CAP. 21
ELA ESTAVA DIRIGINDO O SEU SPORTAGE DOURADO A CAMINHO DO HOPITAL NAQUELA TERÇA FEIRA QUENTE QUANDO O CELULAR TOCOU.
‘-OLÁ!’ ATENDEU AMANDA
‘-É A Dra. AMANDA UPSON?’ PERGUNTOU A VOZ DESCONHECIDA DO OUTRO LADO DA LINHA.
‘-É ELA, QUEM GOSTARIA DE FALAR?’ AMANDA ESTAVA INTRIGADA
‘-QUEM ESTÁ FALANDO É LUCILIA PRADO DA REVISTA PAPARAZZI...
‘-AH NÃO! COMO É QUE VOCÊS CONSEGUIRAM MEU TELEFONE?!?’AMANDA ESTAVA INDIGNADA
‘-POR FAVOR, DRA. AMANDA, VAMOS TENTAR SER RAZOÁVEIS. EU GOSTARIA DE CONVERSAR SOBRE UMA ENTREVISTA.’A REPORTER ESCOLA POR ANOS DE TRABALHO CORRENDO ATRÁS DE CELEBRIDADES ESTAVA TRANQUILA.
‘-OLHA, EU NÃO TENHO NADA PARA FALAR. PORQUE VOCÊS NÃO NOS DEIXAM EM PAZ?’
ELA NÃO HAVIA ACREDITADO QUANDO GUSTAVO ALERTARA QUE A IMPRENSA IRIA COMEÇAR A ASSEDIÁ-LA. DESDE QUE A FOTO DOS DOIS SAÍRA NO JORNAL NÃO TIVERA MAIS SOSSEGO. PRIMEIRO O BURBURINHO NO HOSPITAL, E AGORA ISTO. TODOS ESTES REPORTERES QUERENDO UMA ENTRVISTA. ISTO ERA UM ABSURDO! UMA INVASÃO DE PRIVACIDADE! ELA IRIA ESBRAVEJAR COM A MULHER DO OUTRO LADO DA LINHA QUANDO SE LEMBROU DE QUE GUSTAVO ERA UMA PESSOA PÚBLICA E ELA NÃO PODERIA PREJUDIR A SUA CARREIRA. ENGOLIU A RAIVA E TENTOU SER RAZOÁVEL. OUVIRIA O QUE A REPORTER TINHA A PROPOR E TENTARIA OBTER O MÁXIMO DE VANTAGENS DA SITUAÇÃO.
‘-OLHA, COMO É MESMO O SEU NOME?’
‘-LUCILIA PRADO, PAPARAZZI.’ A REPORTER PERCEBEU QUE ELA HAVIA AFROUXADO A TENSÃO PELO TOM DA VOZ E TEVE CERTEZA DE QUE MAIS UMA VEZ SAIRIA VITORIOSA.
‘-TUDO BEM LUCILIA, EU ESTOU DISPOSTA A ESCUTAR SUA PROPOSTA.’
‘-OK! QUERÍAMOS UMA ENTRVISTA. O ROMÂNCE DE VOCÊS ESTÁ NA BOCA DO POVO E AS FÃS ESTÃO LOUCAS PARA SABER QUEM É A FELIZARDA QUE CONQUISTOU O GALÃ.’
‘-ENTREVISTA... EU NÃO SEI.... EU NÃO SOU DO MEIO ARTISTICO....’AMANDA ESTAVA INSEGURA.
‘-MAS É EXATAMENTE POR ISTO QUE ESTÁ PROVOCANDO TANTO ALVOROÇO. TODOS QUEREM SABER QUEM É A MÉDICA QUE CONQUISTOU O CORAÇÃO DE GUSTAVO FIGUEIRA.’A REPORTER ESTA USANDO TODAS AS SUAS ARMAS PARA CONVENCÊ-LA E AMANDA COMEÇAVA A SENTIR-SE PRESA NUMA ARMADILHA, NUMA TEIA DA QUAL NÃO SABIA SE IRIA CONSEGUIR SE LIVRAR.
‘-NÃO SEI...’ELA AINDA ESTAVA INDECISA
LUCILIA DEU SUA TACADA FINAL, O BOTE CERTEIRO DO QUAL SABIA A MÉDICA NÃO TINHA COMO ESCAPAR.
‘-OLHA, É SIMPLES. MARCAMOS UM ENCONTRO, ALGUMAS PERGUNTAS, DUAS OU TRÊS FOTOS. DEPOIS VOCÊ REVISA A EDIÇÃO FINAL E PRONTO, VOCÊS ESTÃO NA CAPA DA PRÓXIMA PAPARAZZI.’
NAQUELE MOMENTO AMANDA CONSEGUIU PERCEBER O QUE TERIA QUE FAZER. ISTO! SERIA UMA ÓTIMA OPORTUNIDADE, ELA ESTAVA COM O PODER DE BARGANHAR NAS MÃOS. SE ERA INEVITÁVEL E TALVEZ FOSSE A SOLUÇÃO PARA EVITAR TER SEU NOME METIDO EM BOATOS, PODERIA TIRAR PROVEITO DA EXPOSIÇÃO NA MIDIA. ANALISOU A SITUAÇÃO E PERCEBEU QUE O SEU MOVIMENTO REPRESENTAVA UM XEQUE-MATE
‘-TUDO BEM. EU TOPO, MAS COM UMA CONDIÇÃO...’DEIXOU A FRASE NO AR PROPOSITALMENTE, AGORA ERA ELA QUE USAVA DE TODAS AS SUAS ARMAS.
‘-DIGA SEU PREÇO.’LUCILIA FALOU EM TOM DE BRINCADEIRA
‘-QUERO QUE A ENTREVISTA EXPLORE TAMBÉM MEU LADO PROFISSIONAL, PARA QUE POSSA USÁ-LA COMO TRAMPOLIM PARA PROMOVER O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO. ESTA PODE SER UMA BOA OPORTUNIDADE DE CONSEGUIR DOAÇÕES. SE VOCÊ TOPAR, POR MIM TUDO BEM.’
‘-VOCÊ É MUITO ESPERTA DOUTORA. NÃO ACHO DIFÍCIL ENTENDER PORQUE CONQUISTOU O CORAÇÃO DE GUSTAVO FIGUEIRA. OK! VOCÊ VENCEU. FAREMOS DA SUA MANEIRA. EU RETORNO PRA AGENDAR AS ENTREVISTAS.’
‘-OBRIGADA.’
QUANDO DESLIGOU AMANDA FICOU APREENSIVA SEM SABER SE HAVIA FEITO A COISA CERTA. ERA DO CONHECIMENTO DE TODOS QUE OS REPORTERES EDITAVAM SUAS MATÉRIAS AO SABOR DO PÚBLICO, E ELA ERA COMPLETAMENTE INEXPERIENTE. POR OUTRO LADO LUCILIA PRADO ERA UMA RAPOZA VELHA DO MEIO JORNALÍSTICO. MAS, ESTAVA FEITO. NÃO HAVIA COMO VOLTAR ATRÁS. NA TENTATIVA DE DIMINUIR A ANSIEDADE RESOLVEU LIGAR PARA GUSTAVO.
‘-OI AMOR!’
‘-OI QUERIDO!’
‘-O QUE FOI? ESTÁ COM ALGUM PROBLEMA?’ ELA HAVIA PERCEBIDO O TOM DE ANGUSTIA NA VOZ DELA.
‘-É.... NÃO... É, SABE QUEM ACABOU DE ME LIGAR?’
‘-BOM, NÃO FAÇO A MENOR IDÉIA.’
