA NOITE.’ FALOU SEM QUALQUER EMOÇÃO NA VOZ.
‘-BOA NOITE, AMOR.’ PAULO RESPONDEU TENTANDO QUEBRAR O GELO.
‘-POR FAVOR, ME CHAME DE REBECA. VOCÊ ESTÁ COM FOME?’

PAULO PERCEBEU QUE NÃO HAVIA MESA POSTA OU QUALQUER SINAL DE QUE ELA O ESTIVESSE ESPERANDO PARA JANTAR E APESAR DE ESTAR COM FOME PREFERIU NEGAR.

‘-NÃO, EU COMI ANTES DE SAIR DE CASA.’
‘-ÓTIMO!, ASSIM PODEMOS COMEÇAR A NOSSA CONVERSA LOGO.’
‘-CLARO!’

A FRIEZA NA VOZ DE REBECA O ASSUSTOU. ELE NUNCA A TINHA VISTO AGIR ASSIM. TODAS AS VEZES EM QUE ELES BRIGAVAM, MOMENTOS EM QUE ROMPERAM TEMPORARIAMENTE ELE SEMPRE CONSEGUIA TRAZÊ-LA DE VOLTA FACILMENTE. MESMO QUANDO ELA ESTAVA MAGOADA, ELE PODIA PERCEBER NO TOM DE SUA VOZ QUANDO ELES DISCUTIAM QUE ELA ESTAVA EM SUAS MÃOS, BASTAVA ELE ESTALAR OS DEDOS E ELE ESTARIA AOS SEUS PÉS.

‘-VOCE BEBE, ALGUMA COISA?’
‘-UM WISK.’
‘-NÃO TENHO MAIS O JACK DANIEL’S...’
‘-QUALQUER UM ESTÁ BOM. ALIÁS, É MELHOR QUE SEJA UM COM GELO.’

REBECA SERVIU UMA DOSE E ENTREGOU O COPO A PAULO. QUANDO SEUS DEDOS SE TOCARAM ELE SENTIU UM ARREPIO, A MÃO DE REBECA ESTAVA TÃO FRIA QUANTO SUAS PALAVRAS.

‘-EU QUERO QUE VOCÊ ME ESCUTE. ESCUTE O QUE EU VOU DIZER, DEPOIS PODE FALAR O QUE QUIZER.’
‘-TUDO BEM.’
‘-EU ESTIVE PENSANDO MUITO, HOJE. ALIÁS, EU PENSEI O DIA TODO. NO FUNDO EU DEVIA ESTAR FELIZ PELO QUE ACONTECEU, POIS ME ABRIU OS OLHOS. EU PUDE VER, ENXERGAR, TIRAR A VENDA QUE EU INSISTIA EM USAR...’ REBECA FEZ UMA PAUSA, RESPIROU FUNDO, ENGOLIU AS LÁGRIMAS QUE AMEAÇAVAM CAIR. PAULO BEBERICOU UMA DOSE DO SEU WISK E PERMANECEU IMÓVEL, ATENTO.
‘-ACABOU, PAULO. ACABOU.’
‘-ACABOU, O QUE?’ ELE PERGUNTOU, EMBORA JÁ SOUBESSE A RESPOSTA.
‘-NÓS DOIS, ACABOU.’
‘-MAS...’
‘-POR FAVOR, ESCUTE. ACABOU, MAS A VERDADE É QUE O NOSSO RELACIONAMENTO ACABOU HÁ MUITO TEMPO... NA VERDADE ACHO QUE ELE REALMENTE SÓ EXISTIU NOS TRÊS PRIMEIROS ANOS...’
‘-REBECA, NÃO DIGA...’ PAULO IRIA RETRUCAR, MAS ELA O INTERROMPEU.
‘-VOCÊ PROMETEU QUE IRIA ME ESCUTAR.’ ELE ASSENTIU COM A CABEÇA.
‘-VAMOS SER FRANCOS, O QUE NÓS TINHAMOS HÁ QUASE SETE ANOS ERA UM RELACIONAMENTO UNILATERAL, ONDE EU TE AMAVA E VOCÊ AMAVA SER AMADO E TER LIBERDADE PARA SUAS AVENTURAS... VOCÊ ME TIROU TUDO, E NÃO ME DEU NADA. VOCÊ NUNCA ME ASSUMIU, NÃO QUIS CASAR, NÓS NEM MESMO MORAMOS JUNTOS... CASAMENTO MODERNO! AH! AH! AH!...’

REBECA, AGORA PERDERA TODO O SEU AUTOCONTROLE. AS LÁGRIMAS QUE ELA REPRIMIRA ATÉ AQUELE MOMENTO COMEÇARAM A ROLAR, MAS ELA NÃO PAROU DE FALAR.