‘-LUCILIA PRADO....’
ANTES QUE ELA TERMIANSSE A FRASE ELE A INTERROMPEU.
‘-AH NÃO! DESCULPE-ME! EU NÃO QUERIA METÊ-LA NESTA CONFUSÃO. EU SEI QUE ESTÁ SENDO MUITO CHATO TUDO ISTO. DESCULPE-ME.’ELE ESTAVA PROFUNDAMENTE CHATEADO.
‘-OLHA VOCÊ NÃO TEM CULPA. E TAMBÉM NÃO ME METEU NESTA CONFUSÃO, EU ENTREI POR CONTA PROPRIA, É O ÔNUS POR SE NAMORAR UM ASTRO E O HOMEM MAIS COBIÇADO DO PAÍS.’ O SEU TOM DE VOZ ERA JOVIAL E DIVERTIDO E ISTO ALIVIOU A TENSÃO UM POUCO
‘-VOCÊ NÃO PRECISAVA ESTAR PASSANDO POR ISTO.’
‘-BEM NÃO VAMOS NOS LAMENTAR, EU TENHO ME SAIDO MUITO BEM NISTO TUDO E ACHO QUE CONSEGUI UM BOM ACORDO COM ELA.’
‘-ACORDO, O QUE É ISTO MOCINHA?’ELE ACHOU GRAÇA
‘-É, ACORDO. VOU DAR A ENTREVISTA PRA MATAR TODAS AS MULHERES DE INVEJA CONTANDO COMO CONQUISTEI O BONITÃO GUSTAVO FIGUEIRA, E DE QUEBRA VOU APROVEITAR PARA PROMOVER O HOSPITAL.’
‘-VOCÊ É REALMENTE INCRÍVEL E NÃO DA PONTO SEM NÓ.’ELE COMEÇOU A RIR DA ASTUCIA DA SUA NAMORADA
‘-EU PERCEBI QUE NÃO HAVIA ESCOLHA E ENTÃO TORNEI A SITUAÇÃO UM POUCO MAIS FAVORÁVEL A MIM.’
‘-E A LUCILIA?’
‘-ACEITOU PROTAMENTE, ELA NÃO TINHA OUTRA ESCOLHA.’AMANDA RIU TRIUNFANTE.
‘-É VOCÊ NÃO DEIXOU ESCOLHA.’
‘-FIZ MAL?’SEU TOM DE VOZ AGORA ERA APREENSIVO
‘-É CLARO QUE NÃO! MAS TENHA O CUIDADO DE EXIGIR RELER A EDIÇÃO ANTES DA PUBLICAÇÃO, ISTO PODE EVITAR MUITA DOR DE CABEÇA.’
‘-OBRIGADO PELA DICA. BEIJOS.’
‘-DISPONHA, BEIJOS MIL, AMOR.’
UMA SEMANA DEPOIS A PAPARAZZI ESTOROU O RECORDE DE VENDAS COM A FOTO DO MAIS NOVO CASAL ESTAPANDA NA CAPA E A MANCHETE:
“ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A CARDIOLOGISTA QUE CONQUISTOU O CORAÇÃO DE GUSTAVO FIGUEIRA”
QUANDO CHEGOU AO HOSPITAL NA QUINTA-FEIRA PELA MANHÃ, AMANDA RECEBEU UM RECADO DA SECRETÁRIA DE QUE O PROF. CARLOS HENRIQUE QUERIA VÊ-LA NO CONSULTÓRIO DELE, TÃO LOGO ELA CHEGASSE. AS COISAS ESTAVAM FUNCIONANDO SEM PROBLEMAS NO SERVIÇO DE CARDIOLOGIA NÃO HAVIA ACONTECIDO NENHUMA ANORMALIDADE NAS ÚLTIMAS SEMANAS, O QUE PODERIA SER? AMANDA FICOU CURIOSA E DIRIGIU-SE IMEDIATAMENTE AO ENCONTRO DO VELHO MÉDICO.
QUANDO ENTROU NO SÓBRIO CONSULTÓRIO DE ONDE O MÉDICO DIRIGIA O SERVIÇO DE CARDIOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO E O DEPARTAMENTO DE CARDIOLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA, ELE ESTAVA AO TELEFONE, MAS FEZ SINAL PARA QUE ELA SE SENTASSE. ERA UMA SALA BEM AO ESTILO DO PROFESSOR CARLOS HENRIQUE, SÓBRIA, MAS IMPONENTE. OS MÓVEIS CLÁSSICOS DAVAM AO AMBIENTE UM AR ACONCHEGANTE. ERA CURIOSO O CONTRASTE DO COMPUTADOR, A IMAGEM DA MODERNIDADE, EM MEIO A ESTANTE E LIVROS VELHOS, RESQUÍCIOS DA MEDICINA DOS TEMPOS ANTIGOS.
‘-BOM DIA! QUE BOM QUE VOCÊ VEIO LOGO, EU ESTAVA ANCIOSO PARA VÊ-LA.’
‘-A MARIA ANTONIA ME AVISOU ASSIM QUE EU CHEGUEI HÁ ALGUNS MINUTOS, MAS... ALGUM PROBLEMA? AS COISAS PARECEM ESTAR CAMINHANDO BEM NO SERVIÇO?’
‘-VOCÊ TEM RAZÃO, NÃO HÁ NENHUM PROBLEMA. ALIÁS, ESTAMOS MUITO BEM E DEVEMOS EM BREVE RECEBER UMA VULTUOSA DOAÇÃO GRAÇAS A VOCÊ.’
‘-A MIM?! NÃO ESTOU ENTENDENDO?’ AMANDA TINHA NA FACE UM AR DE ESPANTO.
‘-LEMBRA-SE DAQUELE PACIENTE QUE VOCÊ RESSUCITOU HÁ ALGUMAS SEMANAS?’
‘-CLARO! FOI UM CASO DIFÍCIL, MAS CONFORTADOR. ELE ERA MUITO JOVEM PARA MORRER.’
‘-E MUITO RICO TAMBÉM. VICE-PRESIDENTE DO BANCO SERRANO, E NA VERDADE É UM DOS HERDEIROS.’
‘-E... ELE QUER FAZER UMA DOAÇÃO?’
‘-NA MOSCA! MAS, COMO VOCÊ DESCOBRIU?’
‘-O PAI DELE, QUE É O PRESIDENTE DO BANCO, PROCUROU-ME ALGUNS DIAS DEPOIS DO ATENDIMENTO PARA AGRADECER E QUERIA ME PRESENTEAR, MAS EU O CONVENCI A FAZER UMA DOAÇÃO PARA O SERVIÇO.’
‘-NÃO SÓ ELE, MAS A DIRETORIA DO BANCO EM PESO APROVOU A DOAÇÃO QUE DEVE GIRAR EM TORNO DE UM MILHÃO PARA O SERVIÇO, E O HOSPITAL TERÁ FACILITAÇÃO DE CREDITO EM FUTURAS NEGOCIAÇÕES. PORTANTO VOCÊ MERECE OS PARABÉNS PELA QUALIDADE DO ATENDIMENTO.’
‘-ESTÁ É REALMENTE UMA ÓTIMA NOTÍCIA. FICO MUITO FELIZ DE TER CONTRIBUIDO.’
O VELHO MÉDICO SORRIU ANTES DE FALAR.
‘-A HUMILDADE SEMPRE FOI UMA DE SUAS QUALIDADES, VOCÊ É A ÚNICA RESPONSÁVEL POR TUDO ISTO.’
‘-NÃO POSSO CONCORDAR COM A SUA OPINIÃO PROFESSOR, POIS UMA PCR REQUER UM TRABALHO DE EQUIPE.’
‘-QUE DEVE COMEÇAR POR UMA CHEFIA COMPETENTE, E AÍ TEMOS VOCÊ DE NOVO NO CENTRO DA AÇÃO.’
AMANDA SORRIU SEM GRAÇA, MAS ESTAVA FELIZ. DOAÇÕES COMO ESTA ERAM SEMPRE BEM VINDAS, POIS OS CUSTOS DE SE MANTER UM SERVIÇO COM A QUALIDADE QUE SE FAZIA NO HGUSL, ERAM ALTOS. SEM CONTAR O INVESTIMENTO EM PESQUISAS QUE NÃO GERAVAM LUCRO DIRETO, MAS, ERAM A BASE DA QUALIDADE E EXCELÊNCIA DO HOSPITAL.
‘-MAS NÃO FOI POR ISTO QUE CHAMEI VOCÊ AQUI.’
‘-NÃO?!’ AMANDA FICOU CONFUSA.
‘-NÃO. NO PRÓXIMO MÊS NÓS IREMOS INDICAR DOIS NOVOS PROFESSORES PARA A UNIVERSIDADE. HÁ ALGUM TEMPO VENHO SOLICITANDO MAIS UM DOCENTE PARA A DISCIPLINA DE CARDIOLOGIA, PRINCIPALMENTE DEPOIS QUE O CLAUDIO FOI PARA A FRANÇA. NÓS ESTAMOS SOBRECARREGADOS. VOCÊ TEM AJUDADO QUANDO MINISTRA AS AULAS DE HIPERTENSÃO E ALGUMAS VEZES COBRE OS FUROS NA GRADE DE AULA, MAS NÃO ACHO JUSTO. NEM COM VOCÊ, NEM COM OS ALUNOS. PORTANTO VOU INDICA-LA PARA O CARGO, ISTO É SE VOCÊ ESTIVER INTERESSADA.’
AMANDA ABRIU UM LARGO SORRISO E FALOU EXULTANTE.
‘-SE EU ESTIVER INTERESSADA? MAS É CLARO! SEMPRE GOSTEI DA DOCÊNCIA, E ACHO QUE NÃO TENHO FEITO MUITO FEIO ATÉ AGORA.’
‘-VOCÊ TEM ESTADO ÓTIMA. CONHECE O ASSUNTO, TEM BOA DIDÁTICA E O QUE É MAIS IMPORTANTE, TEM CARISMA. OS ALUNOS A ADORAM. ESTIVE COMPARANDO OS DIVERSOS AMBULATÓRIOS DO NOSSO SERVIÇO E PECEBI QUE O AMBULATÓRIO CAMPEÃO DE ESCOLHA PARA ESTAGIO ENTRE OS ALUNOS É O DE HIPERTENSÃO. ATÉ MESMO O DE CORONARIA, QUE É NORMALMENTE MUITO PROCURADO, PERDE.’
‘-FICO MUITO FELIZ COM ISTO. E MAIS UMA VEZ TENHO QUE AGRADECÊ-LO, SEM O SEU APOIO ISTO NÃO ESTARIA ACONTECENDO.’
• O VELHO PROFESSOR FINGIU NÃO ESCUTAR O ELOGIO, MAS FICOU VISIVELMENTE SATISFEITO. DESDE O INÍCIO DA RESIDÊNCIA ELE HAVIA CRIADO UMA GRANDE EMPATIA COM AMANDA. TINHA-A COMO UMA FILHA, FOI COM ENORME SATISFAÇÃO QUE VIU SE CONFIRMAREM AS SUAS IMPRESSÕES ACERCA DA CAMPETÊNCIA PROFISSIONAL DA JOVEM MÉDICA, E QUANDO ELA INICIOU A LUTA PELA IMPLEMENTAÇÃO DO AMBULATÓRIO ESPECIALIZADO DE HAS, ELE RECONHECEU EM AMANDA A PERSISTENCIA, A ORGANIZAÇÃO E A PAIXÃO QUE O MOVIAM HÁ ANOS NO EXERCICIO DE SUA PROFISSÃO E DAS FUNÇÕES DE CHEFE DO SERVIÇO E DO DEPARTAMENTO DE CARDIOLOGIA. ELA O CONQUISTOU DEFINITIVAMENTE E ELE RESOLVEU APOSTAR TODAS AS SUAS FICHAS NELA. QUERIA QUE ELA CRESCESSE DENTRO DA INSTITUIÇÃO PARA QUE PUDESSE SUBISTITUÍ-LO NO MOMENTO DE SUA APOSENTADORIA. ELA TINHA AS QUALIDADES NECESSÁRIAS, COMPETENCIA, LIDERANÇA E PAIXÃO. UMA IMENSA PAIXÃO POR AQUILO QUE FAZIA.
‘-E, ENTÃO? POSSO INDICA-LA? ‘
‘-ORA, MAIS ISTO É PERGUNTA QUE SE FAÇA, PROFESSOR? É CLARO!’
ELE RIU DIANTE DA BRINCADEIRA E FALOU
‘-VOU ENVIAR A CARTA HOJE MESMO. PREPARE-SE, LOGO VOCÊ ESTARA PERANTE A BANCA.’
‘-AGUARDAREI ANCIOSAMENTE. AH!..., O ASSUNTO É CONFIDENCIAL?’
‘-NÃO, A COMUNICAÇÃO É ABERTA E DIVULGADA, VOCÊ PODE COMEMORAR COMO QUISER.’
‘-BOM, FICO MUITO FELIZ. MAS TENHO QUE IR, PARA O AMBULATÓRIO FAZER VALER A MINHA INDICAÇÃO.’
‘-TENHA UM BOM DIA.’
ANTES DE SAIR, AINDA NA PORTA DO CONSULTÓRIO, AMANDA VIROU-SE E DISSE UMA SÓ PALAVRA QUE EXPRIMIA TUDO O QUE ESTAVA SENTINDO.
‘-OBRIGADA’
ENQUANTO RETORNAVA AO AMBULATÓRIO, AMANDA ANALISAVA FELIZ A NOVIDADE. MAIS UM SONHO ESTAVA SE REALIZANDO. PROFESSORA ADJUNTA, ELA SEMPRE QUIZERA ISTO. O DIA ESTAVA COMEÇANDO BEM.
REBECA CHEGOU AO HOSPITAL ANTES DAS OITO HORAS. SUBIU DIRETAMENTE PARA O SEXTO ANDAR, QUERIA PASSAR VISITA EM SEUS PACIENTES ANTES DA AULA.
‘-BOM DIA!’ CUMPRIMENTOU A MÉDICA RUIVA.
‘-BOM DIA, DRA. REBECA! JÁ ESTÁ TUDO BEM COM A SENHORA?’
‘-SIM, JOSEFA. E MEUS PACIENTES? COMO ESTÃO?’
‘-BEM. A DRA. VIVIANE SE ENCARREGOU DELES ONTEM.’
‘-OBRIGADO, JOSEFA.’
REBECA GUARDOU AS SUAS COISAS NO ARMÁRIO, VESTIU O JALECO, PEGOU O MATERIAL DE EXAMES E ENTROU NA ENFERMARIA.
‘-OI, VIVIANE! OBRIGADA POR TER ASSUMIDO MEUS PACIENTES, ONTEM’
‘-AH! NÃO FOI NADA, E VOCE? COMO ESTÁ?’
‘-MELHOR, OBRIGADA.’
‘-BOM, NÃO HOUVE NENHUMA GRANDE ALTERAÇÃO. OS PACIENTES MANTIVERAM-SE ESTÁVEIS, MAS TODOS PERGUNTARAM POR VOCÊ.’