‘-MAS EU TAMBÉM TENHO CULPA, EU PERMITI. EU ME PROSTITUÍ, MEU PREÇO ERA PERMANECER AO SEU LADO, SORVENDO MIGALHAS DO SEU AMOR. AS MIGALHAS QUE SOBRAVAM CADA VEZ QUE VOCÊ VOLTAVA DE UMA NOITE COM UMA DE SUAS VADIAS... AH! AH! AH! OLHA SÓ, QUEM SOU EU PARA CHAMÁ-LAS DE VADIAS. LOGO EU, UMA VERDADEIRA PUTA. EU NÃO PASSO DE OUTRA DE SUAS PUTAS, TAMBÉM ME VENDI. NÃO POR DINHEIRO, MAS POR INSEGURANÇA, POR MEDO DE PERDÊ-LO... PERDER O QUE EU NUNCA TIVE...’
‘-VOCÊ ME TEM, SEMPRE ME TEVE...’
‘-CANALHA! AH! AH! AH! ENGRAÇADO, EU NÃO TENHO RAIVA DELA. NÃO, NÃO FICO CHATEADA POR ELA ESTAR GRÁVIDA, EU SEI QUE VOCÊ NÃO GOSTA DE CRIANÇAS... SABE O QUE ME MAGOOU? DE VERDADE?’
‘-NÃO.’ ELE RESPONDEU COM UM FIO DE VOZ.
‘-O QUE ME MAGOOU, FOI O FATO DE QUE DEPOIS DE DEZ ANOS, DEZ ANOS! VOCÊ NÃO PENSOU EM MIM, NEM UM MINUTO, EU NÃO SIGNIFICO NADA, NADA PRA VOCÊ...’
‘-REBECA... EU... EU SEI QUE ERREI, MAS...’
‘-VOCÊ SABE O QUE SIGNIFICA ELA ESTAR GRÁVIDA? SOBE O QUE SIGNIFICA? QUE VOCÊ NÃO PENSOU NEM UM POUQUINHO EM MIM. VOCÊ TRANSOU SEM CAMISINHA! COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISTO? APOSTO QUE NÃO FOI A PRIMEIRA VEZ... SERÁ QUE VOCÊ TEM IDÉIA DO RISCO AO QUAL ME EXPOS? ALÉM DE ME HUMILHAR PELO HOSPITAL INTEIRO, VOCÊ AINDA PODIA TER ME CONTAMINADO! SEU FILHO DA PUTA! SERÁ QUE VOCÊ PENSOU NISTO?’
‘-REBECA...’ A VOZ DE PAULO SAIU ABAFADA, QUASE INAUDÍVEL, ELE NÃO TINHA FORÇAS PARA CONTESTÁ-LA.
ELA AGORA FALAVA ALTO, MAS AS LÁGRIMAS JÁ NÃO ESCORRIAM MAIS PELA SUA FACE, SEU TOM DE VOZ ERA AMARGO.

‘-SEU CANALHA, FILHO DA PUTA! EU DEI A VOCÊ O MELHOR DE MIM. DEI MEU AMOR, MINHA VIDA, MINHA DIGNIDADE, MEU ORGULHO, POR UMA MIGALHA DO SEU AMOR... E O QUE GANHEI EM TROCA? NADA! NADA! OU MELHOR, QUASE GANHEI... VOCÊ PODIA TER ME CONTAMINADO, CANALHA! MAS VOCÊ NÃO PENSOU NISTO, É CLARO! O GRANDE GARANHÃO, O CONQUISTADOR, MAIS UMA VEZ COM A SUA PRESA NAS MÃOS. COMO PODIA PERDER TEMPO PENSANDO NESTA POBRE PUTA, A VADIA OFICIAL QUE SE CONTENTAVA COM UMA MIGALHA DO SEU AMOR. NÃO, O GRANDE CONQUISTADOR ATACAVA NOVAMENTE...’
‘-REBECA, POR FAVOR. EU SEI QUE ERREI, MAS EU NÃO TIVE CULPA. ELA PRATICAMENTE ME ARRASTOU PARA O CENTRO CIRURGICO E QUASE ME VIOLENTOU... EU ESTAVA SEM CAMISINHA E ACABOU ACONTECENDO.’ PAULO ENTERROU A CABEÇA ENTRE AS MÃOS COM VERGONHA.
‘-AH! AH! AH! QUER DIZER QUE O TARADO DO HOSPITAL FOI ESTUPRADO PELA PUTA LOIRA? ESTA É BOA, COITADINHO, TÃO INGENUO, TÃO FIEL, ELE NÃO QUERIA, OH! QUE PENA...’
‘-POR FAVOR REBECA, NÃO É ISTO. EU SEI QUE ERREI, QUE FUI UM CANALHA... MAS, ME PERDOA. EU SEI QUE FUI IRRESPONSÁVEL, MAS...’
‘-QUANTAS VEZES, PAULO?’
‘-O QUE?’
‘-QUANTAS OUTRAS VEZES, SEU CANALHA, VOCÊ TREPOU COM ESTAS VADIAS SEM CAMISINHA?’ ELA GRITOU NA CARA DELE
‘-NUNCA!’ ELE GRITOU DE VOLTA. ‘ESTÁ FOI A PRIMEIRA VEZ, E NUNCA MAIS VAI SE REPETIR.’
‘-À MIM POUCO ME IMPORTA SE VOCÊ VAI TREPAR COM OU SEM CAMISINHA DAQUI PRA FRENTE. ACABOU!’
‘-REBECA, POR FAVOR! VOCÊ ESTA NERVOSA, COM RAZÃO. MAS, VOCÊ NÃO PODE ACABAR TUDO DESTE JEITO. EU TE AMO.’