‘-ENTÃO ACHO MELHOR EU DAR UMA OLHADA E DIZER-LHES QUE ESTOU BEM.’ REBECA FALOU ENQUANTO SORRIA.
‘-BOM DIA, PEDRINHO!’
‘-BOM DIA, DOUTORA! A SENHORA ESTÁ BEM? O QUE FOI QUE ACONTECEU? TAMBÉM TEVE PROBLEMAS COM OS RINS?’
REBECA NÃO PODE DEIXAR DE RIR DAQUELA CRIATURINHA MINUSCULA FAZENDO TODAS AQUELAS PERGUNTAS.
‘-EU ESTOU BEM, E O MEU PROBLEMA NÃO FOI NOS RINS, MAS AQUI.’ FALOU ENQUANTO APONTAVA PARA O CORAÇÃO.
‘-AH! BEM, MAS A SENHORA É MÉDICA NÉ, E SABE O QUE FAZER PARA FICAR BOA.’
‘-É, SEI. CONVERSAR COM VOCE É UMA BOA MEDIDA.’
‘-ENTÃO NÓS PODEMOS CONVERASAR SEMPRE QUE A SENHORA QUISER.’
‘-OBRIGADO, PEDRINHO. E VOCÊ? COMO ESTÁ?’
‘-ESTOU ÓTIMO! QUANDO VOU PODER IR PRA CASA?’
‘-CALMA! LOGO, LOGO VOCE ESTARÁ EM CASA. ONDE ESTÁ A SUA MÃE?’
‘-ELA FOI ATÉ A LANCHONETE TOMAR CAFÉ.’
‘-TUDO BEM. AGORA DEITE-SE QUE EU PRECISO EXAMINÁ-LO.’
A MANHÃ FOI BASTANTE MOVIMENTADA. DEPOIS DE VER SEUS PACIENTES INTERNADOS, REBECA TINHA UMA AULA PARA OS ALUNOS DO CURSO DE MEDICINA. QUANDO VOLTOU A ENFERMARIA, OS RESIDENTES E INTERNOS A ESTAVAM AGUARDANDO PARA O ROUND. FOI SÓ DEPOIS DE TEREM REVISADO TODAS AS PENDENCIAS E SOLUCIONADO OS PROBLEMAS DE CADA PACIENTE QUE A MOVIMENTADA MANHÃ TERMINOU. VIVIANE ERA R3 DE PEDIATRIA, E UMA DAS PUPILAS DE REBECA, ELA IRIA INDICA-LA PARA COMPOR O STAFF PERMANENTE DO HOSPITAL ESTE ANO. AS DUAS DESENVOLVERAM UMA SOLIDA AMIZADE.
‘-REBECA, TEM UM MINUTO?’
‘_CLARO, VIVIANE. ALGUM PROBLEMA?’
‘-EU NÃO QUERO SER INDISCRETA, MAS O QUE ACONTECEU? VOCÊ PODE ENGANAR A TODOS, MAS NÃO A MIM. VOCÊ NÃO ESTÁ NADA BEM, E... ESTÁ SEM A ALIANÇA...’
REBECA ARMOU UM SORRISO AMARGO NO ROSTO, ENQUANTO OLHAVA PARA O DEDO AGORA VAZIO, SOMENTE COM A MARCA DO LOCAL ONDE A ALIANÇA ESTIVERA POR CINCO ANOS.
‘-EU NUNCA CONSIGO ENGANAR VOCÊ OU A AMANDA. EU E O PAULO TERMINAMOS, OU MELHOR, EU TERMINEI TUDO.’
‘-TERMINOU? MAS... COMO? PORQUE? VOCE ERA TÃO APAIXONADA?’
‘-ERA NÃO, SOU APAIXONADA POR AQUELE CANALHA. MAS ACABOU!’
‘MAS O QUE ACONTECEU?’
‘-A RESIDENTE DE CIRURGIA, AQUELA NOVA, ESTÁ ESPERANDO UM FILHO DELE.’
‘-GRÁVIDA? MEU DEUS! E COMO VOCÊ SOUBE?’
‘-ELA MESMA SE ENCARREGOU DE ME DAR A NOTÍCIA.’ REBECA TINHA UM TOM AMRGO NA VOZ QUANDO PROFERIU A FRASE.
‘-SAFADA! E ELE?’
‘-NÃO CONFIRMOU, MAS TAMBÉM NÃO PODE NEGAR, AFINAL ELES ESTAVAM DORMINDO JUNTOS... MAS, ISTO NÃO ME INTERESSA MAIS. ACABOU! VIVIANE, EU QUERO SER AMADA TAMBÉM!’
A RESIDENTE ABRAÇOU-A E FALOU
‘-ACHO QUE VOCÊ AGIU CORRETAMENTE, ESTOU DO SEU LADO, SE PRECISAR DE QUALQUER COISA.’
‘-OBRIGADA. EI, QUER ALMOÇAR COMIGO?’
‘-CLARO! EU SÓ PRECISO ACERTAR AQUELA PRESCRIÇÃO.’
‘-TUDO BEM, EU ESPERO.’
REBECA PERMANECEU NO STAR MEDICO. LENTAMENTE FRAGMENTOS DAQUELA NOITE VOLTARAM À SUA MENTE, MAS ELA AFASTOU-OS ANTES QUE AS LÁGRIMAS QUIZESSEM APARECER. HAVIA DOIS DIAS QUE ELA TERMINARA TUDO. PAULO MANDARA FLORES QUE ELA NÃO QUIZERA. SABIA QUE ELE IRIA INSISTIR, MAS A SUA DECISÃO ESTAVA TOMADA. FEZ QUESTÃO DE DEVOLVER A ALIANÇA, DEIXANDO-A NO APARTAMENTO DELE, JUNTO COM AS CHAVES QUE ELES HAVIAM TROCADO CINCO ANOS ANTES. FIZERA ISTO ESTA MANHÃ, ANTES DE CHEGAR AO HOSPITAL. SABIA QUE PAULO ESTARIA DE PLANTÃO E NÃO CORRERIA O RISCO DE CRUZAR COM ELE. POR SORTE, ATÉ MESMO GUSTAVO HAVIA SAIDO QUANDO ELA CHEGOU AO APARTAMENTO.
O TELEFONE TOCOU DESPERTANDO-A DOS PENSAMENTOS.
‘-DRA. REBECA FALANDO.’
‘-OI, REB! COMO ESTÁ?’
‘-OI, AMANDA, INDO. E VOCÊ?’
‘-EU ESTOU ÓTIMA, E TENHO UMA NOVIDADE SENSACIONAL...’
‘-DEU PRO GUSTAVO?’ REBECA GRITOU ANTES QUE ELA PUDESSE TERMINAR A FRASE.
‘-PUTA MERDA! NÃO! DE ONDE VOCÊ TIROU ESTA IDÉIA?’
‘-É QUE NA MINHA CABEÇA, SÓ TEM UMA COISA SENSACIONAL PRECISANDO ACONTECER, VOCÊ IR PRA CAMA COM ELE’.
‘-NÃO FORÇA A BARRA, NÓS ESTAMOS INDO BEM.’
‘-TÁ BOM! O QUE É ENTÃO?’
‘-NÃO DÁ PRA CONVERSAR POR TELEFONE, QUER ALMOÇAR COMIGO?’
‘-BOM, EU ESTOU INDO ALMOÇAR COM A VIVIANE...’
‘-TUDO BEM, ENTÃO ESPERO VOCÊS NO RESTAURANTE, OK!’
‘-JÁ ESTAMOS DESCENDO.’
AMANDA JÁ ESTAVA NO RESTAURANTE QUANDO REBECA E VIVIANE CHEGARAM. ESCOLHERA UMA MESA AFASTADA DO MOVIMENTO E PEDIRA UMA ÁGUA, ENQUANTO AGUARDAVA ANCIOSAMENTE A AMIGA.
‘-OI!’ CUMPRIMENTOU JOVIALMENTE REBECA, ABRINDO UM SORRISO.
‘-OLÁ, AMANDA! VI UMA FOTO SUA NO JORNAL COM AQUELE GALÃ. VOCÊS ESTÃO MESMO NAMORANDO?’ PERGUNTOU CURIOSA VIVIANE.
‘-ESTAMOS SIM.’ AMANDA SORRIU AO RESPONDER.
‘-ME DESCULPE, MAS ELE É UM GATO, NÃO!’ FALOU VIVIANE.
‘-É MESMO.’ FALOU REBECA.
‘-EI, VOCÊS, QUE INTIMIDADE É ESTA COM O MEU NAMORADO?’
AS TRÊS RIRAM DA BRINCADEIRA.
‘-QUAL É A NOVIDADE?’ PERGUNTOU REBECA.
‘-O DEPARTAMENTO DE CARDIOLOGIA VAI RECEBER UMA DOAÇÃO DE UM MILHÃO, POR ESTES DIAS.’
‘-UM MILHÃO!’ FALARAM REBECA E VIVIANE, QUASE AO MESMO TEMPO.
‘-ISTO MESMO!’
‘-VOCÊS BEM QUE PODIAM DOAR UM POUQUINHO PRA PEDIATRIA.... MAS QUEM VAI FAZER A DOAÇÃO?’
‘-O PRESIDENTE DO BANCO SERRANO. EU ATENDI O FILHO DELE HÁ ALGUMAS SEMANAS EM PCR, E ELES FICARAM GRATOS. ELE QUERIA, NA VERADE, ME PRESENTEAR, MAS EU O CONVENCI A FAZER A DOAÇÃO PARA O SERVIÇO.’
‘-PUXA, QUE LEGAL!’ FALOU VIVIANE.
‘-NÃO FOI SÓ POR ISSO QUE VOCÊ ME CONVIDOU PRA ALMOÇAR?’ E REBECA TINHA UM AR DE INTERROGAÇÃO NO ROSTO.
‘-NÃO DÁ PRA TE ENGANAR MESMO, HEIM?’
‘-NÃO. O QUE É?, DE VERDADE. JÁ SEI QUE VOCE NÃO DEU PRO GUSTAVO...’
‘-REBECA! POR FAVOR!’ AMANDA ESTAVA INDIGNADA.
‘-ENTÃO, O QUE É?’
‘-O PROFESSOR CARLOS HENRIQUE VAI INDICAR MEU NOME, NA PRÓXIMA ESCOLHA DE PROFESSORES ADJUNTOS.’
‘-PUXA! QUE GRANDE NOTÍCIA, AMIGA. VOCÊ SEMPRE SONHOU COM ISTO! PARABÉNS!’
‘-PARABÉNS!’ FALOU VIVIANE
‘-EU ESTOU SUPER FELIZ!’
‘-QUANDO É A SELEÇÃO?’ PERGUNTOU REBECA
‘-PROVAVELMENTE, DAQUI A UNS DOIS MÊS.’
‘-QUAIS SÃO AS SUAS CHANCES?’
‘-O PROF. CARLOS HENRIQUE ACHA QUE É PRATICAMENTE CERTO, POIS A CARDIOLOGIA ESTA COM DEFAZAGEM DE PROFESSORES.’
‘-ENTÃO VOCÊ ENTRA, COM O SEU CURRICULO, E COM O PROJETO DO AMBULATORIO DE HIPERTENSÃO, NÃO TEM ERRO.’ FALOU ENTUSIASMADA REBECA.
‘-COMO É QUE FUNCIONA A INDICAÇÃO DOS ADJUNTOS?’ PERGUNTOU VIVIANE.
‘-REBECA, VOCÊ PODE FALAR MELHOR, JÁ QUE CONHECE O PROCESSO PESSOALMENTE.’
‘-OS ADJUNTOS SÃO ADMITIDOS POR INDICAÇÃO A CADA DOIS OU TRÊS ANOS, DEPENDENDO DAS NECESSIDADES DA UNIVERSIDADE. É MUITO MAIS UMA INDICAÇÃO POLITICA DO QUE QUALQUER OUTRA COISA.’
‘-POLITICA?’ VIVIANE NÃO TINHA ENTENDIDO.
‘-É, NORMALMENTE SÃO TRÊS OU QUATRO NOVOS PROFESSORES, CADA DEPARTAMENTO INDICA UM NOME E AÍ É QUE ENTRA A POLITICAGEM. OS CHEFES DE DEPARTAMENTO JOGAM TODAS AS SUAS FICHAS PARA QUE SEUS SERVIÇOS SEJAM CONTEMPLADOS COM UM NOVO DOCENTE.’
‘-QUER DIZER QUE É MUITO MAIS UMA QUESTÃO DE FORÇA DO DEPARTAMENTO, DO QUE DE CURRICULO DO PROFISSIONAL?’
‘-É ISTO MESMO, VIVIANE. MAS É CLARO QUE O CURRICULO CONTA. SE UM DEPARTAMENTO TEM FORÇA POLITICA, MAS O SEU CANDIDATO É FRACO, ELE NÃO É APROVADO.’
‘-QUAIS SÃO AS OUTRAS FORMAS DE SE TORNAR PROFESSOR DA UNIVERSIDADE?’
‘-O CONCURSO PRA PROFESSOR ASSISTENTE.’
‘-ESTE ACONTECE A CADA CINCO ANOS.’
‘-MAIS OU MENOS, E NESTE CASO É SOMENTE O CANDIDATO QUE CONTA. E TEM TAMBÉM O CONCURSO PARA TITULAR, MAS ESTE É FODA!, ALÉM DE CURRICULO, POLITICA, TEM QUE HAVER INDICAÇÃO, UMA BARRA. E SÓ ACONTECE QUANDO UM TITULAR SE APOSENTA OU MORRE.’
‘-E A BANCA?’ PERGUNTOU AMANDA
‘-É APENAS UMA FORMALIDADE. O QUE CONTA MESMO É A FORÇA DO DEPARTAMENTO E SEU CURRICULO. A BANCA, NA VERDADE FAZ UMA ENTREVISTA AONDE ANALISA SUA CRIATIVIADE, SEU CARISMA, SUA LIDERANÇA E SEU GRAU DE COMPROMISSO COM A UNIVERSIDADE.’
‘-SABATINA MORAL.’
‘-É MAIS OU MENOS ISTO.’
ANTES DE IR PARA O CIC, AMANDA PASSOU PELO DEPARTAMENTO DE MEDICINA DESPORTIVA, QUERIA PREVENIR JULIO DA IDA DAS ATLETAS AO HOSPITAL.
‘-JULIO, BOA TARDE!’
‘-OI, AMANDA. VOCÊ POR AQUI?’
‘-E COM UMA ÓTIMA NOVIDADE. ADIVINHA QUEM EU CONHECEI ONTEM?’
‘-NÃO FAÇO IDEIA.’
‘-MARIA JULIA PIRES, ELA É JOGADORA DE VOLEI DE PRAIA E VAI COMEÇAR A CORRER O CIRCUITO NACIONAL JUNTO COM A LIZ TOMPSOM.’
‘-LIZ, A LEVANTADORA ?’