ELE TENTOU SE APROXIMAR DELA PARA UMA CARÍCIA, MAS REBECA O REPELIU COM VIOLENCIA.

‘-ACABOU, PAULO. E POR FAVOR, NÃO ME TOQUE COM AS SUAS MÃOS SUJAS E ME POUPE DOS SEUS CHAVÕES BARATOS. VOCÊ NÃO ME AMA. VOCÊ NÃO AMA NINGUEM, SÓ A VOCÊ MESMO.’
‘-NÃO FALE ASSIM. VOCÊ SABE QUE EU TE AMO. VOCÊ É A MINHA MULHER. POR FAVOR, EU TE AMO.’

REBECA SE LEVANTOU E FOI ATÉ O QUARTO. VOLTOU COM UMA MALA E ENTREGOU-A A PAULO.

‘-ACABOU. ACHO QUE SUAS COISAS ESTÃO TODAS AQUI.’ DISSE APONTANDO A MALA.
‘-O QUE É ISTO?’ PAULO LEVANTOU-SE SEM ENTENDER.
‘-EU NÃO QUERO VÊ-LO NUNCA MAIS. ACABOU.’
‘-REBECA...’
‘-SAIA DO MEU APARTAMENTO!. EU NÃO QUERO VÊ-LO NUNCA MAIS.’
A VOZ DE REBECA ESTAVA INCRIVELMENTE CALMA QUANDO ELA PRONUNCIOU A ÚLTIMA FRASE, AO CONTRARIO SUA MENTE ERA UM TURBILHÃO COM AQUELA MALDITA FRASE A MARTELAR-LHE:
“...EU ESTOU GRAVIDA DO SEU MARIDO.’

‘-VOCÊ NÃO PODE TERMINAR TUDO ASSIM... EU VOU TE PROVAR QUE VOCÊ ESTA ENGANADA...’ FALAVA PAULO ENQUANTO SAIA DO APARTAMENTO COMPLETAMENTE TRANSTORNADO.
‘-EU ESTIVE ENGANADA POR DEZ ANOS, MAS AGORA NÃO. EU NUNCA TIVE TANTA CERTEZA DA VERDADE COMO TENHO AGORA.’ REBECA FOI SECA E FECHOU A PORTA ATRÁS DE SI DEIXANDO PAULO ATONITO NO CORREDOR.

TÃO LOGO FECHOU-A, ELA DESABOU, ESCORREGOU LENTAMENTE PARA O CHÃO E COMEÇOU A CHORAR. UMA IMENSA SENSAÇÃO DE AMARGURA TOMOU CONTA DO SEU CORPO. AS LÁGRIMAS AFLORAVAM SEM PUDOR, A RESPIRAÇÃO ERA ENTRECORTADA POR SOLUÇOS. ELA PERMANECEU ALI SENTADA NO CHÃO, IMÓVEL, ATE OUVIR A CAMPAINHA TELEFONE.

‘-ALÔ, REBECA.’
‘-AMANDA...’ FOI TUDO O QUE ELA CONSEGUIU DIZER, ATÉ QUE OS SOLUÇOS NOVAMENTE TOMASSEM CONTA DO SEU PEITO ABAFANDO-LHE A VOZ.
‘-REBECA, TÁ TUDO BEM?’ PERGUNTOU A AMIGA APREÊNSIVA.
‘-TÁ, TÁ TUDO BEM...’
‘-EU ESTOU INDO PARA AÍ.’

REBECA NEM SE DEU AO TRABALHO DE RESPONDER, COLOCOU O TELEFONE NO GANCHO E PERMANECEU SENTADA NO CHÃO, AS LAGRIMAS ESCORRENDO PELO ROSTO NUM PRANTO QUE PARECIA NÃO TER MAIS FIM.

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