‘-EI, DE QUEM VOCÊS ESTÃO FALANDO?’
‘-OI, JESSICA! ESTOU DIZENDO AO JULIO QUE ONTEM CONHECI A MAJÚ, UMA JOGADORA DE VOLEI DE PRAIA QUE ESTA CHEGANDO NO CIRCUITO...’
‘-MAJÚ? MARIA JULIA PIRES?’
‘-É, PORQUE?’
‘-EU A CONHEÇO, ESTUDEI COM ELA NO COLÉGIO.’
‘-POIS ELA ESTA VINDO PARA O CIRCUITO NACIONAL JOGAR COM A LIZ.’
‘-COMO VOCÊ A CONHECEU?’ PERGUNTOU JULIO
‘-ELA É AMIGA DO MEU NAMORADO.’
‘-AH! O BONITÃO DA TV?’ FALOU JESSICA
‘-VOCÊ TAMBÉM VIU O JORNAL?’
‘-É CLARO! TODO MUNDO NO HOSPITAL VIU. ESTÁ UMA FOFOCA SÓ’
‘-NÃO ACREDITO? VOCÊS NÃO PRESTAM.’
‘-MAS... O QUE É QUE TEM ISTO? QUAL O MOTIVO DA SUA VINDA AQUI?’ PERGUNTOU IMPACIENTE, E SEM ENTENDER JULIO.
‘-BOM, EU CONVERSEI COM A MAJÚ, ELA E A LIZ ESTÃO INICIANDO UM PROJETO QUE VISA AS OLIMPÍADAS. ELAS JÁ TEM TÉCNICO, NUTRICIONISTA, PREPARADOR FÍSICO, MAS... AINDA NÃO TEM MÉDICO...’
‘-E...’ PERGUNTOU ANCIOSA JESSICA
‘-EU TOMEI A LIBERDADE DE SUGERIR QUE ELAS FIZESSEM O ACOMPANHAMENTO AQUI. NO HOSPITAL,COM VOCÊS, E COM ISTO ACHO QUE PODEMOS TER UMA BOA PROPAGANDA DO SERVIÇO, FIZ MAL?’
‘-CLARO QUE NÃO! GENIAL! PUXA, AMANDA VAI SER MUITO BOM. E SE NÓS CONSEGUIRMOS FAZER UM BOM TRABALHO, COM CERTEZA VAMOS TER MAIS INVESTIMENTOS NO SERVIÇO.’
‘-JÁ IMAGINOU, SE ELAS FAZEM UMA BOA OLIMPÍDADA?...’ PERGUNTOU EXCITADA AMANDA
‘-A LIZ NÓS JÁ CONHECEMOS, E A MAJÚ, QUE EU ME LEMBRE DO COLÉGIO ERA BOA JOGADORA.’
‘-EU PEDI QUE ELAS PROCURASSEM O SERVIÇO AMANHÃ.’
‘-TUDO BEM, VAMOS CUIDAR DELAS MUITO BEM.’
ASSIM QUE CHEGOU AO CIC, ANTES DE COMEÇAR OS EXAMES, O CELULAR DE AMANDA TOCOU.
‘-DRA. AMANDA FALANDO.’
‘-OI, AMOR!’ A VOZ DE GUSTAVO ERA CHEIA DE TERNURA.
‘-OI!’ ELA RESPONDEU COM CARINHO NA VOZ.
‘-TUDO BEM!’
‘-TUDO ÓTIMO!’
GUSTAVO NÃO PODE DEIXAR DE PERCEBER A EXCITAÇÃO E EUFORIA NA VOZ DE SUA NAMORADA, E CURIOSO PERGUNTOU
‘-NOSSA! QUE FELICIDADE É ESTA? SERÁ QUE EU SOU O RESPONSÁVEL?’
ELA ACHOU GRAÇA, RIU E RESPONDEU PROVOCANTE
‘-VOCÊ BEM QUE PODERIA SER, MAS...’
INTERROMPEU A FRASE DEIXANDO O SUSPENSE NO AR E AGUARDANDO A REAÇÃO DELE. ELA ADORAVA BRINCAR ASSIM COM GUSTAVO.
‘-MAS O QUE?’
‘-VOCÊ TEM UMA PARCELA DE ‘CULPA’ NA MINHA FELICIDADE, MAS O MOTIVO DA MINHA EUFORIA HOJE, É OUTRO.’
‘-E... POSSO SABER?, OU É SEGREDO?’ ELE PERGUNTOU CAUTELOSO
‘-NÃO É SEGREDO, MUITO MENOS PRA VOCÊ. EU VOU SER INDICADA PARA O CARGO DE PROFESSORA ADJUNTA DA FACULDADE.’ AMANDA TINHA UM TOM DE ORGULHO E TRIUNFO NA VOZ.
‘-PUXA! PARABÉNS! EU ESTOU MUITO FELIZ POR VOCÊ.’
‘-E EU ESTOU RADIANTE, É UM SONHO ANTIGO. EU SEMPRE GOSTEI DA DOCENCIA.’
‘-ALGUMA CHANCE DE JANTARMOS JUNTOS PRA COMEMORAR?’
‘-TODAS AS CHANCES DO MUNDO.’ ELA TINHA UM TOM SEDUTOR.
‘-ÓTIMO! AONDE VOCÊ QUER IR?’
‘-NA VERDADE, PREFERIA FICAR EM CASA. TEREI UMA TARDE CHEIA, E ACHO QUE NÃO ESTAREI COM PIQUE PARA SAIR. VOCÊ SE IMPORTA?’
‘-DE FORMA ALGUMA, O QUE ME INTERESSA É ESTAR COM VOCÊ. E, SEMPRE SE PODE PEDIR UMA PIZZA, OU UMA CHINESA POR TELEFONE.’
‘-OU... EU POSSO PREPARAR O JANTAR...’
‘-HUM! QUER DIZER QUE ALÉM DE LINDA, SEXY, E INTELIGENTE A MINHA NAMORADA É PRENDADA?’
GUSTAVO FALOU COM TOM DE VOZ JOVIAL BRINCANDO COM ELA.
‘-PRENDADA NÃO, DIGAMOS QUE SEI ME VIRAR. NÃO DÁ PRA MORRER DE FOME.’
‘-ADOREI A IDÉIA. A QUE HORAS DEVO CHEGAR?’
ELA SEMPRE GOSTAVA DA FORMA COMO ELE CONDUZIA AS COISAS, COM ELEGÂNCIA, NUNCA APARECIA SEM LHE TELEFONER ANTES, ERA MESMO UM CAVALHEIRO.
‘-LÁ PELAS OITO, ASSIM ME DÁ TEMPO DE DEIXAR TUDO PRONTO, POIS EU TENHO UMA REUNIÃO DEPOIS QUE TERMINAREM OS EXAMES.’
‘-SE VOCÊ QUISER, POSSO CHEGAR UM POUCO MAIS CEDO PARA AJUDAR?’
‘-E ESTRAGAR O MEU PRAZER DE COZINHAR PRA VOCÊ? DE JEITO NENHUM!’
‘-ENTÃO, ÀS OITO. DEIXA QUE EU LEVO AS BEBIDAS.’
‘-BEBIDAS?’
‘-CLARO! UMA OCASIÃO COMO ESTA TEM QUE SER COMEMORADA EM ALTO ESTILO.’
‘-EU TENHO QUE DESLIGAR, OS PACIENTES JÁ ESTÃO CHEGANDO.’
‘-TUDO BEM, ATÉ AS OITO. BEIJO.’
‘-ATÉ, BEIJO. AH!... VOCE GOSTA DE FRANGO?’
‘-ADORO.’
‘-OK! BEIJO.’
QUANDO CHEGOU AO APARTAMENTO, DEPOIS DA REUNIÃO MENSAL DO AMBULATÓRIO DE HIPERTENSÃO, AMANDA COMEÇOU LOGO A PREPARAR O JANTAR. ARRUMOU A PEQUENA MESA REDONDA DA SALA COLOCANDO SOBRE A TOALHA, PRATOS, TALHERES, COPOS E TAÇAS. UMA CESTA DE PAEZINHOS QUE HAVIA COMPRADO NO CAMINHO, E A MOSTARDA ALEMÃ. DECIDIRA-SE POR UM JANTAR LEVE E INFORMAL. ERA MAIS RÁPIDO E PRÁTICO. PREPAROU A SALADA DE LEGUMES COM ERVAS E AZEITE, QUE ERA UM DOS SEUS PRATOS PREFERIDOS E TEMPEROU O FILET DE FRANGO, DEIXANDO-O A PARTE PARA SER PASSADO NA HORA.
TOMOU UM CUIDADOSO E RELAXANTE BANHO. ESCOLHEU UM VESTIDO DE ALÇINHA, DE UM PANO BEM FINO, COM FUNDO PRETO E DELICADA ESTAMPA QUE ERA APROPRIADO PARA A TEMPERATURA ALTA DAQUELA NOITE DE PRIMAVERA. MAQUIAGEM DISCRETA, PERFUME E ELA ESTAVA PRONTA, E LINDA! LIGOU O RADIO NA SUA ESTAÇÃO PREFERIDA, PREPAROU UM MARTINE E SENTOU-SE NA VARANDA ENQUANTO ESPERAVA.
NÃO DEMOROU MUITO PARA OUVIR A CAMPAINHA DA PORTA. SENTIU O CORAÇÃO SE ACELERAR UM POUCO NA EXPECTATIVA, TOMOU O ÚLTIMO GOLE DO MARTINE E ABRIU A PORTA, AO MESMO TEMPO QUE ABRIA NO ROSTO UM SORRISO ENCANTADOR. GUSTAVO ESTAVA A SUA FRENTE, TAMBÉM COM UM ENORME SORRISO NO ROSTO, E AS MÃOS CRUZADAS NAS COSTAS AONDE ESCONDIA UM BOTÃO DE ROSA VERMELHO, QUE ELE SABIA SER O PREFERIDO DE AMANDA, E UMA GARRAFA DE CHAMPANHE.
‘-VOCÊ ESTÁ LINDO!’ ELA EXCLAMOU, ENQUANTO SE ADIANTAVA NA DIREÇÃO DELE. BEIJOU-O E ENVOLVEU O SEU CORPO COM OS BRAÇOS SE APROXIMANDO DELE.
‘-HUM! ESTÁ CHEIROSO TAMBÉM, QUE GOSTOSO! ESTE PERFUME É DELICIOSO.’
‘-VOCÊ GOSTOU?’ ELE PERGUNTOU COM MALICIA NA VOZ.
‘-MUITO. MAS, O QUE É QUE VOCÊ ESCONDE AÍ ATRÁS? SERÁ QUE POSSO SABER?’ ELA TENTAVA SEGURAR O QUE ELE TINHA NAS MÃOS, ENQUANTO FALAVA.
‘-SE A SENHORITA PARAR DE ME AGARRAR, TALVEZ EU CONSIGA MOSTRAR.’ ENQUANTO ELE FALAVA, RIA FAZENDO PIADA COM ELA.
AMANDA RESPONDEU COM UMA GARGALHADA E DANDO-LHE UM BEIJO, AFASTOU-SE UM POUCO PARA QUE ELE PUDESSE MOVIMENTAR AS MÃOS.
‘-ISTO É PRA VOCÊ.’ E ELE ENTREGOU-LHE O BOTÃO DE ROSA.
‘-AH! GUSTAVO, QUE LINDO! OBRIGADA.’
‘-E ISTO É PARA NÓS BRINDARMOS...’
AMANDA SOLTOU UM GRITO DE ESPANTO QUANDO OLHOU PARA O RÓTULO DA GARRAFA.
‘-VOCE É MALUCO! DON PERGINON! ESTÁ CHAMPANHE É UMA FORTUNA!’
‘-E DAÍ! NÃO É SEMPRE QUE A NOSSA NAMORADA SE TORNA PROFESSORA DA FACULDADE DE MEDICINA. TEMOS QUE COMEMORAR EM ALTO ESTILO.’
‘-LOUCO! VEM VAMOS ENTRAR.’ ELA O PUXOU PARA DENTRO DO APARTAMENTO.
‘-NOSSA! QUE MESINHA ACONCHEGANTE, E... HUM, OS PAEZINHOS PARECEM DELICIOSOS, MOSTARDA ALEMÃ?... ADOREI.’
AMANDA RIU DO AR DIVERTIDO DE GUSTAVO DIANTE DOS SEUS PREPARATIVOS PARA O JANTAR.
‘-EI, QUER PREPARAR ALGO PARA BEBERMOS ENQUANTO EU PASSO O FILET? EU ESTOU MORRENDO DE FOME, E VOCÊ?’
‘-TAMBÉM. O QUE VOCÊ VAI QUERER?’
‘-TEM UMA TÔNICA NA GELADEIRA, QUE TAL ME PREPARAR UM GIM-TÔNICA?’
‘-GIM-TÔNICA? HÁ MUITO TEMPO NÃO BEBO ISTO, MAS ESTÁ UM CALOR DANADO, TAÍ, ACHO UMA BOA PEDIDA.’
ENQUANTO PREPARAVA OS DRINK’S, GUSTAVO PODE PERCEBER A AGILIDADE E DESENVOLTURA, COM QUE AMANDA SE MOVIMENTAVA NA PEQUENA, MAS PRÁTICA COZINHA. ELA TERMINOU COM OS FILET’S DE FRANGO E ARRUMOU-OS NUMA PEQUENA TRAVESSA PRATEADA.
‘-QUER PEGAR A SALADA NA GELADEIRA, GUSTAVO?’
SENTARAM-SE A MESA. ANTES DE COMEÇAREM A JANTAR, GUSTAVO ABRIU O CHAMPANHE, SERVIU AS TAÇAS E PROPOS O BRINDE.
‘-A VOCÊ, A MULHER MAIS LINDA E INTELIGENTE QUE CONHEÇO.’
‘-A UM SONHO QUE SE REALIZA.’
ATACARAM O JANTAR COM VORACIDADE, POIS ESTAVAM FAMINTOS E BEBERAM TODA A GARRAFA DE DON PERGINON. QUANDO JÁ ESTAVAM SATISFEITOS AMANDA FALOU.
‘-VOCÊ ESTÁ LINDO, SABIA?’
‘-E MAIS QUE SATISFEITO. NOSSA!, ESTAVA UMA DELICIA. VOCÊ É REALMENTE PRENDADA, JÁ PODE CASAR...’
‘-COMO EU DISSE ANTES, SEI ME VIRAR. MAS ACHO QUE ISTO NÃO CREDENCIA NINGUEM PARA O CASAMENTO. IMAGINA, PASSAR O RESTO DA VIDA A FRANGO E SALADA?’
‘-PELO MENOS, FICARÍAMOS SAUDÁVEIS E MAGRINHOS.’ FALOU GUSTAVO RINDO
‘-E ENTEDIADOS DA MONOTONIA, TAMBÉM.’
‘-NÃO SEJA POR ISTO! EU COZINHO MUITO BEM, E NÓS PODERIAMOS NOS REVEZAR.’
‘-ACHO QUE NÃO SOU O TIPO DE MULHER QUE SE CONQUISTA PELO ESTOMAGO.’
‘-PRA CONQUISTÁ-LA, EU COZINHO, LAVO, PASSO E AINDA CUIDO DAS CRIANÇAS.’
‘-HUM! A PROPOSTA JÁ ESTÁ FICANDO INTERESSANTE, MAS... EI, O SEU NARIZ ESTÁ CRESCENDO...’ ELA SOLTOU UMA DIVERTIDA GARGALHADA.
GUSTAVO NÃO SE CONTEVE E A ACOMPANHOU, DEPOIS ABRAÇOU-A E BEIJOU-LHE A BOCA.
‘-VOCÊ NÃO ACREDITA EM MIM?’
‘-NÃO É ISTO, SÓ ACHO QUE DEVEMOS IR COM CALMA.’
AMANDA LAMENTOU NÃO TER QUALQUER DOCE EM CASA, E MAIS AINDA TER ESQUECIDO DE QUE PODERIA TER COMPRADO SORVETE NA CONFEITARIA. OFERECEU A GUSTAVO UM LICOR COMO ALTERNATIVA E ELE ACEITOU PRONTAMENTE. ELES ESTAVAM SENTADOS NA VARANDA APRECIANDO A NOITE E SABOREANDO O LICOR.
‘-VOCÊ TEM UMA VISTA MAGINIFICA DAQUI.’
‘-É LINDO, REALMENTE. MAS A VISTA É MAIS MARAVILHOSA AINDA DO MEU QUARTO.’
‘-SERÁ QUE ALGUM DIA VOU CONHECÊ-LA?’ FALOU DESPRETENCIOSAMENTE.
‘-PORQUE NÃO, AGORA?’ AMANDA PERGUNTOU DE SUPETÃO PEGANDO-O DE SURPRESA.
‘-AGORA?! VOCÊ TEM CERTEZA?’ ELE ESTAVA AO MESMO TEMPO CURIOSO E ESPANTADO, ELA SEMPRE CONSEGUIA SURPREENDE-LO.
‘-É CLARO! QUAL É O PROBLEMA EM MOSTRAR-LHE A VISTA DO MEU QUARTO?’ ELA LANÇOU-LHE UM OLHAR MAROTO, E ELE COMPREENDEU. MAIS UMA VEZ ELA CONSEGUIRA CONDUZIR A SITUAÇÃO A SEU FAVOR. ELA SEMPRE CONSEGUIA, ERA MESTRE NISTO. E ELE NÃO PODE DEIXAR DE SORRIR TAMBÉM.
ERA A PRIMEIRA VEZ QUE ENTRAVA NO QUARTO DE AMANDA. ERA AMPLO E DECORADO COM EXTREMO BOM GOSTO, A CARA DELA. UMA GRANDE CAMA DE CASAL COBERTA COM UMA COLCHA AZUL FICAVA NO CENTRO, TENDO EM FRENTE UMA COMODA COM GAVETAS ENCIMADA POR UM GRANDE ESPELHO. SOBRE A COMODA ESTAVA UM PORTA-RETRATO COM UMA FOTO DE AMANDA NA BECA DE FORMATURA, E UM VASO FINO DE CRISTAL COM UM BOTÃO DE ROSA QUE ELE HAVIA LHE DADO HÁ DOIS DIAS. ELE GOSTOU DAQUILO. AMANDA CORREU ATÉ A SALA PARA APANHAR A FLOR QUE ELE TINHA LHE TRAZIDO ESTA NOITE E COLOCOU-A NO MESMO VASO.
‘-PRONTO, AGORA QUANDO UMA MURCHAR, JÁ TEM OUTRA.’
SOBRE A CABECEIRA DA CAMA ESTAVA PENDURADA UMA BONITA PINTURA, MAS ELE NÃO PODE IDENTIFICAR O AUTOR. A PAREDE DO LADO DIREITO ERA CORTADA POR DUAS PORTAS, UMA QUE DAVA PARA UM PEQUENO QUARTO DE VESTIR, E A OUTRA QUE LEVAVA AO BANHEIRO DA SUITE. DO LADO ESQUERDO, A PAREDE NA REALIDADE ERA UMA GRANDE PORTA DE VIDRO QUE SE ABRIA NA VARANDA. AMANDA ESCANCAROU AS PORTAS DE VIDRO E ELES ENTRARAM NA SACADA. ERA AMPLA E AGRADÁVEL, VIA-SE HÁ UM CANTO DUAS CONFORTAVEIS CADEIRAS E UMA PEQUENA MESINHA AONDE SE PODIA APOIAR OS DRINK’S. NO OUTRO LADO ELE NÃO CONSEGUIU IDENTIFICAR CORRETAMENTE O MÓVEL, MAS PARECIA-SE COM UM DIVÃ.
‘-VOCÊ TINHA RAZÃO, A VISTA DAQUI É AINDA MAIS MAGNIFICA.’
‘-ISTO É PORQUE VOCÊ ESTÁ VENDO À NOITE, DURANTE O DIA É UM ESPETACULO COM A BAIA DE SANTA LUZIA COMPLETAMENTE VISIVEL, E AS MONTANHAS. O SOL NASCE ALI.’ ELA HAVIA SE APROXIMADO E ENVOLVEU-LHE A CINTURA COM UM BRAÇO, E COM O OUTRO APONTAVA AS BELEZAS DA NATUREZA.
O CONTATO DOS CORPOS PRÓXIMOS, A CAMA AS SUAS COSTAS, O QUARTO DELA, O FATO DE ESTAREM SOZINHOS, TUDO ISTO ACABOU DEIXANDO-O EXCITADO.
‘-VOCÊ TEM UM BOCADO DE PRIVACIDADE, AQUI.’ ELE FALOU, OBSERVANDO QUE POR ESTAREM NO ÚLTIMO ANDAR E AS MARGENS DA BACIA OCEÂNICA, NÃO HAVIA VIZINHOS QUE PUDESSEM EXERCITAR O ESPIRITO VOYER.
‘-TOTAL, A PRIVACIDADE É TOTAL. ESTE É PRA MIM UM DOS ENCANTOS DESTA VARANDA, LIBERDADE TOTAL.
GUSTAVO ESTAVA SE SENTINDO PERIGOSAMENTE EXCITADO, NÃO QUERIA ESTRAGAR A NOITE QUE ATÉ AQUELE MOMENTO, ESTAVA EXTREMAMENTE AGRADÁVEL. MAS, NÃO TINHA CERTEZA SE AQUELA ATITUDE DE AMANDA NÃO SIGNIFICAVA UM SIM. PORÉM TINHA MEDO DE ARRISCAR, ELE PROMETERA RESPEITAR O TEMPO DELA. ENQUANTO SE DEBATIA NESTE DILEMA, FOI SALVO PELO SOM DO RÁDIO QUE COMEÇOU A TOCAR A CANÇÃO QUE LHES ERA TÃO FAMILIAR, “FOTOGRAFIA”.
‘-EI! A NOSSA MÚSICA! VEM, VAMOS DANÇAR!’ E ELE PUXOU-A PARA A SALA ALIVIANDO-SE DA SUFOCANTE SENSAÇÃO DO DESEJO DE POSSUÍ-LA. SE ELA ESTIVESSE PRONTA, COM CERTEZA, IRIA SE MANIFESTAR. MAS, AMANDA SIMPLESMENTE O SEGUIU, E ELE TEVE A CERTEZA DE QUE AINDA NÃO ERA O MOMENTO DELA.
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